Os poderes de Magda

A última vez que lutei contra Magda sai machucado. Não sofri hematomas, nem arranhões típicos de mulheres com problemas psicológicos como ela. Mas sai com o meu coração sangrando, sangrando de dor. Ela não tinha a mínima noção do que estava fazendo. Disse me amar, mas logo depois disse me odiar. Tudo bem, eu sei que entre o amor e o ódio existe um pequeno cordão branco do qual nossos sentimentos estipulam o momento exato de se transmitir. Mas com a Magda era diferente. Ela sabia como me conquistar com aquele sorriso no canto da boca. Ela não era exuberantemente linda, não tinha tantas curvas, mas possuía na alma o que poucas mulheres têm nos tempos modernos: perspicácia. Ela sábia como fazer um homem feliz. E não me refiro ao sexo, me refiro ao cotidiano. Magda era uma mulher imprevisível, a cada dia demonstrava uma personalidade. E confesso que isso me atraia. Nós não tínhamos rotina, ela estava séria pela manhã, ousada no final da tarde, risonha ao dormir. Era lindo nossos momentos, era eternamente lindo. E talvez tenha sido esses nossos momentos perfeitos que provocou nosso término. Em uma bela manhã de primavera Magda acordou dizendo que não me amava, que não queria mais viver comigo e o pior: disse que tinha outro. Essa declaração veio como um tiro no peito perfurando não só o coração, mas o amor que respaldava a essa mulher. Magda acabou comigo naquele dia. Aceitei. Pois como eu disse, ela era uma mulher imprevisível. Um dia nos ama, noutro nos odeia. Ah...mulheres como Magda estão em extinção. Saí para comprar cigarros e beber um pouco, queria esfriar a cabeça depois desse episódio. Deixei em casa todo o amor que eu tinha por ela. Sai decidido que iria voltar e dizer a verdade: que eu também não a amava. É claro que essa não era a verdade, mas Magda nem iria perceber, mulheres como ela são fáceis de manipular. Por serem imprevisíveis acreditam em suas próprias mentiras, e nas alheias também. Ao entrar em nosso apartamento ouvi alguns gemidos, não podia acreditar. Era a voz de Magda com outro homem. Fiquei vermelho de raiva, entrei no quarto e lá estavam eles transando. Mas o que me deixou enfurecido foi o fato do desgraçado estar usando meu chinelo. Ele estava transando com a Magda e calçando o meu par de chinelos! Isso é uma ousadia tremenda! Ninguém, eu disse ninguém usa os meus chinelos sem o meu consentimento. Imediatamente saquei meu revolver da gaveta onde Magda deixava suas roupas íntimas e dei-lhes um tiro em suas cabeças. Sentei na cama, puxei um cigarro e refleti: esse chinelo custou sete reais! Mas que diabos! O que há como o mundo de hoje?