Maldição desconhecida

Era uma fazenda estilo colonial, enormes plantações com várias leiras de cultivo do café, engenhos de cana-de-açucar, o terreiro, os grilhões e o tronco onde vários escravos receberam, a um século atrás o corretivo que os senhores de engenho impunham. Nos pastos, várias vacas de leite, um enorme enorme pomar, chiqueiros de porcos, galinheiros, enfim, muita fartura...

A família Paula Souza era rica, típica família paulistana quatrocentona, que fizera fortuna com o café e com a exploração do trabalho escravo, posteriormente de imigrantes italianos e japoneses.

Certo dia, passou pela Fazenda um mascate, provavelmente de origem sírio-libanesa, que reuniu a família: o patriarca José de Paula Souza, a esposa Ana e a filha Natália, garota de 11 anos na grande sala de visitas e começou a ofertar suas mercadorias: seda pura, jóias em ouro, bonecas de louça, bilelôs, quadros, prataria e até uma máquina de costura, novidade que só se achava no estrangeiro. A matriarca da família analisava cada peça atenciosamente, e de repente, viu um quadro, em uma bela moldura dourada cuja tela reproduzia a imagem de um menino chorando, no qual se retratava uma única lágrima rolando em um rosto pueril, muito realista, perfeito e Ana não conseguiu resistir...

Pediu ao marido, e este o comprou, apesar do preço elevadíssimo, meio à contragosto, mas o deu de presente para a esposa.

A esposa escolheu o local, e o pendurou na sala de leitura, onde a filha única recebia uma educação refinada.

Passados alguns meses, a filha do casal foi acometida de uma febre súbita, a menina chorava, delirava, acordava gritando e dizendo coisas incompreensíveis, parecendo uma língua estrangeira, françês ou alemão, talvez...

Chamaram o médico logo cedo, este a tratou, fez baixar a febre, conseguiu fazer com que ela bebesse um chá e umas torradas e se foi ao cair da noite.

Na madrugada, a mãe foi até o quarto da menina, e quando chegou, a mesma não estava na cama, e a janela encontrava-se aberta. A mãe num grito de pavor chamou o marido, e este chamou vários empregados que se dividiram e saíram com lampiões para procurar a garota.

Logo encontraram-na próximo ao galinheiro da fazenda, sentada, com a cabeça entre os joelhos e quando a pegaram, a mesma estava com uma galinha nas mãos, a boca toda manchada de sangue e puderam ver que a mesma estava bebendo o sangue da ave.

Quando olharam em volta, dezena de aves mortas, com o pescoço dilacerado e totalmente sugadas...

Pegaram a menina, que esbravejava, e com uma força quase sobrenatural, tentava se desvencilhar dos homens.

Chamaram o padre da paróquia, que prontamente foi até a casa e vasculhou todos os cômodos, atrás de possíveis amuletos ou livros satânicos ou sobre ocultismo.

Desconfiaram de trabalhos de magia negra, dos antigos escravos, ou de alguma praga antiga, proveniente dos trabalhadores que foram maltratados pelas gerações anteriores da família Paula Souza.

Nada foi descoberto. O padre, que se chamava Vicente Tortorello, estudava o caso, tentava achar uma pista e nada conseguia. Já a garota, urrava feito uma fera e quando se acalmava, olhava para o vazio, com lágrimas correndo uma a uma em sua face já pálida devido ao sofrimento.

Quando descuidavam, a garota ou pulava a janela, ou corria ao porão, matando e sugando o sangue de qualquer ser vivo que passava em sua frente, porcos e galinhas no quintal; ratos e morcegos no porão, então, passaram a amarrá-la na cama, causando forte sofrimento em todos os habitantes daquela estância.

Certo dia, Padre Vicente, que fizera da sala de leitura seu recanto de estudos, olhou fixamente para o quadro e ficou atraído pela bela imagem do menino que chorava, uma obra de arte sem igual e realista, porém, subitamente o padre sentiu um forte zumbido nos ouvidos, posteriormente uma onda de calafrios percorrendo seu corpo e quando olhou novamente para a imagem, viu a imagem de Natália no lugar da do menino.

O padre então, chamou os pais e disse que o problema estava no quadro, que algo de ruim tinha naquela imagem tão bela, porém tão estranha.

A tela foi arrancada da moldura e o padre a levou consigo, para ser examinada pelo alto escalão da Igreja Católica e por Freis Beneditinos.

A menina voltou ao seu estado normal, e não se lembrava de nada do que havia se passado naqueles dias de horror para sua família.

Contudo, várias imagens parecidas foram encontradas em várias partes do mundo, e várias crianças sofreram maus súbitos, algumas cometendo inclusive suicídio.

FIM.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 15/05/2008
Reeditado em 16/05/2008
Código do texto: T990737
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