Outro Conto de Violência Doméstica

Esse é um conto ficcional. Essa história só existe na mente desse autor e qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

Figurão metido com putaria?

Comigo mesmo, meu xará. Renato Campos falando. De novo. “Cronista Policial”, com diz meu “descolado editor”. Mas todas essas papagaiadas vocês já sabem. Afinal, sou um homem de imprensa e meu negócio são fatos reais ou imaginados para preencher espaço.

Resumo da ópera: alto executivo, conta bancária quase chegando aos trezentos milhões, dono de empresa de processamento de alimentos, nem preciso dizer o resto. Ou preciso? Claro que sim. Um sátiro. Um fauno insaciável. Conheceu a esposinha 12 anos mais nova num site de “acompanhantes para executivos”. Não entendeu ainda, meu camaradinha? Página da internet que aluga a menina que você quiser para realizar a fantasia sexual que você tiver. Ainda está de difícil compreensão? É isso mesmo que você pensou. Zona de baixo meretrício de alta classe. Categoria. Manjou o meu recado agora ou quer que eu desenhe? Três anos de casamento e a coisa esfria um pouco, creio eu. Só vou me amarrar de vez quando a Gika Bala for morar lá no meu apê de fundos. Deixa-a fazer vinte e seis anos que eu chego de sola. Por enquanto só olhando aquele rabão maravilhoso na redação do jornal da concorrência escrevendo aquelas materiazinhas insossas que ela escreve. Meu dia vai chegar e ainda coloco essa franga gostosa de calcinha cor de rosa e bota pra cozinha pra mim. E não é que a “vítima” foi ciscar em terreiro conhecido. Estava de onda com uma putinha que conheceu na mesma página que conheceu a mulher. Trouxa? Otário? Babaca? Pode crer que sim e ainda assino embaixo da matéria. Quer escrever por mim? Não vai dar certo. Meus leitores assíduos vão notar a diferença. E fico aqui me delongando e torrando a sua paciência e não chego onde quero. Vamos lá.

Uma noite foi e se encantou com uma gatinha universitária de vinte de dois anos que vendia suas carícias por um precinho módico que ele poderia pagar até sem abrir a carteira. Antes de coroar a cagada fechou o caroço com a mulher em casa por um motivo fútil qualquer e saiu batendo porta e acordando a criança de um aninho e meio que dormia bem sossegada e que agora estava abrindo o berreiro. Nem ligou para o soninho do bebê e saiu em disparada no seu carrão possante e importado. Direto para a boca do lobo. Direto para onde nunca deveria ter saído. Não entendo essa gente rica. Porque será que não sabem viver? Porque sempre insistem em se meter em enrascada? É filhinho de papai vendendo droga. É filha única de bacana se metendo com traficante e com “171”. É bem nascido roubando carro e caindo em cana. É filho d’algo sendo assinado por suburbano favelado em virtude de trinta ou quarenta pratas que ficaram fiado na boca. E alto executivo se metendo com prostituta e se dando mal. Puta que o pariu! De três a quatro vezes por semana dando plantão ( e função ) no “privê”. Malandro é malando e zé mané é isso mesmo, meu querido. E relaxando em relação ao lar. Alterando tom de voz para falar com a patroa. Desleixando nos cuidados com a filhinha. Passando esporro em empregado e funcionário. Relapso com suas funções administrativas. E por aí vai. Afinal, a empresa dá um lucro astronômico no fim do mês e o imposto de renda no Brasil serve para colocar trabalhador na malha fina e alto empresário, juiz, político sonegando do Leão. Isso aqui é o paraíso, não acha? Quem me contou esses pormenores foi porteiro do condomínio fechado onde o casalzinho em questão morava. Não preciso me encalacrar com polícia, raça do Satanás. Cambada de corrupto e ladrão de galinha que entrega a rapadura por qualquer nota de vintão. Vou conversando com empregada doméstica, faxineira, entregador de pizza, o cara da lavanderia e o padeiro e chego onde eu quero. Levanto a matéria rapidinho. E como nosso povinho gosta de falar da vida alheia. Inclusive até fiquei sabendo que uns dias antes da lambança os vizinho acionaram os homens porque o tumulto tinha passado do limite legal. Era bordoada comendo solta mesmo. O cara desceu o braço da esposa sem dó nem piedade e nem chegou a ser algemado e encaminhado ao distrito. Só o “golpe do chapéu” do playboy (“Você sabe com quem está falando” ) já deu conta do recado e os milicianos entraram na viatura de cabeça baixa, orelhas murchas e rabo entre as pernas. Claro que a mulher dele desconfiou que houvesse dente de coelho nessa história toda. Homem quando muda o proceder é porque está apaixonado ou prevaricando. Fico mais com a segunda opção. Mas a moça continuou a usufruir da boa vida que levava e fez uma dívida monumental no cartão de crédito para descontar o olho roxo que o maridão tinha lhe deixado. E ficou de antena ligada. Nas semanas seguintes a mesma rotina e foi então que ela decidiu procurar um profissional do ramo da alcaguetagem. Um detetive particular. Amigo meu, por sinal. E esse muito do profissional em menos de sete dias entregou as provas do crime. Filho da puta saindo de restaurante de luxo com a potranca da zona e uma maravilhosa sequência de que mostrava os pombinhos entrando em motel com direito a close do luminoso de nobre estabelecimento.

