Clarice ou Clarice triste

Ela desejava. Ah, sim, como desejava que chovesse naquele instante... A felicidade, o descanso mórbido... Ela frente à chuva: chapeuzinho na cabeça, pés descalços, vestidinho frouxo no corpo desajeitado; mãos para trás, comportadas, e o mar vasto... E choveu. Choveu... chuva nova, atada a nada e sem espaços secos. Só ela estava atada àquelas águas, petrificada da bonita contemplação aceita - pois ela decidira aceitar o momento.

Clarice sempre fora Clarice, e nada mais. Nem além, nem aquém. Bem que o dia se parecia mesmo com uma tardezinha típica de quarta-feira chuvosa, com direito à música combinando, e outras coisas mais - Clarice era a causa de si mesma, é bom que fique bastante claro. Mas não adianta, meu bem: as suas lágrimas terminaram por se confundir com a chuva, salgando-a tristemente. Tudo muito triste, muito triste. Pesado demais... Ela chorava de si, triste de si. Enfrentava uma morte profunda e secreta a cada gota solta que lhe caía no rosto a olhar o céu nublado.

Até que a chuva cessou.

Silêncio, silêncio: a chuva cessou. Clarice marcando seus passos na areia, indo embora...

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 24/07/2007
Reeditado em 24/07/2007
Código do texto: T577929
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