Só Mais Um Crime (Partes 3, 4 e 5)

Parte 3

Hill era um cara esperto. Fora o primeiro da turma nos três anos do ensino médio; passara entre os cinco primeiros na academia de treinamento do exército; havia sido o primeiro da turma de aprofundamento e aplicação de serviço de disfarces e interação policial. Ele sempre quisera servir ao exército, mas sua mente ia além de lutas e armamento. Tinha uma mente lógica, feita para pensar e analisar. Foi chamado cedo para entrar para o S.I.F.A.P.B. e não ousou desperdiçar a chance pela paixão às armas. Recebia um salário maravilhoso, digno de inveja. Morava em São Paulo, mas conhecia o Brasil inteiro, principalmente o Rio de Janeiro, onde tinha uma casa de veraneio em Búzios. Era um homem calmo e triste. Havia se apaixonado uma única vez na vida.

Nanda era filha de um advogado público muito respeitado, mas também muito odiado. Não havia um caso que ele não obtivesse vitória, o que levava os bandidos à loucura, pois com ele não tinha acordo. Hill havia conhecido Nanda na faculdade de Letras, que ele fazia antes de entrar para o exército. A menina também fazia a mesma matéria. Foram se conhecendo aos poucos, nos seminários, palestras, pois seus horários de aula eram alternados, até que ele criou coragem para chama-la para sair. Ela aceitou, afinal já estava há muito tempo apaixonada por ele. Desde então não desgrudavam um do outro. Até que aconteceu uma tragédia – no dia que Hill ia pedir a mão de Nanda, ela foi sequestrada por um bandido recém-libertado da prisão, que queria se vingar de seu pai e tanto a menina quanto o pai foram mortos, sem piedade. Seus corpos foram achados esquartejados dentro de um baú largado em frente à promotoria do governo. Hill ficou doido quando soube da notícia, desesperado, desamparado, sem rumo. Começou a usar drogas, a ir para noitadas, dormir com muitas mulheres, a beber descompassadamente. Até que um amigo, vendo seu estado, teve compaixão e o colocou em uma reabilitação e cuidou dele até completar 21 anos, que foi quando Hill se recuperou e resolver entrar para o exército e seguir carreira.

Porém grandes feridas podem ser perdidas no tempo, mas nunca esquecidas, afinal sempre há a cicatriz para lembrar o machucado.

Hill jamais se recuperou totalmente da perda de Nanda, tanto que só teve alguns casos por onde passou, mas jamais pensou em ter uma família, em casar e ter filhos. Sabia que jamais amaria alguém a tal ponto, como fora com Nanda. Mas apesar desse seu pensamento, conhecer Olívia na Amazônia mudara algo dentro dele, talvez seu coração tenha ficado mais mole. Não se casaria com ela, jamais, e nem a amava, mas nutria um forte afeto por ela, a queria bem. É claro que Olívia sabia como Hill era, mas isso não a impedira de se apaixonar por ele. E ela se recriminava por isso – por amar um homem que jamais seria verdadeira e inteiramente seu.

Olívia estava inconformada. Queria Hill mais do que tudo. Estava enganada; não estava qualificada para trabalhar ao lado do homem que era dono do seu coração. Ela precisava, pelo menos, saber o que Hill sentia. Se ele a dispensasse ok, mas e se ele ainda tivesse algum sentimento por ela? Ela se levantou, tomou um banho e trocou a roupa. Pôs uma camisola transparente por cima do corpo nu e caminhou até o quarto de Hill, protegida por um sobretudo preto. Bateu na porta do quarto e esperou. Dois toques depois Hill abria a porta. Ele a olhou de baixo a cima. Ela já havia despido o sobretudo e mostrava o corpo nu, escultural, proporcionalmente distribuído, debaixo da camisola transparente. Ele também a desejava, por isso não pensou duas vezes antes de puxá-la para dentro do quarto com um beijo lento e suava, de quem não se via há muito tempo. Então a coisa esquentou – os beijos foram ficando mais quentes e animalmente mais selvagens, e instantes estavam na cama. Tão diferentes um do outro, mas com o mesmo desejo naquela noite, apesar de Olívia sentir mais por Hill do que ele por ela.

- Sabia que você também queria isso. – falou Olívia.

- Olívia...

- Eu fiquei com tanto medo que você não me quisesse. Ah Hill... – suspirou ela, mas o olhar de Hill era distante. – Hill?