Caiu a casa. Munida de material a esposa fez o maior escarcéu da paróquia quando o “Don Juan Curitibano” adentrou à sua residência. Vizinhança escutou palavrão como se estivesse no caís do Porto de Paranaguá. Tumulto mais cabeludo que o Max Cavalera. Quando ele sentou na cama para tomar um ar e retomar os insultos surge um calibre.38 cromado da Taurus na mão da esposa que além de garota de programa profissional entre uma foda e outra ainda conseguiu cursar um curso de técnica em informática e uma faculdade moleza de Direito. Encostou a arma na têmpora do marido com sua mão trêmula. Ele - sarcástico e zombeteiro – disse-lhe que ela não era mulher suficiente para tomar nenhuma atitude que que iria solicitar a separação e que ela teria que voltar a bater calçada pois ficaria sem um níquel e ainda a pão e laranja e sem a guarda da filhota. No desespero ela apertou o gatilho. Duas vezes. O corpo tombou na cama e o sangue tingiu os cobertores e lençóis de vermelho. A empregada estava dando uma ordem para jardineiro do lado de fora da casa e não ouviu nada. O bebê de um aninho e pouco dormia dessa vez placidamente em casa dos avós maternos. Garanhão já era finado. Assassinado pelas mãos da consorte traída que não suportou o peso das guampas no meio da testa. Ela ficou mais de oito horas com o corpo. Diz o laudo da perícia que o pescoço do cara foi seccionado com ela ainda respirando. Para alguma coisa serviu o fato dela um dia ter estudado enfermagem. Cortou os braços e as pernas e a cabeça e colocou o corpo num lençol que foi colocado na mala da caminhonete de luxo & desovado na Serra do Mar. Policia Rodoviária acusou alguma irregularidade na caranga da moçoila e mandou parar. Ela entrou em pânico e entregou a rapadura ali mesmo. Chorava convulsivamente e dizia para quem quisesse escutar que “matou por amar demais”. Nos meu anos de janela pra mim não para de cascata. Foi detida, encaminhada para a Delegacia de Homicídios onde pode entrar em contato com o advogado, porém a justiça manteve a prisão e ela continua por lá enquanto digito essas linhas. Descobriu-se depois o nome da amante e que o playboy ainda tinha lhe dado um automóvel no valor de cem mil reais e o delegado que conduz o caso intimou-a depor. Mais uma mancha de sangue pelas ruas da minha gelada e cinzenta Curitiba.

Mais trabalho para mim.

Mais rabo de galo, arrebites e cigarros para manter o ritmo.

Mais uma matéria que vou acompanhar até o dia do Grande Júri.

Mais jornais serão vendidos.

Essa vida não é estranha?

Curitiba, 15 de junho de 2012, 18 graus célsius – Outono.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 15/06/2012
Código do texto: T3725751
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