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            QUEM OU FALCÃO ?
 
       JÁ COM O EPÍLAGO =  LEIA !!!
 
           De SMELLO
 
            Não era um bairro da classe pobre, embora ali residissem alguns moradores mais simples.
 
Imperavam, todavia, casas confortáveis, de estilo colonial e outras de arquiteturas avançadas.
 
          O relacionamento entre vizinhos era contraditório, exceto a umas quatro ou cinco famílias, não só em razão de um poder aquisitivo expressivo, também em face da beleza e suntuosidade de suas residências. Nessas, o número de serviçais causava admiração. De um modo geral cabiam a certos empregados a aquisição de viveres e o indispensável para atender os afazeres domésticos.
 
         Todos aqueles lares tinham piscinas, churrasqueiras externas e pequenas quadras esportivas.
 
         Observava-se que mesmo com todos os empregados, serviços extraordinários eram executados por estranhos. 
 
         Comumente aos domingos   ou nos feriados, havia um revezamento de pequenas reuniões naquelas casas, tal ensejava um maior esmero nos convescotes, ocorrendo sistematicamente rivalidades.
 
         Vizinhos mais humildes eram obsequiados, dias após os ágapes,  as sobras das iguarias eram distribuídas, determinando, logo nas primeiras horas da manhã, formar-se uma fila no portão de onde ocorrera no dia anterior a festividade.
 
         Dois médicos, um engenheiro e dois advogados se sobressaiam entre os chamados abastados. Como não poderia deixar de ser, aqueles guardavam comportamentos distintos, talvez influenciados pelas profissões ou derivados de maiores recursos.
 
         O Dr. Salomão marcou um grande churrasco para o dia 15 de novembro, convidando seu colega, também médico, Dr. Isaias e o advogado Marconi e as respectivas famílias. Comumente as bebidas usuais os convidados faziam deixar, através dos criados, na casa onde se daria a “churrascada”.
 
        Com antecedência o médico patrocinador reservou no grande açougue do bairro, com seu Joaquim, todas as carnes necessárias, que seriam entregues em sua casa pela manhã, devidamente cortadas e preparadas. Dois dos seus empregados, Berenice e Falcão, foram encarregados de acompanhar tais serviços. 
 
       Berenice, uma mulata sestrosa, alta, cujo físico sobressaia sob o vestiário de doméstica, principalmente pelos lindos seios, gozava de todo prestígio no Açougue
Cruz de Malta, graças às atenções que despertava perante o proprietário. Falcão, comedido nordestino, cumpridor rigoroso de seus afazeres, meio “solteirão”, balançava “suas azas” para a colega, que por ser viúva, com experiência na vida não lhe dava “muita bola”...
 
       Logo bem cedo Falcão providenciou a limpeza geral da piscina, churrasqueira e onde ficariam as mesas dos convidados.      Lucas, da firma de manutenção de tanques aquáticos, não demorou muito para ali estar presente com o equipamento necessário. Sua pontualidade tinha uma razão de ser, admiração por Berenice, que por ter de ver a chegada da encomendada, desfilou à frente do limpador de piscinas, a fim de ter acesso ao portão. Isso bastou para que com largo sorriso a  cumprimentasse e dirigisse um galanteio.
Falcão assistiu a ousadia do rapaz e incontinente, de forma ríspida, o advertiu. Nasceu no momento violenta
“troca de palavras” entre os dois e o aviso de que estava proibido de voltar.   
    Terminado o trabalho, Lucas partiu em direção a Falcão para esbofeteá-lo e, “dedo em riste”, jurou vingança. 
   