- Isso não vai poder acontecer de novo. – falou ele – Temos apenas que trabalhar Olívia. Ouça, é impossível um haver um homem que não queira você Olívia, mas eu não te quero da mesma forma que você me quer. Eu não posso te dar o que você quer. Não é um ritual ou uma promessa que eu tenha feito, eu só, simplesmente, não consigo. – falou ele, enquanto observava as lágrimas de Olívia caírem.

- Quer dizer que não significou nada para você?

- É claro que significou, mas quanto mais noites como essa nós tivermos, mais eu vou te magoar, pois eu só vou querer isso, enquanto você vai querer algo mais, algo mais que eu não posso te oferecer. – falou ele secando as lágrimas de Olívia.

Ela não se conteve e se levantou. Sabia desde o início que ouviria isso de Hill, mas tentou acreditar que não aconteceria. Pegou suas coisas e voltou para o seu quarto, enfurecida consigo mesmo.

Acordaram no dia seguinte e se viram no meio de um clima muito ruim, ao passo que Hill falou enquanto seguiam no Volvo de Olívia para a Central da Polícia Federal:

- Por isso eu não queria dormir com você. – mas como ele não obteve resposta seguiram o resto do caminho em silêncio, pelo menos até a garagem, quando ele voltou a se pronunciar: - Olha aqui Olívia, se você entrar lá assim Souza vai te tirar do caso porque você não soube lidar com suas emoções. Será que você é capaz de colaborar consigo mesma?

- Para você é muito fácil falar Hill.

- Eu nunca te fiz promessas. – ele falou, saindo do carro e batendo a porta do mesmo. Estava irritado com Olívia. Queria se concentrar no trabalho e ela lhe tirava do sério.

Quando entraram na sala, Souza já os esperava com alguns documentos nas mãos e um café da manhã na mesa – rosquinhas, típico de policiais. Não tinha uma cara muito feliz, alguma coisa devia ter acontecido.

- Bom dia. – falaram Olívia e Hill.

- Não é um bom dia senhores. – falou Souza curto e grosso. – Preciso saber o que você tem para mim Hill. Você precisa me dar pistas.

- Não vim aqui pra fazer seu trabalho Souza. Vou deixar claro que eu também não gosto de você. E, se você estivesse mesmo preocupado com seu trabalho, não seria tão obtuso a ponto de deixar passar uma pista.

- ah, então o senhor sabe tudo tem uma pista que o federal não tem. E o que é?

- Não vou falar para você e nem vou ficar aqui conversando Souza. Sou um militar com direitos de tal e de policial também, portanto eu quero e vou ter acesso a todos os programas e sistemas de buscas e vou fuçar cada pasta que tenha a ver com esse caso. Estamos claros?

- Vai à merda. – respondeu Souza. – Eu sou o chefe do caso.

- Ótimo. Assim que completar minha busca eu trago um relatório e minhas observações. – falou Hill, que estava se controlando para não bater em Souza.

- Homens, será que podemos nos comportar civilizadamente? – pediu Olívia. – Temos uma reunião aqui.

- Ora... O que você quer Hill? – perguntou, a contra gosto, um enfezado Souza.

- Quero que busquem no sistema todas as bocas de fumo da Rocinha e do Complexo do Alemão, juntamente com o chefe de cada boca.

- É para já. – respondeu Olívia que saiu para dar as ordens.

Duas horas depois, estavam reunidos os três em uma sala, com seis folhas, metade com as bocas de fumo de uma favela, metade com as da outra.

- Por que você pediu isso agente Hill? – perguntou Souza.

- Temos que analisar essa lista. Me digam se há algo em comum entre elas. – falou Hill.

Começaram a análise. Eram diversos nomes de chefes de boca de fumo, nomes estranhos como Gal Bonzão, Otávio Fusca, Pereirão, Alfonsão, Chefe Responsa, Paneleiro, Coxinha, etc. Ficaram um bom tempo analisando.

- Isso é uma droga. Não sei aonde você quer chegar Hill. Precisamos de um suspeito, porra.

Hill se dignou apenas a olhar a cara de buldogue de Souza, como se com um olhar pudesse perfurar sua cabeça e matá-lo. Foi Olívia quem percebeu o que tanto Hill queria mostrar.

- Aqui, está aqui. – falou ela apontando para o nome de Yuri Gonzaga, O Gonzaga, como era conhecido na favela.

- O que tem? – Souza perguntou mal humorado.

- O nome dele aparece nas duas listas. – respondeu Olívia.

- Por que cargas d’água Hill, você acha que esse cara tem alguma coisa a ver com os assassinatos? – perguntou Souza.

- Primeiro, porque ele tem ligação com as duas favelas que foram locais de crime. Segundo, porque Jorge Silva era envolvido com bandidos. – falou Hill, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo.

