MATEI MEU MARIDO

Eu e meu marido, vivíamos bem. Muitas brincadeiras, muito carinho e muito respeito.

Eu e meus filhos gostávamos muito dele. Digo meus filhos, porque ele era pai adotivo.

Toda a minha desgraça principiou-se por ciúme. Um ciúme louco, doentio e sem fundamentos. Desconfiava dele com todas as mulheres da redondeza. Digo redondeza porque morávamos num pequeno povoado do interior de Minas.

Meu marido sempre fora muito comunicativo, brincalhão e gentil. Até então, nunca havia me importado com seu jeito extrovertido de viver. Mas, como já disse, minha mente fantasiosa começara aquele ciúme doentio. Não havia um casal que eu visse que não o simbolizasse com outra. Era obsessão. O via com outras nas ruas, nos botequins, na casa dela, - ela quem? Certa noite, quase mato minha filha. Dormia ela comigo, pois meu marido havia saído com um compadre seu e pernoitaram fora. Bem, sonhando, vi uma linda mulher que olhava para mim e sorria, mostrando-me uma fotografia. Meu marido abraçado a ela. Comecei a revirar-me na cama, alucinada, possessa. Coloquei as mãos no pescoço de minha filha e comecei a apertar com ódio. Felizmente, despertei a tempo de evitar esse primeiro e monstruoso assassinato.

Chorei, chorei e orei desesperadamente. Pedi a Deus que me livrasse daquele pesadelo, que me devolvesse a confiança que outrora depositara em meu marido.

Passaram-se alguns dias de tranqüila calma. Parecia que Deus abençoara minh’alma... Mal sabia que aquela calma aparente era um presságio...

Foi numa noite calorosa. Não conseguia dormir. Parecia que meu subconsciente tentava manter-me acordada, para livrar-me de tamanha e horrível monstruosidade. Mas meu corpo cheio de pensamentos podres, após ver a figura plácida do meu marido no sono dos justos, adormeceu.

Ah! Maldita noite, maldito pesadelo!

Exatamente como havia acontecido com minha filha... A cena se repetiu, mas, desta vez...

A mulher, a fotografia, o ódio, as mãos.

Toda uma vida de lutas, de honestidade, de amor, transformada em poucos minutos. Sangue, lama, remorsos eternos. Odiento, medonho despertar!

Meu marido, com os olhos desmesuradamente abertos, como que querendo se soltar das órbitas... a língua, uma brava arroxeada sobressaindo-se da boca, as mãos, tenazmente crispadas e só.

Eu, coração eternamente frio, eternamente desgraçada.

POETADADOR
Enviado por POETADADOR em 18/02/2007
Reeditado em 10/02/2011
Código do texto: T385801