    Quem fez a entrega da encomenda das carnes foi o próprio dono do Açougue Cruz de Malta, era a ocasião própria para seu Manoel ver e estar com a linda morena, não queria perder por nada. A conversa entre os dois levou algum tempo e, outra vez, lá estava Falcão demonstrando sua contrariedade.
     De igual modo, PIDÃO retornara à casa do médico, sendo um “habitué” da fila do café da manhã que Berenice servia à vizinhança mais humildes. Pidão fora sargento enfermeiro do Corpo de Bombeiros, uma vez expulso passou a trabalhar numa firma de aplicação de inseticidas, ficara com a psicose de carregar sempre um saquinho de veneno para matar ratos, sob o pretexto de serem muitos.       Ousado e inconveniente, explorando o sentimentalismo, vendo seu Manoel, foi logo dizendo: - “Que está fazendo aí "portuga",

não vê que essa morena não é “mel para sua colher”?  Dotado de privilegiada constituição física, bronzeado do sol, cabelos escuros, olhos castanhos brilhantes, vistoso, se sentia apto a conquistar Berenice.     
Falcão não o suportava, por entender que o ex-bombeiro poderia ter uma atividade, não viver como “esmoler”, bem assim das suas declarações à amada. Vendo-lhe foi logo dizendo: “Vai trabalhar vagabundo”...
 
     Aos pouco os convidados foram chegando, o primeiro foi Dr. Isaias com a família, também admirador de Berenice, deu-lhe acintoso sorriso de carinho e dizendo:
-Trouxe um antiinflamatório para você, mas só comece a tomar após a manifestação do Salomão, pois ele é clínico e eu sou ortopedista. Vamos ver se cessam as dores na “coluna”. Sua mulher, Cacilda, como a vizinha Doralice, fazia restrições a aqueles agrados do marido à empregada. 
 
     A atividade de Berenice tornou-se intensa, atendendo a todos que vieram ao churrasco e verificando se os dois
garçons serviam a contento.
 
     Até que apareceu Dr. Marconi, entusiasta, como os outros, da formosura de Berenice. Após apertar-lhe a mão
com denodada expressão, deixando sua “patroa” Odete de cabelos em pé, perguntou não foi possível ir ao meu escritório ou a Doralice não lhe permitiu sair ? Eu preciso conversar sobre as provas que devemos produzir no processo indenizatório relacionado ao acidente de trabalho de seu falecido marido. Marconi tinha por propósito tirar Berenice da casa de Salomão e levá-la para ser serviçal na sua. Enquanto ali estava não tirava os olhos da linda morena, para contrariedade de Odete.
 
   Aos dois vizinhos, Falcão guardou certo respeito, não se manifestou sobre os galanteios feitos à Berenice. Esperava
uma oportunidade para comentar com Dr, Salomão, possivelmente após o ágape, todavia mantinha seu semblante carrancudo. Ainda assim, resolveu ir aos aposentos de Berenice, ali encontrou as duas garrafas
térmicas do café matinal e o remédio que doutor Isaias
dera à sua colega de trabalho. Ficou indeciso de como proceder, se mantinha ambos onde estavam ou recolhia
as garrafas, xícaras, bandejas e colheres à cozinha, colaborando com a amada.
     Lembrou-se que dias passados comentou com D. Doralice a forma inconveniente como se comportavam
os doutores Isaias e Marconi diante de Berenice. Chegara a falar que ia denunciar tais atitudes ao patrão, Dr. Salomão. Acreditava Falcão que D. Doralice tivesse uma reação, pois sabia da antipatia da patroa em relação à Berenice. Lembrara até que ela proibiu a emprega ficar exposta ao sol no jardim nas suas folgas, bem como banhar-se na piscina. 
 
   Doralice fez ver a ele que esse assunto não era de sua alçada e poderia gerar um mal estar entre a vizinhança. 
 

Falcão se mostrava cansado, ainda deu uma volta pelo pátio e foi para seu quarto.
 
Às horas foram passando, os convidados se despediam para regressarem aos seus lares, isso determinava a presença de Falcão, que permanecia ausente.
 
     Estabeleceu-se a duvida, será que a fadiga do dia de trabalho, fizera com que dormisse. Como Lucas estava no local para qualquer emergência na conservação da piscina, Dr. Salomão pediu que ele fosse ao encontro de Falcão, lhe chamasse, pois sua presença se tornara imprescindível.    
    O “piscineiro” regressou do quarto dele, completamente transtornado, informando aos presentes, em voz alta: FALCÃO ESTÁ MORTO, parece que foi envenenado, porque tem as feições e os lábios roxos, bem como as mãos também roxas e caídas no chão.
    
