Prisioneiro

Minha história poderia ter tomado rumos diferentes. Pensou salsicha consigo próprio.

Tudo começou com influências de amigos, dizia minha mãe. Mas, não. Eu sabia que estava fazendo, ou achava. Estava ciente das conseqüências que poderia sofrer, isso eu sabia perfeitamente. O perigo me atraía. Buscava incansavelmente aventuras perigosas. Mas no fundo no fundo, as amizades tinham grande peso em tais devaneios. Admito, meus amigos me incentivaram. Minha mãe sempre me alertou, só que por ser jovem não escutava devidas recomendações, comentários. Achava que o mundo não tinha perigo, riscos, gente cruel. Coisas de adolescente. Nada poderia acontecer de ruim à minha preciosa vida. Julgava-me imbatível. Invencível. Extraordinário. Os otários eram sempre os outros. Até um dia desses, julgava-me um máximo. Contudo, hoje me vejo em tais circunstâncias, percebo que quem deu uma de otário fui eu. O babaca que pensava ser o tal, não passava de um moleque mimado, cheio de manhas, caprichos. Ganhei uma lição da vida. Assistir de camarote o sol nascer quadrado. Não desejo isso para ninguém, nem para meu pior inimigo. Tenho uma obrigação diária nesse alojamento de desgraçados: limpar o banheiro! A fedentina é horripilante, vez por outra, sou obrigado a meter as mãos naquelas bostas catinguentas. Adornadas por vermes. Bichos. Coisas esquisitas. Não vejo a hora de cumprir a pena destinada à minha pessoa, e sumir desse infernal cárcere.

Pretendo voltar a estudar, parei no segundo ano do ensino médio. Seguir caminho para realizar meu grande sonho é o que importa. Sonhos que deixei para trás, por amigos não merecedores. Amigos destrutivos. Daqueles que levam para o fundo do poço. Perdi tudo e um pouco mais... A confiança de mamãe se esgotou. O amor da esmeralda dos meus sonhos se dissipou de vez. Os amigos inteligentes, com planos para o futuro, esses nunca mais serão os mesmos para comigo. Todos se afastarão. É fato. A presença de um delinquente numa roda de amigos não é muito agradável. Eu pensaria desta forma. Claro, que os outros também pensam. Uma vez malfeitor sempre malfeitor. Só que estou disposto a mudar. Quero voltar a ser aquele garoto inocente que vivia debaixo da saia da mãe. Garoto medroso. Covarde. Que jogava futebol com os primos. Vídeo game. Soltava pipas. Ficava de agarramento com as primas. Na inocência de duas crianças... Tempos bons! Tempo que escrevia cartas de amor, poesias, contos.

Os dias aqui são longos e lentos. As horas não passam. A única forma de distração é fechar os olhos e imaginar coisas boas, contemplar o belo através do pensamento. Fora isso, o tédio prevalece. Dormir deitado nem pensar, a lotação já faz parte. Quem briga mais é quem dorme. Todavia, com um olho fechado e outro aberto. Para não sofrer futuras represálias. Minha pena é de três anos de regime fechado. Já cumpri dois anos e meio. Sobrevivi, aliás. Por sorte. Pois, não aguento uma pancada. Fiz diversos contatos com presos da mesma cela, da mesma idade, com os mesmos objetivos: mudar de vida! Tornar-se um cidadão de bem. Conquistar o caráter perdido. Roubado. Tirado. Presos que também perderam a liberdade por influências de amigos, por não ser careta. Queria eu ser careta, pelo menos estaria livre, ao lado de minha família. Trabalhando. Estudando. Sei lá. Agora, percebo que as conseqüências foram piores que imaginadas. Queria voltar no tempo, para consertar esse fragmento errôneo que se deu em minha vida.

Yuri de Oliveira
Enviado por Yuri de Oliveira em 30/03/2012
Código do texto: T3584382
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