O CHEIRO DO ÉTER

Ao abrir os olhos não teve nem tempo de se arrepender pela bebedeira da noite anterior. Ainda sentindo um gosto amargo na boca, foi surpreendido pelo cheiro forte de éter a nenhum centímetro de seu nariz. Apagou.

Acordou atordoado. Abriu os olhos novamente e só o que conseguiu enxergar foi a escuridão. Não sabia onde estava. Quis gritar, mas a voz não veio. Tentou se levantar, mas percebeu que estava acorrentado. Apagou de novo.

Ao acordar pela terceira vez, finalmente conseguiu perceber uma certa claridade. Seus olhos ainda embaçados não permitiam distinguir as cores, mas já podiam diferenciar o claro do escuro. Ouviu um barulho. Um ronco, quase um grito. Ficaria ainda mais assustado, não fosse o fato deste som ter vindo do seu estômago. Fome, muita fome.

Quando a sua vista se acostumou com o ambiente, olhou para o lado e encontrou um prato de comida que devorou em segundos, com uma fome de quem não come há dois dias, afinal, mesmo sem saber, esse era o tempo que já estava por ali.

Mas o que parecia ser um alivio, virou um tormento. A comida um tanto quanto apimentada gerou uma sede ainda maior que a fome de outrora. A saliva sumiu, a boca secou e o desespero aumentou. De repente, uma porta se abriu.

Sentindo calafrios, pôde enxergar apenas a silhueta de um homem. Tremia tanto que as correntes que o prendiam começaram a fazer um barulho ainda mais assustador que tudo aquilo.

No momento em que aquele vulto entrou na sala, percebeu uma faca em suas mãos. O pavor estava no ar. A tremedeira era incontrolável e o barulho aterrorizante. Os olhos brilhantes mostravam que se tratava de um sádico. A faca com manchas de sangue sugeria que talvez fosse um serial killer. A roupa branca não menos ensangüentada, proporcionava um aspecto de açougueiro àquele sujeito misterioso. A luz se apagou.

- Chega, pára com isso.

- Como assim??

- Isso mesmo...pode parar com essa merda!

- Mas...

- Já falei...não quero ouvir mais nada...

- Essa é uma das minhas melhores histórias...

- Porra Arnaldo, tá assustando a menina!!! Vem cá, filha...

- Mas querida, ela já tem 5 anos!

- Já passou, meu amor...puta merda, Arnaldo, é sempre a mesma coisa...

A mãe saiu do quarto batendo a porta e carregando a filha para dormir abraçada com ela. Ao pai, restou o velho sofá da sala.