- Um cara metido com drogas que tem ligação com duas favelas? Isso é ridículo. O que Aparecida do Carmo tem a ver com isso?

- Muita coisa se minha opinião estiver certa. – falou Hill.

- E qual é a sua opinião agente Hill? – perguntou Olívia.

- Ainda não posso falar, já que não tenho provas. Souza, eu preciso de uma assistente.

- Você tem a policial Torres. – falou Souza.

- Não quero alguém da polícia. Eu preciso me infiltrar na favela, ela só vai estragar meus planos. Quero alguém que saiba fingir, que esteja no meu ramo. Alguém de que não vão desconfiar. – falou Hill.

- Isso é ridículo Hill. – gritou Olívia.

- E quem você quer? – perguntou Souza.

- Souza, você vai concordar? Hill está sendo ridículo. Eu posso muito bem fazer este trabalho. – retrucou Olívia irritada.

- Policial Torres, seu trabalho é aqui no escritório e em campo de investigação de crimes. Não vou me dar ao luxo de pôr uma policial em risco por causa de uma suposição do Hill. Você fica e ele faz o que quer, enquanto isso a polícia de verdade vai à luta. – esbravejou Souza irritado – quem você quer Hill?

Parte 4

- Alô? Marcos? – perguntou Hill.

- Hill? Fala cara, o que tu tá precisando? – perguntou o Capitão Marcos, colega de academia militar de Hill.

- Preciso que você fale com o Moreira que ele tem que mandar mais um.

- Já sei até quem o general vai mandar!

- Éé? Quem?

- Ricardão. – falou Marcos rindo do outro lado da linha.

Hill se assustou ao ver quem era o Ricardão. Ele havia pensado que era um cara alto, mais até do que ele, forte. Pensou até que fosse um negão. Mas não pensou, em hipótese alguma, que Ricardão fosse uma mulher.

Laura Ricardo de Oliveira Cunha era uma bela garota, alta, com corpo atlético, belos cabelos curtos negros e um par de olhos verdes lindos. Tinha uma pele morena, como se tivesse ficado no sol por horas, mas era um lindo bronzeado, que combinava com sua aparência. Parecia, de primeira vista, ser uma menina muito doce, não fosse o apelido que levava consigo, com certeza ganho no exército, Ricardão.

- Olá, eu sou a agente Ricardo. – falou ela olhando para Hill, que ainda estava espantado.

- Pensei que você fosse homem. Quero dizer, pensei que Ricardão fosse um homem. – falou ele apertando a mão estendida de Laura.

- Olha, se vamos trabalhar juntos, então sou homem. Não durmo com colegas de trabalhos e não, não sou lésbica. – ela falou grosseiramente.

- Uma mulher? – perguntou Olívia, que havia acabado de chegar.

- Algum problema? – Hill perguntou.

- Como uma mulher como ela vai se enfiar na favela.

- Olha aqui colega, já me enfiei em lugares que você nem imagina que possa caber um bicho, quanto mais uma pessoa. Já trabalhei em missões fora do país, já me enfiei em trincheiras, em cavernas, em mato aberto e fechado, no meio da lama. Acredite, a favela para mim vai ser como estar num hotel depois de uma guerra no meio do nada. – falou Laura, deixando Olívia extremamente sem graça.

- Você é quem sabe Hill. Uma mulher. – falou Olívia indo embora.

- Com licença um instante. – Hill pediu a Laura e seguiu Olívia. – Quem há dois dias estava com raiva porque não ia pra favela? Você não aguentaria fazer o que Laura vai fazer. Colabore com ela e pare de se comportar como se fosse superior. Pode ser? – ele pediu. Os olhos de Olívia se encheram de lágrimas e ela apenas saiu de perto de Hill.

Hill foi novamente até Laura para conduzi-la até o escritório. Sabia que se daria bem com ela, apesar de marrenta, tinha cara de quem dava o melhor de si no trabalho.

- Esquentada sua amiga hein? – falou Laura.

- Você nem faz ideia. – garantiu ele.

- Você é o reforço que Hill pediu? – perguntou Souza perplexo.

- Algum problema? Eu fui treinada pelo mesmo cara que treinou o Hill, fui a primeira da minha turma, não vejo o porquê de todo mundo estar espantado. – falou Laura, sem alterar o tom de voz. Isso intrigou Hill.

- Quantos anos você tem? Vinte? – perguntou Souza. Hill ainda não tinha reparado, mas ela tinha cara de menina.

- Tenho vinte e nove anos. – respondeu ela, começando a se ofender. Ia ser alvo de preconceito pela boa aparência.

