O Ditador (parte 2)

Capítulo Um.

O dia amanheceu na base ao som de tiros, era o treinamento do tenente e sua equipe especial. O desempenho do tenente estava cada vez mais impressionante, havia feito 700 pontos, que correspondia a seis tiros exatamente no meio do alvo e dois muito próximos ao meio, fazendo cem pontos seis vezes consecutivas e cinqüenta duas vezes.

– Parabéns tenente – disse Colin, sargento e subcomandante da divisão especial – está chegando à perfeição.

– Pra você pode estar bom, mas não o suficiente para mim. Eu tinha que estar perfeito há muito tempo, precisava ter feito 800 pontos – respondeu Wilhelmsom.

– Calma, pra que tanta exigência assim? A sua pontaria está ótima, acertou em cheio seis dos oito disparos que efetuou, já é mais de 75% do total.

– Eu preciso de 100% todas em todos os treinos, não posso me dar o luxo de errar um sequer numa guerra.

– A guerra acabou há mais de quarenta anos e não me parece que haverá outra nos próximos dez.

– Guerras nunca acabam Colin, elas apenas dão um tempo, temos que estar sempre preparados.

– Não vou mais discutir com você – disse o sargento.

Os dois seguiam para a cozinha com o objetivo de almoçar quando Oliver aproximou-se dos dois.

– Excelente desempenho no tiro, tenente – disse o soldado.

Wilhelmsom não respondeu.

– Hoje ele não está num bom dia para ser elogiado – disse Colin a Oliver – melhor deixá-lo em paz.

– Está bem, não digo mais nada.

Mas mal se desculpou Oliver, Kim chegou repetindo os elogios. Wilhelmsom ficou irritado e foi para sua sala em vez da cozinha.

– O que está havendo com ele? Perguntou Oliver.

– Não sei exatamente, deve ser a pressão que está botando em si mesmo, quer a qualquer custo a cadeira no Conselho Superior. Deve ido estudar agora, geralmente são apenas coronéis e generais que compõem o Conselho, ele quer ser o primeiro a chegar como tenente. Melhor parar de falar e voltar a treinar sua pontaria, está péssima, parece até que tem medo de atirar, não poderá agir assim numa batalha.

– Às vezes tenho mesmo, fico lembrando o meu passado, e não me sinto totalmente seguro para atirar.

– Então o que faz nessa divisão especial? Você tem que atirar muito bem para fazer parte dela.

– Nem sei direito como entrei aqui senhor.

– Pense pelo menos no que você tem que fazer aqui. Eu vou te ajudar a melhorar seu desempenho no tiro, mas tem que prometer que vai se dedicar inteiramente.

– Claro senhor – respondeu Oliver.

Oliver havia perdido um irmão disparando acidentalmente a pistola de seu pai quando tinha apenas dezesseis anos, desde então ele jurou a si mesmo que aprenderia a atirar muito bem para nunca mais correr o perigo de ferir outra pessoa que não seu inimigo. Entrou para o exército aos 19 anos, por insistência do seu amigo, Tenente Wilhelmsom, os dois foram colegas de escola por muitos anos e o tenente sempre o ajudou muito, inclusive no momento pós-morte do irmão do amigo. Dois anos após a ingressão de Oliver no exército, Wilhelmsom o chamou para sua equipe, para que o amigo não se sentisse isolado, sabendo que ele não estava apto para a divisão especial, assumiu todas as responsabilidades da decisão, mas até agora o rapaz não tinha feito nada que pesasse para a carreira do tenente.

E neste exato momento o tenente estudava para a seleção dos oficiais que ocupariam a futura cadeira vaga. O General René Viddon se aposentaria compulsoriamente em alguns meses, Wilhelmsom queria ser o primeiro a integrar o corpo do Conselho Superior no seu cargo, sem ser promovido antes, um gigante número de coronéis tentava concorrentemente, ele sabia que a competição era duríssima e precisaria de uma força sobrenatural para alcançar o sucesso. Durante os estudos alguém bate à porta.

– Estou ocupado – responde o tenente.

– Até para um amigo?

– É você, Coronel? Já abro a porta.

Wilhelmsom levantou-se da cadeira e destrancou a porta.

– Então, posso entrar?

