O caso do afogado misterioso (parte final)

Estava amanhecendo e a visão da mansão, em seu aspecto abandonado e lúgubre, dava lugar a maus pressentimentos nos corações dos presentes. Melissa e John não souberam como puderam chegar tão depressa, no local onde estava prestes a acontecer outro assassinato.

Ao entrarem no quarto de Archibaldie Fuster, viram uma sombra destacada contra a luz que vinha de fora pronta a golpear e apunhalar até a morte o homem que respirava fracamente, provavelmente drogado. Mas, o que se sucedeu, poderia ser descrito como um pesadelo terrível e sangrento.

A sombra ao ouvir a voz de prisão, dada por John, lançou-se através da janela, deixando atrás de si estilhaços de vidro e sangue. Ao correrem para tentar agarrar o assassino, só o que puderam ver foi um amontoado de tecidos e cabelos e um rastro de sangue no ar. Lá embaixo, uma figura sem rosto caíra sobre a grama, morta...

***

– Agora que tudo passou, Melissa, como descobriu que ela era a culpada? – Perguntou Mike, quando estavam saindo do hospital onde estava internado Archibaldie Fuster, o qual acabava de prestar depoimento.

– Bem, ela deixou muitas pistas... E como havia pensado antes, o crime parecia envolver interesses bastante intrincados. Pensei nisto quando li o nome no casaco e depois vi as iniciais naquela carta. O casaco e o bisturi não se encaixavam. Se não fosse a existência deles, teríamos demorado a descobrir a assassina... Talvez já estivesse longe, quando conseguíssemos ligar os pontos. – Respondeu Melissa, entrando na viatura com o detetive John e o legista.

Assim que o carro pôs-se em movimento, Melissa começou a narrar os fatos como haviam ocorrido:

– Há dois meses atrás, o Srº Archibaldie Fuster recebeu uma carta de uma antiga noiva e, nesta carta, ela contava que ao romperem seu compromisso, ela descobrira estar grávida, mas não quis revelar a ele nada disso, criando o menino sozinha, até aquele presente momento. No entanto, recentemente, ela soube que estava com câncer e, vendo-se à beira da morte, resolveu unir pai e filho. O menino, agora, com 35 anos, aceitou conhecer o pai. Ele estaria em boa situação quando ela morresse, por isso, afirmara na carta que a questão não era dinheiro. Ela se sentia culpada pela separação dos dois e agora queria sanar o erro do passado apresentando ambos. Então, o senhor Fuster, muito feliz em saber que tinha um herdeiro, respondeu-lhe dizendo que os aguardava, mas, quando a resposta chegou ao filho, a mãe já havia morrido e não tendo mais o que o prendesse à cidade onde morava, resolveu ir até o pai. Só não sabia ele que havia alguém que não desejava ver a herança do magnata ser dividida e que acreditava que era por isso que o tal filho havia aparecido...

– Está falando de...? – Interrompeu Mike.

– Elisa Francis Fuster, a irmã do magnata! Ela foi enfermeira por muitos anos, casando-se com um rico médico chamado Carl Archer. Cinco anos depois, o médico morria asfixiado com uma azeitona... O que ninguém sabia era que Elisa havia embebido a azeitona em cianureto. Como nada pôde ser provado, apesar dos vestígios de veneno, Elisa livrou-se da acusação de assassinato do marido e voltou para a mansão do irmão, levando uma vida contrita e bastante amarga. Passou a ajudar aidéticos em ONG’s, utilizando-se de seus conhecimentos de enfermagem...

– Investiguei este caso, mas a conhecia como Francis Archer. Não sabia que este era apenas seu segundo nome e muito menos que seu nome de solteira era Fuster! Bandida! – Vociferou John, com um soco no volante.

– Pois é! Livrou-se ela da cadeia e ainda ganhou uma fortuna como herança! – Completou Melissa.

– Mas não era suficiente ao que parece. Ela também queria a fortuna do irmão e com aquele herdeiro vivo seria impossível conseguí-la! – Concluiu Mike.

– Exato! E para azar dela, quando os dois se encontraram, Elisa não estava na casa, assim, teria visto que o magnata havia dado ao filho de presente um casaco seu de alta costura! E quando foram apresentados, Elisa o tratou muito bem, ela era muito diplomática! Isso tudo aconteceu há três dias atrás e o magnata estava de viagem marcada para New York, no sábado à tarde. Ela foi bastante rápida, agiu com precisão. Eis o plano dela, sua execução e seus erros:

– Na manhã de sábado, disse aos empregados que poderiam tirar o dia de folga, pois o irmão iria viajar e ela queria ficar a sós. Agindo premeditadamente, na hora do almoço, colocou uma alta dose de Trional na taça do Srº Fuster e este, caindo em sono pesado, foi levado para sua cama, no andar de cima, sendo trancado. O frasco com as pílulas foram encontrados em seu armário no banheiro; a desculpa era que ele tinha o hábito de tomá-las sempre. E ela deve ter feito muito esforço para erguer o irmão, mas aquela altura não podia voltar atrás. Em seguida, telefonou para o hotel do sobrinho marcando um encontro no porto, a pretexto de despedir-se do pai que partiria em viagem para o Brasil. Edward Wilson (era este o nome dele), compareceu ao encontro, vestindo o casaco do pai. Meia noite de sábado. Edward, que confiava na tia, não suspeitou do horário adiantado... chegou ao porto e a tia já estava lá. Estranhou a ausência do pai e o fato de não haver mais ninguém ali. Eles iniciam uma discussão. Edward pode ter dito algo que não a agradou e sem pensar, Elisa o ataca com um bisturi guardado em sua bolsa e Edward, tentando defender-se e sem entender o que acontecia, perde o equilíbrio, batendo a cabeça na calçada. É neste instante que Elisa pára e pensa. Lembra da carta que escrevera antes de sair de casa e culpa-se por ter perdido o controle, mas que bom que nada está perdido ainda! Dá curso, então ao seu plano original, enrola um cachecol no pescoço do sobrinho e o asfixia até a morte. Ao perceber o sangramento, lava o rosto do morto, coloca a carta no bolso do casaco protegida por um saco plástico e o atira em seguida na água. Pronto! Estava feito! Agora era só esperar encontrar o corpo e liquidar com o irmão. Não havia nada que ligasse o suicida aos Fuster!

– Era o que ela pensava! – Exclamou Mike. – Aquele casaco é que foi um presente bem dado! E o bisturi, heim? Só podia ser ela mesmo!

– Concordo, Mike! Elisa era desequilibrada, uma sociopata cruel e fria, mas, ao ver tudo acabado, seus planos desfeitos e sua identidade descoberta, preferiu o suicídio a ter que viver na cadeia... – respondeu Melissa.

– Chegamos! – Anunciou John, com um certo azedume, ao ver mais uma vez, aquela principiante roubar-lhe o caso.

– Você é boa no que faz! – Elogiou Mike.

Em resposta, Melissa apenas sorriu, triunfante, ao descer do carro, acenou para John de forma provocante e, mais uma vez, como é de praxe, aquele sorrisinho fez John sentir vontade de matá-la...