-Hill, você tem certeza que ela vai dar conta do serviço? – perguntou Olívia, pois Souza estava irritado demais para falar.

- Absoluta.

- Para mim está bom então. – ela falou.

- O que exatamente vocês vão fazer na favela? – Souza perguntou.

- Apenas confirmar uma suspeita e te oferecer um suspeito. Está bom pra você?

- Ótimo. – falou Souza.

Parte 5

- Temos que nos passar por compradores de drogas? – perguntou Laura. Ela estava bem diferente, com roupas largadas, como se pertencesse à favela.

- É isso aí Laura. Posso te chamar assim certo?

- Claro Hill. Entendi. Para quê?

- Preciso confirmar que a tal pessoa que te falei é mesmo o suspeito que Souza quer.

- Entendo. Acho que você está certo Hill. Bom, bora lá. – Laura falou.

Adentraram nos arredores da Rocinha e logo um grupo de rapazes ficou na cola dos dois estranhos. Chegaram na entrada. Um sujeito mal encarado foi até eles.

- O que vocês querem? – perguntou com uma voz maltrapilha.

- Aí amigo, quero ver os produtos.

- Quem são vocês? Playboyzinho?

- Qualé irmão. – o cara se alterou quando Hill o chamou de irmão – Quero ver os produtos.

O cara foi até o gruo que seguia Laura e Hill e pediu que eles acompanhassem os dois até a boca. Chegaram numa parte bem isolada da favela. O grupo que os levou fazia parte da boca do Onça, um bandido que Hill sabia que já tinha ido preso.

- E aí amigo. Tu vai querer o quê? – perguntou um dos rapazes.

- Quê que tu tem aí? – perguntou Laura.

- Ih a gatinha patricinha é viciadinha. Gostosa. – falou o cara passando a mão na bunda de Laura, que estava se controlando para não meter um soco no cara.

- Revista eles. – falou uma voz grossa de repente. Era O Onça.

Revistaram eles. Foram apalpados em todos os cantos. Laura não gostou. Odiava que encostassem nela. Hill desconfiou que Laura tivesse algum trauma com isso.

- Tão limpos. – falou o cara. Não estavam. Hill tinha uma arma no sapato e Laura algumas facas na meia.

- Que vocês vão querer? – O Onça perguntou.

- Falaram lá no condomínio que o baseado de vocês é melhor que o d’O Gonzaga. – falou Hill. O Onça ficou com um pé atrás de antes de responder.

- E é. Aquele cara é um bandidinho à toa. O baseado dele é batizado com leitinho. – todos caíram na risada, exceto Laura e Hill, que riram falsamente.

- Cinquenta conto três rolinhos.

- Cinquenta? Você tá de sacanagem comigo? – Hill perguntou. O Onça não gostou. Os rapazes viram e um deles deu um soco na cara de Hill.

- Olha playsson, veio na minha favela, compra pelo preço dela. – falou O Onça.

- Já é, já é. Me dá nove rolinhos. – pediu Hill ao entregar 150 reais na mão dos bandidos.

Os traficantes entregaram o produto e se mandaram dali. O Onça ordenou que os dois fossem embora e eles foram.

- Perdemos viagem. – falou Laura, quando estavam quase fora da favela.

- Ainda não. Ei moleque. – chamou Hill. – Quantos anos você tem?

- Treze.

- Quer ganhar uma grana legal?

- Que houve?

- Eu preciso saber de uma coisa. Sobre O Gonzaga.

- Ah, lá no bar da Tetéia você deve achar informações. – falou o menino e Hill lhe deu cinquenta reais.

Seguiram para o bar da Tetéia. Estava cheio o lugar, um lugar que fedia a cerveja, e mais parecia um bordel. Entraram e chamaram atenção. Foram se sentar no bar e pediram uma cerveja. Humberto, o Manda-Chuva do lugar, foi até os dois.

- Carne nova no pedaço. – falou ele.

- Meu amigo, fiquei sabendo que aqui podem me ajudar. – falou Hill.

- Eu não me meto com gente encrenca.

- Tá. Tô pra receber um carregamento aí, mas não sei se posso confiar no cara que vai trazer meu produto. Acho que o cara se chama Gonza, Bonzaga.

- Gonzaga? – perguntou Humberto.

- Isso. Tenho uma grana aqui, preciso de informação.

- O cara trabalha com carregamento mesmo, mas é o maior furão. Eu sei que as cargas dele chegam de caminhão, de um bacana aí.

- Valeu. – falou Hill entregando a Humberto 300 reais. – Um brinde! – falou ele para Laura.

