Sobremesa de sangue

Uma das desgraças que invadiu o interior de São Paulo é o Crack, essa droga poderosa já causou muitas mortes na minha cidade.

Certa vez, um velho sitiante, vendo que sua situação financeira ia de mal a pior, resolveu abandonar o sítio que arrendava e se mudar para outro Estado, em que tivesse melhores expectativas.

Acontece, que três de seus porcos, fugiram e ele não conseguiu pegá-los para levar embora, então, um ex-funcionário falou para a "Galera do Mal", que podiam ir lá, "meter a faca no sovaco" dos suínos e fazer um bom churrasco de carne de porco "na faixa".

A Galera do Mal, era uma rapaziada entre dezesseis e vinte e quatro anos, que aprontava o diabo, roubavam, vendiam e pitavam crack feito chaminés...

Eles compraram vários litros de cachaça, cerveja e vinho e foram para o sítio, caçar os porcos. Acharam um, e mataram-no, sapecando, limpando e passaram a degustá-lo...

A Galera do Mal, contava com um cara, uma espécie de líder chamado Carranca, e o Carranca não brincava em serviço, aliás, não bebia e não usava crack. Depois do farto jantar, o pessoal da Galera do Mal, passou a pipar um monte de pedras, e foram ficando todos doidões, quando é fé, o Carranca subiu no fogão de lenha e começou a discurssar:

_É isso aí irmãos, todo mundo já comeu e agora eu vou dizer que o gás de um cagueta vai subir, porque se tem uma raça que eu não suporto é o tal do cagueta...

E todos aplaudiam sua fala, muito loucos...

De repente, Carranca passou a mão no punhal que fora usado para matar o porco, agarrou um garoto de mais ou menos dezesseis anos pelo pescoço e começou a estocá-lo com raiva, parecendo possuído...

Sozinho, ele pegou o moleque que era franzino, carregou nas costas até uns 200 metros da sede abandonada e com uma enxada, cavou uma cova rasa, de meio metro de profundidade mais ou menos e enterrou o garoto, nisso voltou aos companheiros e bateu no peito, dizendo:

_Isso é o que acontece com quem me entrega...esse pilantra pegou umas pedras pra passar, rodou e caguetou minha "biqueira" pros "homi", e se alguém aqui abrir o bico, terá o mesmo fim.

A molecada calou e ficaram todos "de cadeado" bem trancado...

Porém, um dos garotos, muito amigo do que morreu, começou a ter pesadelos constantes com a cena, e não demorou, a mãe dele ficou sabendo do ocorrido, e a polícia, facilmente descobriu a cova rasa e já tinha o nome da maioria dos participantes da festa da morte.

Na hora em que bateram na casa do garoto dos pesadelos, a polícia já chegou intimando e metendo a mão na cara:

_Sabemos que foi você, palhaço, dá a fita logo, que você não é mais menor e vai se foder na cadeia.

Nisso a mãe do garoto interveio, dizendo:

_Conta a verdade Washington, conta como o Carranca matou o Fabinho !

E o garoto disse tudo, que o Carranca havia dado mais de trinta facadas no moleque e que ainda tinha chutado a cabeça dele feito bola, na frente de todo mundo.

A polícia, não deu nem tempo do Carranca respirar, e pegaram ele arrumando a trouxa para se mandar.

Só que ele, de dentro da cadeia já mandou um "pipa" avisando para o garoto Washington, que fez uma nova tatuagem na cadeia, em homenagem a ele, onde se lê: "Odeio caguetas".

Notas:

"meter a faca no sovaco"=apunhalar o coração

"na faixa"=gratuitamente

"biqueira"=boca de fumo; ponto de tráfico de drogas

"homi"=policiais, agentes de segurança em geral

"ficar de cadeado"=guardando segredo

"pipar"=pitar, fumar

"pipa"=bilhete despachado de dentro da cadeia

BORGHA
Enviado por BORGHA em 02/06/2008
Reeditado em 13/06/2008
Código do texto: T1016193
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