Outra Crônica Suja Pelo Mesmo Autor

E outra vez o papai aqui estava com a batata quente para descascar.

Cinco presuntos em seis meses. No mesmo bairro metido a besta e cheio que riquinhos mimados que não se preocupam com o dinheiro e só querem é saber de “curtição”. Curtição é a casa do caralho, porra! Entopem-se de birita cara, “bala”, pó e acham que o mundo acabou? E essas menininhas deslumbradinhas, então? Para elas qualquer pé de galinha é um banquete, amigo. E com talher de prata e tudo...

Renato Campos falando. Outra vez. Cronista policial, no dizer do meu “descolado” chefe de redação. Porque usei essa palavrinha? Porque ele a repete “n” vezes por dia. Não sei o que significa ou que ele quer que signifique. Sou das antigas e não coloco minha mão em lugar nenhum. A não quer que o dono do jornal mande e aí eu obedeço. Ele pode e eu preciso. Essa é lei da selva urbana. Uma delas. O código não escrito é o que vale na prática. Seja no trabalho, no aconchego de seu lar rodeados de seus familiares escrotos, no trânsito, na universidade ou no hospício e no xilindró. Só quando você aprender as regras implícitas é que poderá ter um arremedo de vida e não um eterno suplício. Estou filosófico, hoje? Pode ser. Duas noites em claro. A molecada chega sábado à noite e desgoverna e sobra pra quem? Biduzão! Bem, eu estava falando das gatinhas gostosinhas com suas roupinhas transadas e miolo de pão dentro da caixa craniana. Essas são um problema só. Várias mortes estúpidas poderiam ser evitadas se elas se conscientizassem de uma vez por todas que elas não têm o fígado que imaginam ter e que a coisa mais horrorosa do mundo é mulher caindo de bêbada e dando vexame daqueles de corar o Carlo Malta, aquele mané. De longe, lindas ninfas perfeitas com seus penteados de salão de beleza e seus corpos esculpidos em academias. De perto, você sente vontade de comprar um fuzil de combate, cavar uma trincheira e fazer tiro ao alvo nas moçoilas. Simples assim.

Claro que eu sempre lia os pasquins da concorrência. Para seguir a minha linha de raciocínio. “Polêmico”. Sei que sua língua está coçando para me acusar disso aí. O termo é impreciso e se perde por si só. Eu quero mais é vender jornal para o patrão e que ele coloque o que me é devido na minha conta bancária. Nunca me preocupei com justificação. Na minha profissão é que os colegas mais fazem. Gastam laudas e laudas para explicar o inexplicável e quando finalmente encontram os chifres das cabeças dos cavalos tremem de pavor feito um ginasiano encurralado num muro e tendo que enfrentar os grandalhões da escola. Prefiro trabalhar do meu jeito que é como eu me expresso melhor. Então só para resumir em que eu estava me concentrado lá vai uma pequena explanação: a noite dos gatos pardos, lugar pretensamente chique. Casa cheia. Claro. Muitas doses, litros, cervejas vendidas. Temperatura em ascenção. Luzes estroboscópicamente cegantes, bate estaca atordoante, excitantes rolando solto, seguranças broncos prontos para mostrar serviços, garçons espavoridos. Entrada custando os olhos da cara. Pronto. Isso sempre entorna o caldo e ferventa o pirão. O playboy bem nascido, esses monstros periculosos que a burguesia alimenta cheio o rabo de vodca, deixou cento e trinta pratas no cartão de débito da conta da casa e levou alguém para algum lugar. Não foram longe. Ao lado do campo do Atlético a Policia Militar encontrou o corpo sem vida crivado de balas, debruçado ao volante de seu carro de luxo e sem os seus documentos ou pertences pessoais. Até aqui apenas mais um caso de latrocínio. Artigo 157, parágrafo terceiro do Código Penal Brasileiro. Até rima, não é. Mas param mim aquilo parecia que ter gatos na tuba. Os tiros tinham sido disparados do banco do carona e até um estudante de primeiro ano de direito poderia constatar isso. E a polícia – como sempre – indo na contramão do bom senso no rumo disperso da investigação dos fatos. Não fosse um doutor delegado com a sanidade preservada e com o mínimo de profissional mandar eles ratos de merda parar a música era outro caso que ficaria em brumas emporcalhando ainda mais no estado do Paraná a nível nacional. Isso aqui esta virando “Oilman”, querido...”Não ofereça água e muito menos alimente depois da meia noite”.

Vamos em frente que atrás vem gente. Quando as autoridades ficaram sabendo que era filho de bacana a coisa toda mudou de figura. Aqui na província a policia só se coça quando é nome de fidalgo. Fidalguia provinciana, bem entendido. Farejo merda a quilômetros de distância e lá fui eu com meu olfato de sabujo e me enterrei no trabalho. Café, cigarros, arrebites para segurar a onda e uns rabos de galo para rebater. Escrevi um editorial desancando desde o Governador do Estado até o Comandante Geral da Policia Militar, gentilmente citando o nome do Presidente da Assembleia Legislativa e deixando o ventilador providencialmente ligado para o excremento resvalar no Chefe do Poder Judiciário e quem mais estivesse mais a mão. Fiz menção de casos que até então não haviam sido deslindados e ninguém tinha sido levado a júri como aquela da garotinha encontrada numa mala na Rodoferrovia ou da moça que tinha assistido ao assassinato à sangue frio do seu namorado e de quebra ainda recebeu um balaço na coluna e foi estuprada e que até o momento que redigo essa mal traçadas não havia saído do lugar e mais um outro de menos projeção que já havia evaporada de memória do populacho embrutecido. Assinei com meu nome e esperei pacientemente alguém vir me buscar para esclarecimentos em alguma delegacia para me dar uma dura, resquício de ditadura, mas ninguém apareceu. No dia seguinte a mesma coisa. No outro, igualmente e assim foi minha semana. Na base de pão com ovo e queijo derretido o todo o resto que falei acima.

Dias mais tarde recebi um telefonema de uma senhora muito distinta que identificou-se como a mãe da vítima e que frisou que meus artigos estavam muito bem redigidos em português nítido e escorreito e que simplesmente resumiam perfeitamente o sentimento das unidades familiares estruturadas que por um acaso do destino tem de seu seio extirpados de forma cruel os seus membros mais queridos, amados e estimados e toda essa patacoada sentimentalóide fétida que me faz ter engulhos, náuseas e queimação no estomago. Agradeci suas palavras e ela prontificou a me conhecer pessoalmente na redação. Disse-lhe, com toda a educação, que isso não seria necessário, pois sabia da dor de sentia e que esse era meu trabalho. Ela então informou que estaria a caminho apenas para me dar um abraço. E ela cumpriu a palavra. Ela me foi apresentada. Disse-me algumas palavras que agradeci e deu-me um forte abraço e um beijo na testa, que retribui constrangido. Meu adorável chefe passou três notas de cem pratas e me deu dispensa pelo resto da semana sendo que eu poderia continuar a escrever meus editorais da minha casa e enviá-los via éter para posterior publicação. Nada mau para um crápula como eu...

Curitiba, 16 de janeiro de 2012, 26 graus célsius – Verão.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 16/01/2012
Código do texto: T3443833
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