Saíram do bar depois de tomarem três cervejas. Foram caminhando tranquilamente pelos becos da favela, até que, do nada, foram surpreendidos pelo grupo d’O Onça.

- A gente num mandou vocês irem embora? – falou o rapaz socando Hill. Eles eram cinco contra dois. Com Laura não teve folga, ela sacou rapidamente duas facas da meia enquanto Hill batia no terceiro rapaz. Ele conseguiu golpear o rapaz que estava com Laura, enquanto ele cortava a perna de um deles. Hill foi bater em outro, mas levou um soco no estômago e Laura uma rasteira. Quando um deles foi pra cima de Hill, Laura se levantou e pegou uma arma que estava caída e deu com tudo na cabeça do cara. Hill se levantou e acertou a faca no ombro do outro e enfim, os cinco acabaram no chão. Hill e Laura saíram dali correndo, antes que algo pior acontecesse. Passaram pelo portão e ainda deram um ‘tchau’ para o porteiro mal encarado.

Pegaram um táxi que os levou para o hotel onde estavam hospedados.

- Por favor, Olívia Torres está? – perguntou Hill para a recepcionista.

- Não a vi chegar não. – foi a resposta. Ele subiu com Laura e foram para o quarto dela. Sentaram na cama e se olharam. Não conseguiram aguentar e caíram na gargalhada.

- Pra que eu servi mesmo? – perguntou ela.

- Para bater naqueles caras. Imagine se eu tivesse ido sozinho.

- acho então que já fiz meu trabalho.

- Fez. – falou Hill.

- Eu não quero ir embora. Quero ficar neste caso até o fim. Você pode dizer pro Moreira que ainda vai precisar de mim? – ela perguntou. Ele fez que sim com a cabeça.

- Se você me responder uma coisa.

- O quê?

- Eu vi como você ficou quando aqueles caras te tocaram. Que segredo você esconde? – Hill perguntou. Laura ponderou não responder. Uma imagem havia se formado em sua mente.

Um homem grande e uma criança, dentro um quartinho.

- Fica quietinha, eu só vou te fazer carinho, está bem meu amor? Você ama o papai? – perguntou o homem à criancinha, que já não era mais capaz de responder que sim. O homem avançou e começou a tirar a roupa da criança e beijar seu corpinho, frágil corpinho. A criança sentia nojo, horror, queria chorar, mas tinha medo de apanhar.

- Hill... É pessoal.

- Mas às vezes falar é bom. Quem te deixou assim?

- Meu pai. – Laura respondeu. Depois contou para Hill porque entrara para o exército e como lutava pelas crianças que sofriam abuso sexual.

- É por isso que você não dorme com colegas de trabalho? – Hill perguntou, tentando distraí-la.

- Não, eu gosto de transar, mas sei separar as coisas. – ela falou. Então ela e Hill foram se aproximando um do outro, lentamente, com um desejo que ambos estavam nutrindo desde que puseram os olhos um no outro, e se beijaram. Foi um beijo delicioso, que foi interrompido com a entrada de Olívia no quarto.

- Ferrou. – falou Laura. Porém Olívia foi bastante profissional e pediu desculpas. Disse ainda que estaria os aguardando no quarto dela.

Depois de se recomporem do constrangimento causado por Olívia, Hill e Laura seguiram para o quarto de Olívia, no andar debaixo. Estava todo arrumado e na mesa estavam alguns montes de papéis. Na cama, havia um lenço recém usado.

- Olívia? – chamou Hill.

- Entrem, por favor. Olha, me desculpem.

- Desencana. – Laura falou.

- Descobrimos algo. Um suspeito. Seu nome é André Motta, amigo de José Vila. Ele é traficante de drogas e pasmem, vizinho de Aparecida do Carmo. – falou Olívia empolgada.

- Não pode ser esse cara. – falou Hill.

- Como não. Quem mais poderia?

- Tenho certeza que não foi esse cara.

- Não importa o que você pensa Hill. Importam os fatos. O cara tá preso e vai a julgamento pela morte de José e Aparecida.

- Vocês policiais tem uma mania de fazer tudo às pressas. – falou Laura.

- E quem você pensa que é para falar assim com uma federal? – perguntou Olívia.

- Ei, baixa a bola garota. Eu sou militar com direitos de policiais, mas diferente dos só policiais eu fui treinada com foco. – falou Laura. Olívia não respondeu.

- Me deem um bom motivo pra esse cara não ser o suspeito de Souza. – pediu Olívia, esgotada.

Camilla T
Enviado por Camilla T em 19/10/2012
Código do texto: T3940852
Classificação de conteúdo: seguro