Prêmio maldito (Parte 1: A mulher do vestido vermelho)

Eram quase onze da noite. Eu estava no pardieiro a quem carinhosamente chamo de escritório profissional. Uma mesa, três cadeiras, e um computador velho e ultrapassado. Fazia uma semana que ninguém procurava pelos meus serviços. Estava ali, afinal, não havia mais para onde ir, despejado de casa só por ter atrasado cinco aluguéis, transformara meu escritório em meu lar. Dormia num sofá velho, de couro rasgado que estava num canto da parede. Ia apagar as luzes quando alguém tocou a porta. Ordenei que entrasse. Para minha surpresa vi algo raro naquele local, um mulher, linda e insinuante, com um corpo desenhado por algum artista, e coberto por um vestido vermelho justo em todos os sentidos, afinal dizem que o que é bonito é pra se mostrar. Tinha os cabelos longos, loiros e escorridos, seus olhos azuis resplandeciam na lúgubre sala mal iluminada. Seu nariz totalmente simétrico chamou-me a atenção, porém não mais que seu ostentoso par de seios.

A mulher estava desesperada, precisava urgentemente de um detetive. Seu corpo tremia, parecia ter pressa. Dizia-me repetitivamente que era inocente. Da sua boca saiam palavras desconexas. Dei-lhe um chá velho que tinha no arquivo e pedi que se aclamasse para contar-me a história. Depois de alguns minutos e um pouco mais tranqüila revelou-me a morte de seu esposo, com quem casará há pouco mais de seis meses. Revelou que o mesmo era um senhor de já certa idade, cinqüenta e poucos anos, e que era uma pessoa até então de bem com a sorte, visto que o afortunado havia ganhado na loteria acumulada coisa de ano e meio. Jurou-me seu amor pelo esposo, apesar dos mais de vinte anos de diferença na idade. Disse ela que ao chegar do shopping encontrará seu marido morto com dois tiros no peito, e que a polícia já o procurava como suspeita. Mal terminou de contar a história e saiu apressada, aparentava medo, e disse-me que procuraria por mim, e que pagaria muito bem pelos meus serviços, caso eu encontrasse que realmente matará seu esposo.

Tentei sair atrás dela a fim de saber mais sobre o caso. Ela desceu rapidamente os dois andares até o térreo. Seu salto em choque com a madeira causava tamanho barulho e suspense. Ao chegar na porta de saída vi-a entrar num seda preto, que arrancou cantando os pneus. Não pude deixar de perceber um outro automóvel que saiu em perseguição, preocupei-me com a segurança da minha nova cliente.

Voltei ao escritório. Na correria não havia percebido que sobre a mesa junto as sobras do lanche da tarde a mulher havia deixado um envelope. Abri-o, e vi que nele havia uma quantia em dinheiro, precisamente dez mil reais, e um bilhete: “Ajude-me, por favor. Descubra a verdade. Confio em você.”

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 12/02/2007
Código do texto: T378778
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