ESPÍRITO DE AVENTURAS

ESPÍRITO DE AVENTURAS

Antes de tudo é bom frisar que morávamos em uma fazenda, no interior do Estado de Goiás.

Quando tinha seis anos, saí sozinho, a procura de aventuras, armado com as piores armas possíveis, a língua, os braços e as pernas. E antes dos primeiros duzentos metros encontrei a primeira: uma revoada de pássaros pretos. Para vencê-los usei duas armas convencionais, gritei alto e atirei pedras. Partiram também gritando e fazendo algazarra; com certeza mangando de mim.

Minha segunda aventura se deu antes de completar meio quilômetro de viagem. Deparei-me com um lobo guará, ou melhor, uma loba, acompanhada de dois filhotes. Não pensei duas vezes, usei minhas armas mais proveitosas no caso, às pernas. Corri como se fosse ganhar os cem metros rasos.

Como havia corrido na direção de volta para casa, não pensei duas vezes, decidi cancelar a procura por aventuras.

Porém a terceira aventura estava por vir. Já próximo de casa topei com uma cobra jiboia, imensa. Não me atrevi a dialogar com ela, pois atinei que nossos idiomas eram incompatíveis. Resolvi empurrá-la com um pé; no que ela meteu os dentes na minha panturrilha, chorei a valer. Relevei sua violência gratuita, deixei-a se revirando, acho que envenenada pela minha peçonha.

Voltei para casa frustrado e humilhado por inimigos que eu nem sabia das suas existências.

P. S. No dia dos pais, numa conversa de família, com todos reunidos, meu pai lembrou-se desta minha façanha.