– Fique à vontade, afinal, a sala já foi sua. Qual o motivo de tão surpreendente visita?

– Vim te avisar algo importantíssimo, o estado de saúde do General Viddon está péssimo, os demais membros estão pensando em antecipar as provas do processo seletivo.

– De fato a notícia é delicada pra mim, não sei se terei tempo suficiente para treinar tudo, afinal tenho que comandar a minha divisão.

– Foi isso que eu pensei antes de vir falar com você. Só há uma saída, desvincular-se da Divisão Wilhelmsom temporariamente e deixar Colin no comando.

– Não sei se ele está pronto para essa responsabilidade.

– Por que não? Ele já o subcomandante da equipe.

– Mesmo assim, acho que falta mais pulso firme dele para a função. Por favor, deixe-me ficar no comando, prometo que conseguirei lidar com as duas coisas ao mesmo tempo.

– Faça o que quiser. Ah, você foi convidado para mais um julgamento, espero que repita o desempenho da experiência anterior.

– Darei o melhor de mim.

– Ei tenente. Vá almoçar! Não dá pra estudar de barriga vazia.

– Bem lembrado, já vou.

Chegando à cozinha, o tenente encontrou toda a equipe lá.

– Por que não almoçaram ainda? Perguntou Wilhelmsom.

– Esperávamos por você – respondeu Colin.

– Achou que mataríamos a fome sem o nosso comandante? Perguntou Oliver.

– Vocês deveriam estar se preparando, tem treino daqui a meia hora.

– Pois é, mas antes achamos que tinha que fazer outra coisa – respondeu Colin, estalando os dedos.

Os cozinheiros trouxeram um bolo onde estava escrito o nome do tenente, foi aí que ele acordou, tinha esquecido o próprio aniversário devido a toda essa preocupação com seu objetivo. Wilhelmsom abriu um sorriso, não conseguia acreditar naquilo.

– Feliz aniversário tenente – disse Oliver, em seguida deu um abraço em seu amigo de infância – você vai conseguir essa vaga no Conselho.

Depois foi a vez de Colin dar felicitações ao tenente e logo em seguida, Kim e outros quatro soldados da companhia.

– Agradeço muito a lembrança de vocês para esta data, já que eu não consegui mesmo. Agora, vamos treinar.

Em quinze minutos estavam todos na arena de paintball para um treino de rotina, mas não era uma arena comum, era muito maior do que qualquer jogador já havia visto. A equipe entraria em campo por cima, com os adversários já posicionados, apenas esperando. Wilhelmsom repassou com a equipe toda a tática antes de começar oficialmente o plano, todos estavam cientes de suas responsabilidades. Colin foi o primeiro, após pousar, correu para um muro de aço próximo à bandeira da equipe. Logo vieram Oliver e Kim, indo diretamente se esconder nas trincheiras laterais da arena, Oliver quase levou um tiro adversário por não ter sido discreto o suficiente. Depois foram mais dois soldados e em seguida desceu Wilhelmsom, que já na chegada acertou um adversário com um tiro certeiro no peito e o tirou da arena. Oliver mirou um alvo, respirou antes de apertar o gatilho, demorou três segundos e foi acertado por um tiro vindo de uma das laterais, logo saiu de campo, o tenente colocou a mão sobre a máscara, fazendo uma expressão negativa de lamentação pela falha do companheiro.

Kim avistou dois dos adversários vindo em sua direção e logo sinalizou para o sargento e o tenente, que rolaram pelo chão e acertaram, na verdade foi Wilhelmsom que o fez, com dois disparos rápidos e certeiros. Restavam três adversários ainda, o tenente mandou os soldados Phillip e Elton avançarem pra procurá-los, os dois foram e acabaram surpreendidos por três inimigos, que ficaram de pé os rendendo, a tática das iscas tinha funcionado. Kim, Colin e o correram atirando, mas erraram os alvos. O sargento e Kim se esconderam em trincheiras, mas o tenente ficou parado em pé e acertou um a um todos os soldados inimigos, sozinho. Após o término do treino, o tenente foi conversar com Oliver

– Não é possível que você tenha feito isso novamente, está há um ano na companhia e continua cometendo erros básicos nos treinos! Onde está sua dedicação para esta divisão? Se continuar assim terei que dispensá-lo! É isto que quer? Gritou o tenente.

