ARSÊNICO

Teresa andava desconfiada do marido. Depois de muitos anos casados, era a primeira vez que Miguel não procurava por sexo durante um período tão longo. A dúvida da traição e, principalmente, a abstinência pela qual a moça vinha passando estavam acabando com a sua vida.

Depois de muito conversar com as amigas mais próximas, Teresa finalmente tomou coragem e resolveu investigar a vida do maridão. Aprendeu técnicas de espionagem e, sem que o sacana desconfiasse, passou a segui-lo para cima e para baixo.

Não demorou muito para Teresa chegar a conclusão de que ela era a mais nova corna da cidade. Aquela pulguinha atrás da orelha finalmente havia resolvido aparecer e se mostrava ser muito mais real do que ela mesma poderia imaginar. Ela tirou fotos do casal, registrou entradas e saídas em motéis, gravou ligações e guardou camisas manchadas de batom. Tudo como mandam as cartilhas dos melhores espiões.

Fria como poucas mulheres, a chifruda manteve a calma e decidiu pensar muito bem antes de agir. Ela queria vingança, é verdade, mas ainda não sabia o que fazer. Pensou em sair dando para qualquer homem que passasse em sua frente, mas ela não seria tão baixa assim. Pensou em pegar o marido no pulo, pedir o divorcio e arrancar todas as suas economias, mas o safado não tinha onde cair morto. Pensou em deixar tudo como estava, desde que Miguel acabasse com aquela abstinência sexual. Pensou em se matar, mas ela não daria esse gostinho para ele.

Teresa já não agüentava mais aquela situação quando finalmente teve uma idéia brilhante: arsênico. Ela envenenaria o safado e faria com que tudo parecesse um acidente. Radiante com a solução encontrada, foi até a farmácia comprar o produto.

- Boa tarde, eu queria um vidro de arsênico, por favor.

- Minha senhora, este é um produto muito perigoso...posso saber o motivo?

- Claro...é que vou matar meu marido.

- O que é isso???? Que absurdo!!! Eu não posso participar de um crime...vou chamar a polícia...

- Calma meu senhor...vou matar também a amante dele...

- Ah não, um duplo homicídio...eu não posso concordar com isso!!!

- Mas meu senhor...

- Não tem essa de meu senhor, não...ponha-se daqui pra fora, ou eu chamo a polícia, hein!!!

Muito envergonhada, Teresa tirou uma foto da bolsa e mostrou ao farmacêutico, que ficou espantado ao ver a imagem de sua esposa pelada na cama com um outro homem.

- Mas porque você não me falou antes que tinha receita? Vou buscar o vidro de arsênico agora mesmo, minha senhora.