Mente (não tão) sã

- Mula!

Ela me disse, mas eu não sabia por que ela queria o sol, já que era de noite.

Mas ela não estava para negociações, queria o sol mesmo que fosse cor de violeta claro, já que seu gato havia desaparecido. Coitadinho do gato, todo alegre e laranja, cor do vento Mistral nas praias de Mônaco.

Parecia impossível conseguir o que ela me pedia, mas eu a amava, claro, era minha irmã caçula e eu tinha que fazer ela feliz. Choramos o leite que se derramou, mas o sorriso veio como um raio assim que avistamos o elefante colorido. Era tão real que cabia na palma de minha mão.

Quando o chocolate quente ficou pronto eu já pensava que o real sentido da vida eram as flores do campo. Mas acho que me enganei, elas vivem muito pouco e logo morrem. Será que em algum lugar o meu anjo da guarda esta perdido, tentando me encontrar? Seria verdade que a rua de cetim era melhor do que a orquídea azul da cor do mar? Não haveria resposta possível para essa pergunta.

Pouco a pouco eu fui vendo que o melhor seria nunca mais olhar no espelho. Não sei, na hora me pareceu uma boa ideia, pois não veria o envelhecimento que chegava lentamente fazendo minha face parecer um papel amassado ou uma vela derretida. Mas não sei se funcionaria me imaginar com quinze anos. Talvez eu deva comprar um cookie.

A ave do paraíso me avisou que não comesse as nozes do esquilo, ele não gostava que mexessem nas coisas dele, ele sempre me perguntava se tinha um neném aqui dentro. Eu sempre respondia que não, mas ele queria que eu provasse. Mas eu não podia.

Mesmo assim o tucano vermelho gostava do som muito alto. Acho que ele logo vai perder um pouco da audição ou do pouco juízo que lhe resta. Mas a vida é mesmo assim. Não dá pra viver intensamente sem ferver o sangue e esfriar a cabeça. Logo nos encontraremos novamente, quem sabe onde? O melhor mesmo é ir vivendo e levando o gato pra passear no disco voador.

Priscila Pereira
Enviado por Priscila Pereira em 07/08/2014
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