O QUINTO HOMEM - parte 13

17:42

1°. DP. de Florianópolis

---- Pois ‚ Alécio, eu ainda não sei em que merda me meti, mas quem sabe, você possa me ajudar?

--- Eu te ajudar? Tá maluco?? Quem você pensa que é, porra? -- o homem negro por detrás da mesa se ajeitou na cadeira, parecia que tinha um ninho de formiga, ficava girando a cadeira de um lado para outro.

--- Pô, cara, que é isso? não tô pedindo muito, só uma ajuda, deixa eu dar uma olhada no que você tem sobre o velho, lá perto do Motel?

--- Sabe bem que essas informações são confidenciais, não sabe? Então porque insiste? Se alguém sabe que você veio até aqui, só prá me pedir isso, meu pescoço está na corda!! O que você quer saber especificamente? - disse, olhando para os lados, vendo se ninguém, o ouvia.

--- é isso Aí! sabia que você não me deixaria na mão!! - disse Marcelo sentando-se na cadeira junto a mesa, de frente para o delegado Alécio.

--- Seu safado, eu me lembro daquela vez, que você me tirou daquele fuzuê em frente aos agricultores em Angelina. Mas não aproveita muito não, viu? Tô até aqui de serviço. - disse apontando para uma pilha de papéis em cima da sua mesa.

---- Que é isso, só fiz meu dever.-- Marcelo sorriu.--

--- Tá , diz ai o que quer, que eu vou ver se consigo.

--- Quero o diagnóstico do pós-morte do velho... quero também que me consiga o laudo pericial do ataque ao carro em Itá , que deve estar com a Polinter..

---- Quero, quero!!! Que merda.. já te disse vou ver se consigo, não prometo nada!!

--- Tá, tudo bem! Faz uma forcinha, e vê se na ficha do planalto tem algum segurança chamado Ângelo..

--- Planalto? Palácio do governo? --- fez cara de espantado - Que é isso cara? não tá indo longe de mais?

--- Faz isso pra mim tá? Faz ?

---- e a palavrinha mágica?

---- Faz favor!! - disse erguendo-se. Estiveram falando em voz baixa todo tempo.

---- Vou ver se consigo, porém a lista dos seguranças é meio complicado.

---- Tá . Ah, que futebolzinho feio o do teu time hein?

---- Que é isso cara, ainda vamos ser campeão, vai ver!

---- com aquele time? Duvido!

---- Quer apostar? Uma caixinha de gelada!! Tô jogando!!

---- feito!!

Saiu da sala rindo.

Tinha que passar no Hospital ainda.

Droga, pensou olhando para onde deixara o carro estacionado, bem que podia ter me dado outro carro, qualquer um menos esse..

Entrou no carro, bateu a porta, e sentiu o carro todo tremer.

Esperava que pegasse. Quando saiu da garagem levou um susto, o carro demorou pra pegar.

Girou a chave, nada. Tentou de novo. Uma, duas, "pega desgraçado", pegou...

Arrancou pela rua onde os policiais observavam rindo..

Lembrou de Carla .

Ainda não tinha ido visitá-la..

Iria mais tarde..

Tomou o caminho do escritório.

Precisava ver se Giovana tinha encontrado algo sobre os dois políticos mortos em Chapecó.

Algo lhe dizia que ali estava o fio da meada.

Precisava do nome desses políticos. E Queria fazer uma proposta pra Giovana. O difícil era ela aceitar a proposta, se bem que esperta do jeito que era...

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18:50

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----- O quê?! Trocar de carro com o senhor?? Tá doido é?

---- Haa, Giovana, só por hoje, é sério, eu não posso ir até a casa de um político com esse carro, não iria fazer bem pra nossa firma. O visual é tudo hoje em dia, entende? E depois, é só por umas horas, lá pelas onze eu te devolvo!! Que é isso!!

---- Poxa, seu Marcelo, o meu carrinho!! - fazendo-se de dengosa - Tadinho. Não sei não!!

Ele percebeu que ela estava amolecendo.

---- Se você aceitar no Domingo eu te levo no shopping, vamos ver um filme!! Que tal? Haa, eu encho o tanque também!!

---- Cinema?! Sério?? Que filme está passando? - ficou entusiasmada - Mas, eu nunca dirigi um Fiat antes, não é difícil?

---- Que nada Giovana ‚ é fácil, depois de Chevette é o mais fácil de dirigir..- mentiu, sentia a dificuldade na mudança de marcha, o câmbio lá em baixo..

---- E o que eu digo pros meus pais? Meu pai ainda tá pagando o consórcio, coitado!

---- Diz a verdade, que me emprestou o carro até as onze da noite, prometo que levo ele lá, inteirinho, e volto com o meu! Amanhã você já vem com o seu..

---- Haa, seu Marcelo, o senhor tem tido tanto azar, sei não..

