Demoeste! Parte 3 - É hoje!

A fama de Jezebel era das piores. E isso não era o pior. O ruim mesmo era saber que havia gente que tinha comportamento pior do que o dela. Dizem que antes de Jezebel nascer, a mãe dela já falava que aquela era um caso perdido. E para comprovar que vaso ruim não quebra, nenhuma das três tentativas de aborto funcionou e nem o fato de a progenitora ter ficado em coma evitou que essa mulher nascesse.

E veio ao mundo para fazer bagunça! Bagunça da feia! Ela vivia perto do saloon, bem ali do lado, em um beco junto aos bêbados jogados, que ela assaltava com freqüência, e onde fazia seu trabalho, a despeito das tentativas do pastor Marshall de retirá-la de lá com reza brava e uns sopapos. Depois que ela acertou ele de jeito, o reverendo deu uma descansada e passou apenas a apresentá-la como a filha do diabo na igreja.

- Aquela é a filha da Babilônia! É a mulher que nos condena ao Juízo Final! Toca-la é o pecado! – gritava, para uma audiência cabisbaixa, que pensava muito sobre o quanto sofreria no inferno.

Jezebel era uma puta barata. Não cobrava muito, pois misturava o trabalho com o lazer. De um modo torpe, achava que cobrar tão caro sobre algo que adorava fazer estava meio que errado. O destaque dela, com seus cabelos ruivos e os olhos negros como a bunda do diabo, estava no modo como deixava os homens pequenos e insignificantes. Fazia isso com todos e eles sempre voltavam a procurá-la.

Ela já havia se tornado um patrimônio cultural em Sand City, quando Kruger passou a ficar verdadeiramente infame na cidade. Os dois se esbarravam com freqüência no beco, pois ali era quase a cama em que o pistoleiro acordava todos os dias.

- Bom dia, minha dama! – dizia ele, sempre cortês ao passar a mão na bunda dela.

- Some daqui, seu bêbado! – gritava ela de volta, deixando as marcas dos dedos mais expressas no rosto dele do que gado marcado.

Ele insistia e foi então que criou uma problemática com Rob a Bala Perfeita. Acontecia que esse outro pistoleiro era irmão de Jezebel e já havia falado algo muito sensato para Kruger:

- A vagina de Jezebel é uma empresa privada. Ela deixa entrar quem quiser e ela não quer você lá.

Talvez Kruger estivesse bêbado demais para ouvir ou simplesmente obcecado demais por ser o único homem em um raio de oitenta e nove quilômetros (sem contar viajantes ou turistas) que não usufruíra dos prazeres terrenos de Jezebel.

Aquilo virou uma disputa pessoal. A Bala Alcoólica versus a Bala Perfeita, tudo pela Jezebel. Sand City esperou por um duelo. Esperou muito ansiosa e até o pastor Marshall fez um discurso sobre duelos e como o mal se destrói, tudo na expectativa de um tiroteio poético ao pôr-do-sol. Mas aí Kruger se embebedou, teve um coma alcoólico e só acordou seis dias depois não se sabe como no meio do chiqueiro do pastor Marshall, abraçado com uma porca que desde então ganhou o apelido de Gesbel.

Depois desse coma, a insistência de Kruger aumentou. Jezebel não queria saber, ela desprezava Kruger, algo que mostra mais uma vez o perfil desse protagonista. Só mudou de idéia depois que o diabo sussurrou no ouvido dela. O demônio da cartola branca passou pelo beco e teve uma boa conversa com a mulher. Depois disso, ela finalmente abriu as pernas para Kruger e foi ali no beco mesmo que o ato ocorreu.

No início, ele achou que estava valendo a pena, mas depois sentiu um vazio imenso. Sentiu-se pequeno e percebeu o quanto era apenas um grão de areia no meio da criação divina. Não era nada mais do que um ser minúsculo. Um mero traço dentro de um desenho maior. Sentiu-se então arrependido e finalmente entendeu uma verdade maior... O apelido de Jezebel era literal.

E no meio de sua filosofia vaginal, Kruger foi surpreendido. Rob a Bala Perfeita apareceu na entrada do beco e gritou:

- Kruger, você está fodendo a minha irmã!

“Fudido estou eu”, pensou o pistoleiro quando viu o revólver de cano dourado apontado para ele. Foi com um beijo molhado com bafo de álcool que ele se despediu de Jezebel e foi pro Inferno com um tiro nas partes baixas, dois num coração vazio e um na cabeça só para garantir que ele não viraria zumbi (Rob era supersticioso com essas coisas).