Um isqueiro e um pavio...

Toda cidade tem seus problemas. E aqui não é diferente de nenhuma.

As drogas invadem todos os bairros da cidade e a molecada começa cedo a fumar o famoso "JOHN", cigarro preparado com o tabaco de cigarro comum e crack triturado. A venda é contínua, o lucro é alto e o poder viciante é grande. O consumo aumenta a cada hora.

Batata era um jovem traficante. Basicamente, nasceu infrator, já que o pai já vendia drogas, além de roubar, receptar e desmanchar veículos. Batata nasceu com o pai preso, e quando o pai foi solto e começou a reerguer o "negócio", Batata foi seu braço direito, junto com seu irmão Neco.

Com 13 anos, Batata comandava a boca de fumo, saía de ônibus e voltava de carro, e gostava de tirar onda...como gostava.

Batata era brigão, andava cantando pneu com os carrões que comprava, enfrentava até a polícia. Neco sempre o acompanhava e por vezes "abraçava" algumas broncas e ia preso no lugar do "cabeça" que nessa altura já era Batata, já que o pai já se achava velho para tanta maluquice.

Acontece que em outro bairro tinha outra facção, uma molecada barra pesadíssima que também não alisava, porém, não saíam de seu bairro e nem ficavam fazendo arruaça em público. Esse outro grupo era comandado pelo Fininho.

O Fininho andava encafifado com o Batata, vivia dizendo:

_Otário, fica pagando de "Boy" na cidade e depois os "polícia roda preta" vem pra fechar todo mundo. Tá sujando minha água, esse f.d.p do Batata...

E Batata ria, bebia rodeado das vadias que eram loucas pelo seu jeito bandido e ainda frequentava as rodinhas da alta sociedade, sendo sempre temido e respeitado por onde passava, já que sua fama era de matador implacável, apesar da pouca idade.

Certo dia, em um show sertanejo, o irmão de Fininho, chamado Nô, terminou por esbarrar em Batata e os dois brigaram feio. Nô estava sozinho e Batata com uns cinco amigos e aproveitaram para humilhar Nô, batendo bastante, inclusive arrancando as calças dele em público.

Era tudo o que Fininho queria. Uma guerra se instaurou e começaram tiros de lá e de cá. Um dia, passaram na porta da casa do pai de Batata, e enquanto o pai conversava com um primo, de dentro de um carro jogaram uma rajada de pistola, matando o primo de Batata.

Não tardou, e Batata foi atrás de um para cobrar o prejuízo e matou um sobrinho de Fininho.

A insegurança estava geral. Ninguém saía, todos vigiando suas casas, trancando suas famílias. As bocas pararam de vender, já que em clima de guerra, ninguém se arrisca a ir comprar drogas. Motos eram paradas, carros eram obrigados a desligar a luz ao chegar em certo local.

Fininho pegava com as duas mãos na cara de Nô e dizia:

_Você vai deixar aquele "tanga froxa" te humilhar na frente dos outros? Não vai fazer nada? Então escuta o seguinte: se você não matar o Batata, não se considere mais meu irmão.

Nô sentiu as entranhas queimarem de ódio e decidiu que mataria Batata para lavar a própria honra e conservar o respeito do irmão.

Fininho colocou duas garotas para começarem a seguir Batata, ver onde ele ia. Se ele fosse a um bar, as garotas ligavam. Se fosse a uma Lan-House, as garotas alertavam com mensagens. E Batata, apesar de andar sempre com um parceiro, nem se dava conta que estava sendo monitorado.

Chegado o dia D, as garotas ligaram para Fininho:

_A bola da vez tá na Lan-House "Altas Horas", no MSN. Não vai sair tão cedo.

Fininho carregou a Pistola .380, tudo com bala ponta ôca, entregou na mão do irmão, beijou-o e falou:

_Vai lá mano, mostra que você é "sangue no zói" !

Nô montou na garupa da XT600 e Fininho foi de piloto.

Fininho parou uma quadra para trás, Nô desceu e foi a pé até a Lan-House. Ao entrar, já viu Batata de costas, usando o computador, sacou a pistola e arrastou o dedo. Disparou 5 tiros, dois pegaram na cabeça, um no monitor do computador e outros dois na parede. Batata caiu inerte. A molecada que estava dentro da Lan-House começou a gritar, Fininho chegou e parou, Nô montou na moto e saíram em disparada.

_"Cortamos a cabeça da cobra", ria Fininho, enquanto fumava um baseado e bebia comemorando com seus companheiros.

Nô saiu para comprar cigarros em um bar e foi alvejado por dois caras em outra moto. Morreu antes de acender o primeiro do maço e dizem que quem matou foi Neco, irmão do finado Batata.

Os dois velórios e os respectivos enterros foram realizados no mesmo dia, tudo observado pela polícia, separados em horários diferentes para não haverem brigas e nem acertos de contas.

E assim o crime vai e vem, matando, deixando órfãos, viúvas e mães desconsoladas. Morre um, e entra outro no lugar - assemelhando-se à lendária guarda de elite pessoal, apelidada Imortais do exércido persa do Rei Xérxes, na qual o soldado morto era imediatamente substituído, dando a impressão que não se conseguia matá-los.

Só que hoje em dia, os soldados do crime estão lutando entre si e disparam a esmo, atingindo a sociedade como um todo.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 08/05/2009
Reeditado em 02/07/2009
Código do texto: T1582399
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