---- Que é isso Giovana?! alguma vez eu menti pra você? Vamos, me dê a chave..

---- Tá bom, mas leva ele as onze hein, nem um minutinho a mais..

Entregou a ele a chave..

Saiu dali e foi até o hospital.

Levava na pasta os xerox, que Giovana conseguira na biblioteca.

Ainda não lera nenhum deles, eram muitos... ela não sabia qual iria interessar a ele, por isso tirara um calhamaço, conforme ela mesmo disse.

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HOSPITAL CELSO RAMOS - Florianópolis

20:30

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Se identificou no balcão. Pediu sobre Carla e lhe indicaram a o quarto 312.

O cheiro de limpeza impregnava o ar. Cheiro forte. Pinho.

Se perguntava como os doentes agüentavam aquele cheiro.

Mas pelo menos tudo era limpo.

Desceu por uma escada.

As salas de recuperação ficam no andar abaixo da recepção.

Achou estranho, até engraçado. Quer dizer, os doentes subiam, meio caminho do céu, os bons baixavam, andares de baixo.

Um policial, ou segurança, na porta no fundo do corredor, lhe indicou qual era a sala.

Era um alemão, de cabelos curtos, com espinhas ainda no rosto, forte. Na verdade, mais gordo que forte.

Aparentava uns 25 a 30 anos. não mais que isso.

Marcelo se identificou, e pediu se podia falar com ela.

O vigia do quarto abriu a porta sem dizer uma palavra.

Só faltava ser mudo, resmungou Marcelo.

A primeira impressão que teve, assim que abriu a porta, era a de que estava em um apartamento.

O quarto era imenso.

Não imaginava que ela tivesse tanto poder, tanta grana. Talvez a família? sei lá, talvez a empresa, afinal a Eletrosul é enorme, pena que estavam para privatizá-la.

Se aproximou.

Sua mão pendia ao lado da cama. Uma mangueira de soro estava ligada ao seu pulso.

Pegou em sua mão.

Estava quente. Sinal de que estava bem.

Ao seu toque, ela estremeceu.

Fez um resmungo, ele não entendeu..

Lhe acariciou os cabelos. Ela estava de olhos fechados, mas ele pareceu notar um movimento nas pálpebras.

Olhou para seu lindo rosto... com os aparelhos e o soro pela via nasal...

Segurou novamente a mão dela e a trouxe até tocar o seu rosto.

Fez com que a mão dela lhe acariciasse a face.

Sentia-se bem, ali, com ela. Por um momento esqueceu o que estava lhe acontecendo. Queria só ficar ali, com ela, senti-la, sentir seu contato.

Ela fez um movimento com as pernas..

Outro com as mãos.

Ele soltou a mão dela.

Achou melhor chamar a enfermeira.

Saiu na porta, e não viu ninguém a quem pudesse chamar.

---- Droga. -- tornou a fechar a porta--.

Olhou na parede.

Achou o interfone à direita da cama.

Quando atenderam ele informou o n.º do quarto.

Demorou uns cinco minutos até aparecer a enfermeira.

Uma mulher gorda, com chapeuzinho branco. Marcelo achou hilário.

Pediu o que acontecera.

Marcelo lhe explicou. Ela ajeitou o travesseiro sob a cabeça de Carla .

Olhou suas pálpebras. Pegou seu braço e apertou o pulso. Colocou a mão na testa da paciente.

---- Acho melhor chamar um médico.

Saiu dali e veio logo com um médico, apressado.

O médico pediu quem era Marcelo, esse se identificou como um parente dela.

Pediram para ele sair. Ele insistiu em ficar.

Gostaria que ela o visse assim que se recobrasse.

Mas o médico foi taxativo.

Aguardou do lado de fora.

Só agora observou que o vigia se fora.

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--- Acho que foi injetado insulina nela. É alérgica. Ainda bem que descobrimos a tempo. É incrível, até parece que foi de propósito. Ela teve muita sorte do senhor estar aqui. Se demora mais uns dez minutos já ia ter uma crise, que poderia ser fatal.

---- Quem era o vigia que estava aqui fora?

---- Vigia?! que vigia?

---- tinha um homem aqui quando eu cheguei. Pensei que era o vigia dela!!

---- Sr. o hospital é muito pobre pra pagar isso, e a policia só deixa um rapaz ai, do lado de fora, durante o dia. De noite nós temos o vigia na portaria. O Sr. não se enganou? Sei lá, de repente fosse alguma visita do paciente do quarto ao lado.

---- Não!! Tenho certeza. Eu cheguei a falar com ele, me identifiquei.

--- É melhor ver na portaria, no livro de registros. Mas não me consta que tenham posto um vigia aqui, neste quarto de noite. De dia sei que tem, mas de noite...

Foram até o balcão de visitas.

O livro tinha a última visita a entrar com o nome do Marcelo.

Não entendeu e deu graças a Deus de ter ido até ali. Chegara na hora.