Pensamento rítmico ou Auto-existente

-Talvez, agora mesmo em que a luz de fora ilumina como sol que não atravessa alguns obstáculos e cria-se o muito anterior à luz, a penumbra, sim, daqui posso me levantar, fingir estar ciente do cosmos apenas pela intenção de ter meditado, yoga-contorções, verdades universais, tristezas de música brasileira mais popular e pobre que MPB, uma tentativa de reprisar o sertanejo velho de Euclides da Cunha. Finjo que não gosto desta tristeza solitária e morna que procura frio instantâneo pelo prazer de se aquecer - e então levantar, tomar refrigerante à meia-noite e meia, coca-cola, naturalmente, as bolinhas subindo - digressões irreleva-grotescas, um anseio agudo por possuir o êxtase da brevidade das bolhas de gás que do fundo do copo sobem, explodem, e agora é tudo: estar em formato bolha era a perpetuação da grande ilusão primordial, explodida a ex-bolha pertence ao sempre tudo presente ar, ou ao sempre ar tudo presente...um êxtase meio sexo fraco e rápido, talvez molhado, mas no peito o frio seco de mórbido e sonolento desejo de morte, uma tristeza, deve ser solidão de não poder dividir inteiramente o próprio corpo interno com outro. Homens imaginários ou os que passaram na vista, todos irmãos: todos do meu fingimento de amar, não os amava, era eu, sempre, você não entendeu, eu era eu que era e gozo morto, gozo morto que me fez nascer. Era fingimento de eu, era culpa do gás que estava preso e minha vontade de coca a libertou para seu deus que era o ar, e os poetas antigos árabes do mundo dos gases felizes em seu sarcófago de ar espiralado do sufi-islamiHélio de gases nobres búdicos. E eu era o gás impossível do fundo, não queria explodir, estou esperando uma bomba atômica vinda de Vênus, deve ser mentira, melhor uma de Saturno, planeta que rege meu signo. De coca-cola ao Kinversário, lua auto-existente vermelha, macaco rítmico azul, me too próprio mestre da magia e ilusão, não sei se num eterno desamparo. O primeiro era branquinho, de barba cheia e preta, meio liberal centro-esquerda, quase da minha altura. Graças aos orixás um pouco maior e num abraço minha cabeça deitava no peito recém depilado. Era um fingimento de gostar, acabou que antes de qualquer coisa se aprofundar meu medo desterrou tudo para o fim derrota. Castigo de nazista neo-liberal para ele. Eu li depois algo assim: " e os escravos mortos, o que diriam se soubessem que as dietas de hoje condenam o açúcar que eles plantaram?" Plantaram e morreram, morreram para plantar. Depois de dois dias de cama sofrendo um primeiro amor fingido e tardio, eu escrevi uma carta pessoal de amor de despedida, o que ninguém parece ter se tocado é que tudo que se escreve se torna ficção, se você escreve numa carta 'eu' imediatamente você não existe mais, acabou de morrer, virou imaginação do imaginário. Depois é sempre os amputados alérgicos do norte da Checoslováquia. Era cor de bronze, barba rala com fios brancos que não entenderam a idade do corpo, como uma preparação adiantada da morte e velhice. Era cheiroso, mas exalava cheiro de tensão sexual, de um olhar que me engravidava, no jornal Nacional, informamos o primeiro homem a engravidar na história, um homem gay tem arrebentado a boca do balão da ciência (...) alguns dizem, é a volta indubitável de Jesus. Mas relação conjugal, no jornal nacional não pode falar coisas assim, desse tipo, na cara dura, a cópula, melhor, cópula negada perde o fluxo. Foi embora, dignou-se a se despedir, porém. Fingi amor, mas não me culpe, eu nunca o havia sentido (o selo do macaco é muito brincalhão), ainda não tinha lido Shakespeare, só sabia de sua fama; estava no palco sem saber de nada. Esse foi mais rápido, mais aprendizado, antes dele e durante teve uns outros. Fiquei velha, velhinho, tento relembrar os restos, aí me toco: somos restos, se não de abortos secretos, de espermatozoides somos. Sonho com as oportunidades de amor frágil que tive e neguei, à espera do sincero e real. A evangélica disse que eu tinha pomba gira, aos 13 anos, a mãe de santo disse que a minha era esperta e livre demais, sofreu por amor mas se vingou, oh ewá como se vingou meu filhinho, aos 23 anos. Estou correndo correndo, de um ancient mariner, não sei quantos anos tenho, estou sendo levado ao mar, e nesse não tem Iemanjá. Os anos eu comparo, como tudo, mas olha, ele leu primeiro do que eu. E como eu poderia, o pai era ausente, só mãe e duas irmãs mais novas em casa, virou gay de tanto ver mulher nua, velha maldita, não imaginava ela que enquanto ela fofocava do viadinho da vizinhança o filho dela de 29 anos estava no meu quarto num noivado secreto infantil, trabalhava não-sei-de-que. Foram tantos e tantas coisas no mundo que acabei ficando atrevido demais, mamãe dizia. Se tivessem a coragem de descer ao inferno como eu e William Blake eles veriam... Anémona, foi o que senti no estômago quando o vi, já falo de outro, e na minha idade, você vê, vivemos tendo sustos, os ossos estalam e você para uns momentinhos para ver se vem alguma dor, se quebrou mesmo. Eu já falei que, contudo, meu macaco rítmico azul é muito brincalhão, era um sustinho de osso, um aviso: olha a osteoporose, bicha, te alui criatura, foi o balé que sua mãe não te colocou. É estranho, diz o autor deste qualquer estranho Chevalier, mas a sua sensação de desamparo é ineficaz, há muito que aprendeu a se desidentificar, gosta do vazio da mente que habita. Os natais e finais de ano com músicas diversas lhe enchem de energia humana e triste, então todas sentem o mesmo, e enganam-se confundindo com excitação. Aí ele deita no chão nu, vagarosamente, claro, entra sol, entra lua, até passar a ansiedade (respiração) ( queria saber desenhar (mas do que impor-(música) eu vou morrer (só?))( não importa (porque eu sei que (virá o (o amor)) ( você está velho, as carnes caindo...).).).|||.