Sem título

Olho pela janela.

Oh, o que é isso?

Uma mulher sendo estuprada no beco escuro!

Sim, estou ouvindo-a gritar por socorro, por piedade!

Ela grita:

“Não faça isso comigo”

Sim, vejo seu rosto de dor!

Vejo suas mãos se debatendo!

Vejo suas pernas abertas!

Mas...

Não vejo nenhum estuprador.

Forço a vista, até abro a janela.

Ah, se eu tivesse comprado aqueles malditos binóculos na lojinha 1,99 que fica na esquina da Rua Oliveira Bacci...

Fecho as cortinas.

Na minha cama há uma aranha.

Ou, há uma aranha na minha cama.

Tanto faz.

Agora você sabe que tem uma aranha na minha cama e isso é o que me importa.

Mas...

Ela me chama por um nome.

E eu não me chamo Fábio Francisco de Barros.

Não, nunca me chamaram assim. Nem na escola.

Ora essa, nem minha mãe me chamava por esse nome, então por que essa aranha vai me chamar de Fábio Francisco de Barros?

Será que?

Ah, claro!

Entrei na porta errada.

Este não é o meu apartamento.

— Me desculpe, senhora aranha.

Saio.

No corredor, me atormento com uma idéia infeliz.

E se...

Essa não!

Não pode ser!

E se eu tiver uma doença nos olhos que me impeça de ver estupradores?

Neste caso, é bom que eu vá ver um oftalmologista.

Sim, eu vou me consultar com um oftalmologista.

...

— Qual é o problema? – pergunta o homem que é oftalmologista.

— Tem uma aranha lá na minha cama e ela me chama de Fábio Francisco de Barros. O senhor por acaso sabe me dizer de quem se trata Fábio Francisco de Barros?

— Não entendi direito – diz o homem que é oftalmologista – quem te chama por Fábio Francisco de Barros: a aranha ou a cama?

Batuta Ribeiro
Enviado por Batuta Ribeiro em 16/01/2018
Reeditado em 16/01/2018
Código do texto: T6227834
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