Um Conto misterioso - parte 02

Algum tempo depois acordei em um lugar de escuridão total.

Um rádio estava ligado. Mas eu não entendia nada. Drives....sleeping...Inglês!! Era em inglês que falavam... e alguma outra língua, primeiro pensei que fosse espanhol, depois descobri que era Italiano. Apesar de não entender porra nenhuma do que falavam eu sabia que era Italiano, afinal minha mãe e meu pai volta e meia conversavam nessa língua.

Um holofote foi acesso e seu foco luminoso veio bater em meu rosto.

----- Então não quer ajuda financeira para o seu movimento? É isso que devo deduzir Sir.

Percebi que era um sotaque forçado. O cara era estrangeiro. Lembrei de quando uns mormons foram até minha casa quando morava no Saco Grande. Um deles tinha esse mesmo sotaque. Elder Walter. Era norte-americano.

Esse pessoal poderia ser da C.I.A.? Poderiam estar fazendo apenas um teste comigo. Tentando ver até onde eu pretendia chegar? Também poderiam ser Agentes Federais disfarçados, dando a impressão de serem estrangeiros interessados em uma revolução no país.

---- Quem são vocês?

---- “Soldiers Of Fortune”!! Já leu alguma vez? Não fala inglês, mas tem quatro desses exemplares. Porquê? Poderia nos informar?

----- Eu gosto. Consigo ler alguns trechos com a ajuda do dicionário.

----- Sei, e nunca pensou em “trabalhar” como um deles?

Ele disse “deles”, então não era um mercenário. Será? e se fosse apenas mais uma parte do truque?

------ Mercenário? Eu?! Não! Que é isso!! Minha força vem da minha boca, ou seja, da minha mente.

----- No caso, de sua caneta. --- outra voz se meteu na nossa conversa.

Já havia notado, mesmo com o refletor no rosto que havia na sala quatro vultos.

Três eu já conseguira identificar.

Um era o homem que segurava o holofote, o mesmo velhote que estivera comigo na praça XV; o outro era o que fazia as perguntas, e havia agora esse que falara, que pela posição da voz, localizava-se a minha esquerda, provavelmente anotando ou mesmo gravando, tudo que eu falava. Faltava localizar a posição de um deles.

----- Não acha que só papel irá causar grande coisa? Não acredita que isso ai, vai dar certo, acredita?

Me jogou um monte dos nossos panfletos no rosto. Eu não precisava lê-los para saber o que estava escrito. A maioria era de minha autoria.

Eu não conseguia ver seu rosto. O facho de luz impedia.

Meus braços estavam amarrados junto às minhas pernas, na frente do meu dorso. Isso me obrigava a ficar de cabeça abaixada, podendo erguer somente os olhos. Pode acreditar que é uma posição muito desconfortável para se conversar.

-------- Acho que já deu resultado. Só o fato de Vocês estarem aqui mostra isso. -- Eu tentava não demonstrar meu medo, através de frases rápidas e ríspidas. Precisava clarear minhas idéias. Enquanto estivesse falando estaria ganhando tempo. Provavelmente aquela era última oportunidade em vida de falar tudo o que eu queria dizer. Mas suava frio de medo, essa era a única verdade.