     Todos correm em direção ao aposento em que permanecia o empregado. Berenice desmaia e mantem choro convulsivo. Dr. Salomão e os dois outros colegas procuram reanimá-lo, em vão nada conseguem. Dr. Marconi mais compassivo, alertava ao dono da casa ser indispensável chamar a Policia, imediatamente, comunicando a ocorrência mesmo por telefone.
 
     Cerca de meia hora chegam ao local, o Dr. Azambuja Mendonça, acompanhado de um detetive e um escrivão. Quase juntos chegaram jornalistas e reportes das TVs.
    São tomadas as medidas policiais de convocação da perícia e remoção do cadáver. Paralelamente as autoridades procedem as primeiras diligências, tomando depoimentos e informações dos presentes.
 
       Instado a se pronunciar o Delegado Azambuja declara
ser prematura qualquer informação sobre o autor do homicídio, esclarecimento que será dado depois dos laudos criminais.
 
    
“AGORA A PARTE MAIS INTERESSANTE DO CONTO” = QUEM MATOU FALCÃO ? (+) RELEIA-O !!! 
GOSTARIA DA OPINIÃO DOS MEUS QUERIDOS
COLEGAS DO RECANTO DAS LETRAS, COM AS RESPECTIVAS JUSTIFICAÇÕES PARA QUE EU
POSSA CONCLUIR .
  
GRATO, SMELLO = ALBERTO F.



EPÍLOGO DO CONTO " QUEM MATOU FALCÃO ".

Submetemos aos ilustres leitores, qual seria o desfecho das investigações relacionadas ao possível CRIME, em face da narrativa, na qual aquele personagem foi encontrado morto em seu aposento doméstico, quando se
realizava um churrasco na residência em que trabalhava.
 

Justo é citarmos o resultado da enquete; QUASE 85 % (83) entenderam que
não houve propriamente crime e sim um SUICÍDIO; os 17% seguiram "pistas
faltas", propositadamente dadas.
 
  O delegado, Dr. Azambuja Mendonça, depois de receber os dois laudos do Instituto de
Criminalista, "CADAVÉRICO" E "PERICIAL DO LOCAL E OBJETOS EXAMINADOS", 
concluiu pelo ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL, atendendo que a vítima se
matara, praticando suicídio, ou teve morte acidental por injerir doses excessivas de medicamento fornecido pelo médico Dr. Isaias a  formosa Berenice, empregada doméstica, que trabalhava no local da tragédia. 
   A racionalidade daquela conclusão, baseou-se nos dois laudos. Falcão fora um extremado admirador de Berenice, mas viu, entretanto, que expressivo número de
outros homens também o eram. Preferiu se suicidar a não tê-la. Outro raciocínio, da
desintencional prática do suicídio, se deve ao fato da advertência que fizera Dr. Isaias
à Berenice, para não tomar a medicação antes de ouvir Dr. Salomão, seu patrão, porque ele era clínico, enquanto o obsequioso apenas ortopedista. Falcão não querendo que nenhum mal fosse causado à sua amada, submeteu o remédio a sí próprio, para ver as
consequências que poderiam advir, assim veio a falecer.
   Por requerimento do Ministério Público, foi aberto inquérito policial contra o bombeiro,que tinha a alcunha de PIDÂO, para verificação criminal de sua participação
no evento, face o constante no laudo pericial, ter sido encontrado no "bule de café" significativa quantidade de formecida, que o mesmo costumava ser portador. Respoderia o referido "esmoler" por tentativa de homicídio. 

EM TEMPO.   Não poderia deixar de divulgar a brilhante conclusão do ESCRITOR PAULISTA = ROBERTO, que veio valorizar este conto, vejamos:

              Amigo Smello! Não restam dúvidas de que com o resultado do Laudo Pericial em mãos, o Ministério Público entendeu que as evidências encontradas,poderiam mudar o rumo das investigações, já a formicida encontrada no bule de café da vítima, leva a crer que Pidão teria participação no cenário do crime. É óbvio que o ciúmes o levou a envenenar o "pobre" do Falcão. Essa seria a minha conclusão ao término da investigações e do IP concluso. Um abrasço. Roberto

                                                                 FIM
smello
Enviado por smello em 02/12/2009
Reeditado em 10/12/2009
Código do texto: T1956945
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