– Não senhor, de jeito algum.

– Acho bom mesmo.

Wilhelmsom voltou furioso para o seu quarto. Colin se aproximou de Oliver, que estava com a cabeça baixa.

– Calma rapaz, ele só quer que você esteja entre os melhores. Depois eu converso com ele, por enquanto eu sugiro que você treine e procure melhorar seu desempenho.

Wilhelmsom, deitado em sua cama, atordoado, pensava apenas em uma coisa, o teste para o Conselho Superior, como se fosse o único desejo de sua vida inteira, na verdade, desde que entrou para o exército era a única coisa em que pensava, além de promover cada vez mais a sua divisão até o posto de Companhia Especial de Elite, para isso era necessário três menções por serviços notórios em operações especiais. A companhia dele tinha uma até agora. Uma batida na porta o desconcentrou.

– Quem é?

– Sargento Colin, senhor.

– Entre.

– O senhor está bem?

– Só consigo pensar em uma coisa.

– O Conselho Superior – respondeu Colin.

– Só de pensar no teste já estou enlouquecendo. Mas você está aqui por algum motivo, não?

– Por causa de Oliver.

– Nem me fale naquele fracote. O que tem ele?

– Eu sei que você é superior a mim, mas gostaria de lhe dar uma sugestão. Conversem, vocês são amigos há muitos anos e sei que tem algo atrapalhando seu desempenho na companhia.

– Não sei o que posso conversar com ele.

– Acredito que encontrará o que dizer. A propósito, ele está treinando tiros na academia.

No escritório do Presidente do Conselho Superior, o General Sato e o Coronel Sid conversavam.

– Tem certeza de que esta é a melhor decisão, General? Perguntou Sid.

– Estamos decididos, Coronel, o tenente terá que esperar mais um pouco.

– Mas por quê? Acha que o desempenho dele não é bom o suficiente?

– Não gostamos da decisão dele no último júri.

– O da deserção?

– Não, este foi o penúltimo, falo do caso do assassinato. Foi contrária ao nosso entendimento.

– Mas o réu foi absolvido por maioria absoluta.

– Mesmo assim, não nos agradou, queríamos unanimidade total.

– É muito difícil de conseguir.

– Mesmo assim. Ele vai querer condenar sempre? Não existe flexibilidade naquele sujeito?

– Eu posso conversar com ele.

– O que nós conversamos não sai dessa sala.

– O Presidente está de acordo com isso?

– Sim , até nos emprestou a sala para a conversa.

Coronel Sid deixou a sala sem pronunciar qualquer palavra e balançou a cabeça como sinal de desapontamento.

Wilhelmsom entrou na academia e viu Oliver ainda treinando, ele estava se esforçando, o tenente pegou uma arma e foi ao seu lado tentar ajudá-lo.

– Em primeiro lugar, eles são alvos, não o seu irmão. Ao contrário, eles servem para serem atingidos.

– Parece muito fácil quando se escuta, mas para você não é um peso dobrado toda vez que segura uma arma e atira.

– Então você tem que tirar o peso sobre suas costas, não foi culpa sua a morte dele. Você não sabia que a arma estava carregada e seu pai nunca deveria tê-la colocado à vista de vocês dois.

– Ele nunca me condenou pelo fato, não precisou, eu imputei a mim mesmo a culpa por tudo durante anos.

– Por que você não esquece e tenta se concentrar no alvo?

Oliver acertou finalmente um disparo na marca central.

– É um começo – disse o tenente – tente acertar mais uns três disparos seguidos no centro

Oliver acertou dois numa série de cinco.

– Tente de novo, até conseguir, não saímos daqui sem você acertar sete em dez tiros.

Após duas horas, Oliver alcançou a meta.

– Muito bom, encontre-me aqui amanhã em às 7h30, treinaremos mais.

– Mais ainda?

– Você não acha que esse treinamento básico de hoje é o suficiente não é?

– Não, claro que não, você tem razão, amanhã cedo eu te espero aqui. Vai estudar agora?

– Claro, agora eu tenho uma meta a realizar e não vou deixar escapar.

Farah
Enviado por Farah em 22/05/2008
Código do texto: T1001032
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