Cadê Aleijadinho?

CADÊ ALEIJADINHO?

 

 

 

 

 

                        Ouro preto... Nome curioso e ambíguo, mas que reflete nossa brasilis gênese tal qual a criação de seu maior herói, Aleijadinho.

                        O valor do ouro certamente não se faz sozinho, isso é lógico, pois que valor um animal daria a um metal de cor amarelo que brilha, nenhum. Porém o valor de algo está sempre ligado à sua escassez e beleza e, principalmente, na sua função social. Do ouro, no caso, de servir como matéria prima de riqueza ao ser transformado não em ouro que já é, mas em dar a quem o é possuidor a liberdade de adquirir quantos bens desejar. Países inteiros se constituíram assim, com ouro, ou melhor, com o depósito desse raro e valoroso metal no banco mundial em troca de proteção bélica e econômica. Contudo pergunto: Qual rei, ou príncipe, foi lá cavoucar com as próprias mãos as rochas duras das minas de ouro? Então o valor de algo não se dá somente pela sua escassez e beleza, ou pela sua função social, mas pela força empregada no trabalho de resgate ou descoberta dessa matéria valorosa, seja ouro, prata, comida, automóveis, aviões, remédios, ou computadores. O homem que trabalha é assim o agente produtor da riqueza e os ricos agradecem! Ao ponto de dar a uma cidade a alcunha de ‘ouro preto’, mesmo porque, é natural de nossa brasilis gênese pagar com gratidão o que deveria ser efetivamente pago. O brasileiro prefere receber um abraço e ouvir palavras calorosas a ser tratado com dignidade (Quem quer dinheiro?). E foi essa gratidão, delirante e apaziguadora que me fez num burrico adentrar em Minas Gerais. Chegando a Ouro Preto, comecei a perguntar, cadê Aleijadinho, cadê Aleijadinho? E nada, só um murmúrio de estudantes mandando eu pra puta que o pariu por interromper os seus sonhos matinais da ressaca da noite passada.

                        Dizem que por detrás daqueles casarões, bailam ao som de batucadas os espíritos dos escravos mortos no trabalho nas minas. Talvez, ouvindo isso, continuei a perguntar e dessa vez gritando a quem quisesse ouvir: cadê Aleijadinho? Cadê Aleijadinho? Foi então que para minha surpresa dois brutamontes não identificados surgiram da esquina trazendo nas mãos pedaços de pau. Não me intimidei. Hei vocês dois! cadê Aleijadinho? Não corri por dois motivos, um: estava sentado num burrico; dois: apanharia pela verdade recompensadora, de tal modo, que não senti dor alguma, posso até dizer, que, algumas lágrimas caíram do meu rosto, ou até mesmo que algumas partes do meu corpo ficaram com sérios hematomas, mas o que importa é que minha perna direita foi quebrada e meu braço esquerdo na altura do cotovelo se partiu em dois. Fui então escorraçado e não sei por que cargas d’água jogaram meu corpo diante dos doze profetas de pedra-sabão. Perguntei a um por um dos profetas: cadê Aleijadinho? Cadê Aleijadinho? Enquanto babava sangue, aqueles totens incognoscíveis começaram a rir e apontar com os seus dedos em minha direção numa conversa misteriosa de sinais. O quê?! Zombam de mim, suas estátuas mortas!

                        Então Paulo com sua verve mais que conhecida falou-me enquanto os demais gargalhavam:

                        - Ora, por que não te callas? Se não fosse pela fantasia de um homem que nasceu pobre, paralítico e sem conhecimento estético e artístico, não estaria aqui! Eu mesmo fui esculpido, da pedra bruta ao perfeito grau de escultura, e por Deus, não reconhece esse milagre? Então, jovem, cala-te, pois não existe tal homem aleijado, ele foi a invenção, a poesia e a construção desse país.

                        Acordei com isso na cabeça e tudo, para minha sorte, realmente, não passara de sonho.

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P.S. Olá, pessoal! Pra quem quiser comentar os meus textos, peço que mande um e-mail doktordrejbah@yahoo.com.br

Desde já agradeço os comentários.

Doktor Drejbah
Enviado por Doktor Drejbah em 31/01/2015
Reeditado em 03/02/2015
Código do texto: T5121359
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