DOSAN NA MIRA DE UMA SERIAL KILLER

Quando ele soube que seu nome saiu no jornal com aquela matéria que denegria sua imagem, ficou com muita raiva e resolveu que assassinaria a repórter que achava que podia invadir a vida das pessoas e expô-las ao ridículo. Dosan não se conformava, estava vivo, isso era verdade, mas do que adiantava. Sua honra estava manchada e isso o atormentava desde o dia que levantara daquele caixão. As pessoas não sabiam, mas ele sofria de catalepsia e por várias vezes havia passado por morto para depois saberem que não o estava. Não quis contar esse fato à sua jovem e linda esposa, achou que poderia causar nela alguma repulsa e teve medo de perder o seu grande amor. Mas foi justamente naquele dia em que estava no caixão sendo enterrado com uma tanguinha fio dental que sua doce amada soube a verdade.

Ela ficou muito feliz ao saber que ele não havia morrido, mas disse que seria melhor que tivesse contado, pois quase foi enterrado vivo. Ele estava possesso, pois havia lido a reportagem que dizia que ele havia sido atropelado por uma bicicleta e estava com uma marmita ao lado e trajava uma tanguinha fio dental, supostamente de sua mulher. Ouvia, ao andar nas ruas, os risos. Teve que largar a obra em que trabalhava como servente de pedreiro, não suportava ver os colegas de trabalho se divertindo com aquela notícia. Num ímpeto de grande revolta decidiu que daria fim à vida daquela repórter intrometida. Sua amada esposa concordou com a vingança e aludiu apoiá-lo.

Do outro lado da cidade, a autora da reportagem olhava para aquela página medíocre de notícias e se aborrecia por ter que fazer as mais inferiores matérias, sonhava em ser uma grande cronista. Inclusive trabalhava num estudo de escritores do século XIX, mas não lhe davam créditos. Todas as vezes que surgia um caso banal como aquele, ela que era intimada a fazer. Odiava o redator, odiava os colegas de trabalho, odiava aquele jornal e odiava mais ainda os personagens das reportagens insignificantes. O que ninguém sabia era que aquela moça com aparência tão modesta era na verdade uma serial killer. Sua primeira vítima havia sido justamente um rapaz que ela havia feito uma matéria tão ordinária como essa. Não o perdoara, ela estava pronta para fazer uma grande cobertura onde estavam os mais importantes repórteres e de repente, era ela que estava sendo designada para aquele caso ínfimo que traria à tona uma assassina em série.

Não seria diferente com esse tal Dosan, decidida a matá-lo, pôs seus planos em ação. Pensou em tudo. Fez uma reserva para dois, num restaurante e num hotel numa cidade vizinha para a semana seguinte, numa sexta feira. Jantaria no restaurante com um amigo e depois entraria no quarto às nove horas, após entrarem daria um remédio para o companheiro dormir e sairia com uma peruca loira e iria concluir seu plano de matar o moço da sua reportagem, já havia estudado os passos dele e descobrira que ia participar de uma conferência numa outra cidade próxima também, a uma hora de onde ela estaria no fatídico dia e depois ele iria a um hotel. Ela decidiu matá-lo quando entrasse nesse hotel. Conseguiu a chave hospedando-se uns dias antes e tirando uma cópia. Estava tudo perfeito para o assassinato.

Quando Dosan saiu da conferência já tinha seu plano armado, iria para o hotel somente para fazer um álibi, mas de última hora um colega disse a ele que não tinha um quarto para dormir, não havia feito reserva e morava muito longe. Dosan, como não pretendia usar o quarto, resolveu cedê-lo ao moço, não haveria mal nenhum, pois sua presença já havia sido observada por várias pessoas e inclusive por esse rapaz, pois na verdade seu plano para aquela noite não era dormir no hotel e sim seguir viagem e matar a repórter, que ele já sabia que estava no hotel na cidade vizinha.

Disse ao colega que iria embora para casa. O rapaz ficou feliz e dirigiu-se ao quarto. Cansado, chegou, tomou banho e deitou-se na cama. Ele tinha o mesmo porte de Dosan e os cabelos eram iguais. Quando a assassina entrou no quarto com a chave copiada, viu o rapaz dormindo e esfaqueou-o em várias partes do corpo, inclusive no coração. Preparou-se para voltar logo ao hotel em que estava hospedada com o amigo, que nesse momento dormia dopado. Dosan estava chegando na cidade vizinha e entrou no hotel com a chave que também havia adquirido dois dias antes ao hospedar-se ali. Entrou no quarto e ao ver aquele corpo dormindo embaixo do cobertor não teve dúvida, descarregou a arma que era silenciosa, em todo o corpo, inclusive na cabeça, saindo imediatamente pronto para voltar à sua cidade.

Naquele momento os carros se cruzaram na entrada da cidade. Dosan sentia o gosto da vingança e a repórter o prazer de matar, que ela já conhecia tão bem.

ESSE CONTO SÓ FOI POSSÍVEL GRAÇAS AO TEXTO DE NOSSO QUERIDÍSSIMO JULIO CESAR DOSAN E DE SUA AMADA ZENI: CADÁVER DE FIO DENTAL. VALE A PENA CONFERIR E DAR BOAS RISADAS.