Crime sem testemunhas

_ Você está exagerando! - Tiago andava de um lado para o outro a passos largos mostrando toda a raiva que estava sentindo.

As lágrimas escorriam manchando o rosto de Paola com uma mistura de arrependimento, medo e desespero.

_ Pare de chorar Lola, faça o que tem que ser feito - Camila engrossava a voz para mostrar autoridade e nervosismo.

_ Eu não vou conseguir, eu nunca fui desse jeito.

_ Tem certeza? Porque a garota que me procurou há duas semanas não estava com medo de mudar o jeito de ser e de agir. Onde foi parar aquela história de “faço o que for para tirar aquela idiota do caminho”?

_ Desisti Tiago, eu desisti! Preciso ir embora, deixem-me ir.

_ Muito fácil falar assim não é? O que EU vou falar para o meu pai quando eu chegar em casa com essa arma? Sair no meio da noite sem ser visto é uma coisa, voltar para casa de madrugada com uma arma é outra.

Paola abraçava os joelhos e deixava que os dentes apertassem o lábio inferior.

_ Lola, você tem cinco minutos para arrumar esse cabelo, parar de chorar e entrar naquela casa. A gente passou uma semana trabalhando nisso. Não estrague tudo.

_ Como ela pode estragar uma coisa que foi idéia dela Camila? Responda.

_ Tiago vê se dá um tempo - Camila tentava agradar as duas partes de qualquer jeito, mas estava difícil acalmar Tiago.

_ Se essa menina não pegar essa arma agora e terminar com tudo isso eu é que vou atirar nela. É bom ela começar a se mexer - Paola agarrou o pulso de Camila.

_ Não deixe ele me matar! Por favor Camila.

_ Lola, vamos logo, acabe com isso.

Por dois minutos ela pareceu pensar.

Levantou-se devagar a pegou a arma prateada no chão do galpão vazio.

Não disse nada a ninguém, apenas vestiu a máscara de médico pintada de preto, passou a mão para conferir se o cabelo ruivo ainda estava preso e seguiu em frente, caminhando sem dizer nada.

Com a ansiedade jorrando dos olhos Tiago via a porta do galpão se abrindo e Paola andando com a arma nas mãos acompanhando o balanço dos braços.

Um carro prata estava parado em frente a casa de Luiza.

“Platéia? Ou é apenas do namoradinho idiota dela?” foi acompanhando o rapaz sair do carro e abraçar a namorada que o esperava na calçada.

_ Game over.

Dois tiros rasgaram o vento frio daquela madrugada.

Apenas uma lágrima saiu dos olhos de Paola, no entanto suas mãos agiram rápido e limparam seu rosto.

Voltou devagar para o galpão ainda na mesma postura firme em cima dos sapatos de salto preto envernizados.

Camila e Tiago a olhavam felizes.

Usando da frieza que a dominava, Paola jogou o chão cinza do depósito a sua máscara e a arma.

Deu as costas para os dois e voltou para a rua caminhando devagar e respirando pausadamente.

Ouviam-se os passos do salto batendo no asfalto.

“ Há duas semanas atrás, quando aquela idiota colocou droga na bebida do meu irmão e o entregou para a polícia ela não sabia com quem estava se metendo, espero que agora ela entenda. Espero que agora ela saiba que não deve mais mexer comigo...” a risada final de um crime.

O sangue de Luiza e de seu namorado escorriam pela rua suja e manchavam de vermelho a calçada.

Não existia mais vítima e nem testemunha, somente os cúmplices que ela não veria mais.

Escutou alguns tiros as suas costas e logo em seguida um carro estacionou ao seu lado.

_ Bom trabalho irmãozinho!

Fernanda Ferreira
Enviado por Fernanda Ferreira em 21/07/2009
Código do texto: T1712117
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