O cobertor

Antes de dormir, o Bruninho rezou para Papai do céu, pedindo, como de costume, que tivesse uma boa noite de sono. Sua mamãe estava ali do seu lado, pedindo bênçãos e proteção para todos os dias. Ela sabia que Bruninho não vinha tendo bons sonhos e temia que algo espiritual pudesse estar por trás disso. Terminada a oração, o menino subiu na cama, a mãe o cobriu com todo carinho, ele fechou os olhos e foi abraçado por Morfeu. Dali a pouco, enquanto suas pupilas tremiam, seu cérebro (mais uma vez) o preparava para uma nova aventura maluca. Ele então se viu em seu quarto (como se estivesse acordado). Tudo escuro, porém havia uma névoa estranha que saía do vão da porta do quarto, como aquela do filme Drácula de Bram Stoker. Dali, entretanto, não surgia qualquer vampiro. Lentamente, Bruninho se levanta da cama, afastando-se de sua “proteção”. Ele vai em direção à porta, tremendo de frio. Vira a maçaneta bem devagar, dominado pelo medo e ao abrir a porta, ele se depara com o desconhecido. Ali diante dele estava um vulto. Sua reação não poderia ser outra, senão gritar e correr de volta para debaixo do cobertor, como se esse lhe pudesse salvar do pseudo-monstro. Suas mãos estavam frias e seus olhos arregalados se voltaram para a porta, pois rebeldes que eram, rejeitavam qualquer tentativa de defesa por parte da coberta. Notou então que a névoa havia diminuído e pensou estar seguro. Ainda assim, um tremor tomava conta daquele corpinho magro e indefeso. De repente ele acordou. Notou que suava copiosamente, mas sentiu certo alívio por saber que aquilo fora um sonho. Foi aos poucos se acalmando até que uma voz delicada chegou-lhe aos ouvidos. Aquilo ativou seu temor novamente, intrigando-o muito. A voz dizia: “Socorro! Ajuda!” E continuava: “Preciso falar...” Então, de dentro do cobertor, o menino foi surgindo. Apesar das lágrimas de medo, ele resolveu enfrentar a situação, lembrando-se dos conselhos do avô, que era espírita e lhe dizia para não ter medo, caso algo assim lhe ocorresse. Ainda que estivesse sozinho no quarto, o menino sentia uma presença, o que o fez se lembrar de seu sonho. Não havia mais tremores, pois o medo deu lugar a uma coragem tão desconhecida quanto a tal voz. Foi surgindo em meio ao nada uma mulher de cabelos negros e sorriso tímido e agradecido. Ela se aproximou dele e lhe pediu que rezasse por ela, pois vinha vagando por ali há anos. Seus olhos eram tristes, mas o menino pôde perceber uma luz trêmula saindo de seu peito, como a de uma vela ao vento. O menino, diante daquilo, concordou em realizar o tal pedido, pois sentiu certa comiseração da pobre mulher. Ajoelhou-se novamente e de coração puro, pediu que a tal mulher tivesse paz; que não mais continuasse presa àquela casa. Obviamente que não pediu com essas palavras, mas Alguém lá em cima leu a mensagem como vinda de um terreno cheio de pureza e inocência e se alegrou muito pela atitude do jovenzinho. Ao abrir os olhos, a tal mulher já havia sumido, deixando apenas um cheiro de rosas no quarto. Dias depois, ao comentar o episódio com sua mãe, o menino notou que seus olhos se enchiam de lágrimas, enquanto descrevia a tal mulher. Não entendendo muito bem tudo aquilo, Bruninho perguntou o motivo da surpreendente emoção e ouve algo como: “Bem, a sua tia Bete deve estar em paz agora. Obrigada, filho!” Então os dois se abraçaram, ao passo que o cheiro de rosas voltava, tomando conta da sala. Eles se olharam com alguma cumplicidade, sabendo do que se tratava; não retorno, mas despedida.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 03/05/2017
Reeditado em 05/05/2017
Código do texto: T5988484
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