VIRANDO O JOGO

Marina era enfermeira no hospital, o único da pequena cidade, morava sozinha numa meia-água que seu pai lhe deixara. No pequeno terreno, plantava umas couves, alfaces e cebolinhas além de um pequeno canteiro onde cultivava algumas ervas, como erva cidreira e outras. Eram cerca de 19 horas quando chegou do trabalho e estava fazendo muito calor ainda. Tomou um banho, preparou um lanche e ligou a televisão. Gostava de ver a novela enquanto fazia o seu lanche. Estava apenas vestida com uma saída de banho, de tecido leve em virtude do calor. O velho ventilador espalhava o ar morno pela pequena peça. Precisava mandar arrumar o som que estava quebrado. Gostava de música e tinha umas amigas que reuniam-se hora em sua casa, hora em casa de uma delas, para tomar umas cervejas, ouvir música e falar dos namorados ou maridos. E claro das outras amigas também. Marina não tinha um namorado fixo, de vez em quando saia com um médico viúvo que já tentara convence-la a morar com ele, mas ela recusava sempre. Gostava de viver só e as amigas preenchiam suas horas solitárias. Costumava deixar a porta da cozinha aberta para entrar um ar, que sempre soprava daquele lado. Estava absorta em seus pensamentos e nem percebeu que uma figura a observava da porta. O estranho, um homem alto e forte, entrou porta adentro e a alcançou em apenas dois passos largos.

- O que você quer? Percebeu então a longa faca que o estranho empunhava e a mantivera escondida atrás das costas. - Fica quieta, senão te degolo! Ela estremeceu e compreendeu que não adiantaria gritar, mesmo porque o pânico que a tomava não o permitiria. O estranho a agarrou pelo braço e arrastou-a para a cama. Jogou-a de costas sobre o leito com a faca sempre ameaçadora muito próxima de seu pescoço.

– Fica quieta que não vai acontecer nada. Ela estava apavorada e pensava que provavelmente não sobreviveria para dar queixa na polícia e nem imaginava como resistir. Era um homem forte e não teria a menor chance, O estranho ajoelhou-se sentando sobre seu ventre a amordaçou-a com o lenço que trazia ao pescoço. Depois amarrou seu pulso direito em uma coluna da cama de ferro e fez o mesmo com o outro. Então lhe rasgou as roupas, despiu-a da cintura para baixo e serviu-se como um bárbaro. Desesperada, Marina repentinamente teve uma idéia que poderia ser sua única saída. Começou a gemer como se estivesse gostando e quase gozando, tentava buscar o rosto ao agressor como que querendo beijá-lo. O estranho percebeu a repentina mudança de atitude e afrouxou a mordaça. Ela então o beijou e murmurou em seu ouvido.

- Não precisava isso, cara. Eu vivo só e sabe quanto tempo faz que não eu não dou uma boa gozada? Você é bom e eu vou querer mais. Sabe? Eu sempre tive essa fantasia de transar amarrada. O Estranho ficou pensativo, largou a faca de lado e falou, - Você não está brava comigo?

– Claro que não. Foi legal e tu até pode ficar comigo esta noite.

- Ta bem! Vou acreditar, mas se tu bobear juro que te mato.

– Pode ficar tranqüilo. Olhe vamos tomar um banho e começar tudo de novo? Percebeu que o estranho estava possivelmente sob efeito de droga, ou era muito ingênuo. Foram para o chuveiro e o estranho parecia feliz com a idéia. Foram para a cama, despiram-se e o estranho começou a abraçá-la.

– Espere agora eu quero te amarrar e quero fazer uma coisa que tu vai adorar.

– O que?

– você já vai saber. Ele permitiu e ela apanhou uma corda de nylon do varal, que guardava pendurada na parede e o amarrou cuidadosamente.

– Espere falou, vou apanhar um óleo especial. O estranho ficou embevecido já antegozando o que aquela mulher tão legal tinha em mente e fechou os olhos. Ela apanhou na cozinha um vidro de clorofórmio que usava para tratar ou fazer cirurgias em pequenos animais da vizinhança. Empapou o pano de pratos e rapidamente jogou-se sobre seu agressor pressionando sobre seu nariz e manteve-o apesar dos movimentos do homem tentando livrar-se. Rapidamente o anestésico produziu seus efeitos e o homem adormeceu. Apanhou agora alguns instrumentos cirúrgicos e calmamente pegou o bisturi e começou sua obra. Tinha habilidade no uso dos instrumentos e só não estudara medicina, porque precisava trabalhar para manter-se. Mas aprendia muito com os médicos seus amigos. Cortou-lhe o saco escrotal e com maestria removeu-lhe os testículos que jogou para o cão da vizinha. Colocou um curativo sobre a incisão para prevenir uma hemorragia ou sangramento capaz de inundar as roupas de cama. Gostava de animais e os vizinhos a chamavam sempre que precisassem de socorro para seus bichos de estimação. O estranho estava completamente gelado e anestesiado, não iria acordar tão cedo. Amarrou-o ainda mais forte para ter certeza de que não iria escapar. Depois ainda fez uma incisão longitudinal em seu pênis. Foi para o chuveiro, tomou um banho demorado, ficou algum tempo diante do espelho, sentia-se de certa forma purificada. Talvez nem devesse contar exatamente o ocorrido, quem sabe deixar apenas por uma tentativa? Bem, mas, isso poderia amenizar a culpa do cretino. Melhor contar a verdade. Pegou o celular e chamou a polícia. Já imaginando o que aquele novo eunuco iria viver nas mãos dos outros detentos. Preso em flagrante, ele não teria como escapar de uma condenação e certamente deveria ter outros estupros para pagar. Bem, iria passar uns bons anos como mulher dos outros presos. Enquanto esperava, pensava sobre os motivos que levam certos homens a tomar atitudes semelhantes. O estranho sobre a cama, não parecia ser um doente mental. Talvez um maníaco sexual. Não era um galã, mas era um homem como qualquer outro e em situações normais não deveria ter grandes dificuldades em conseguir uma companheira, mas o mundo está cheio de malucos que estupram e matam jovens inocentes, ou invadem ambientes matando todo mundo. Em todo caso iria comprar uma arma e não deixaria mais a porta da cozinha aberta. Os policiais que atenderam a ocorrência ficaram espantados com a coragem e determinação com que conseguira resolver a situação e levar a cabo sua intenção de fazer justiça. Aquele, não voltaria a estuprar ninguém, o que por si já se constituía em um castigo insuportável. O novo eunuco foi preso e reconhecido por mais quatro vítimas e testemunhas de pelo menos duas mortes. Condenado a 30 anos, “suicidou-se” um ano depois na penitenciária onde cumpria pena.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 14/04/2010
Código do texto: T2196460
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