PSICOPATA FOI LONGE DEMAIS III

O delegado olhou no painel do telefone e travou um curto diálogo com quem estava do outro lado da linha. Absorvido pelos planos que começara a explanar, ELE ouviu pouco das palavras que o amigo pronunciara. Se lhe pedissem para reproduzir o que sua audição havia captado, seria capaz de repetir só uns poucos fragmentos, como: " - Tudo! ... ível que o evento tenha de ser adiado ... aúde? Não! Muito bem... de pé, mas não sobre data e coreografia, é que ... Bom, a decoração não agradou, É ISSO!...diretor e cenógrafo pensam em adaptar o enredo...Hum? ... É isto! Está muito em cima e não tem material suficiente ... ança nos custos ... ééééé ... logística ... ambém ... Não! Vai sim ... ecer, sim, os detalhes é que ..." .

Ele voltou de suas divagações ao sentir um toque da mão do delegado em seu braço: "- Hã? Ah!, desculpe, eu desviei a atenção enquanto você conversava ao tele..."

- Tudo bem, não se preocupe. Estava falando exatamente com o IMEDIATO, queria saber se já podia emitir a ordem...como você sabe, existe uma cadeia de comando, um OK de minha parte para ele deflagrar uma sucessão de ... bem, você sabe como acontece, uma cadeia de transmissão que chega até o operacionalizador final ...

- Sei, claro, o clássico esquema composto por níveis Estratégico, Tático e Operacional, conheço bem o desenho, como sei que somente o Imediato sabe com exatidão de quem parte o OK ... de você, precisamente.

- E foi para saber se já podia receber o OK que fez a ligação. Mas, com sua mudança de ideia, tudo também muda, logística, pessoas envolvidas... e, obviamente, o OK não foi dado.

- Não, não, não! Deixe eu terminar de expor meu plano que você vai perceber que não muda muita coisa, não. Talvez UM ELO apenas ou, quem sabe, NENHUM tenha que ser alterado.

- Mas, como não? Aliás, antes de começarmos a tratar de pormenores operacionais, preciso que você me satisfaça uma curiosidade: por que desistiu de tirar a psicopata de circulação?

- Não! Fora de circulação, sim! E de ação, TAMBÉM! É como quero que ela fique e PA-RA SEM-PRE.

O Delegado-chefe recostou-se no sofá, respirou fundo e fixou um olhar algo apiedado para o interlocutor. Começava a pensar que o transtorno emocional decorrente da convicção sobre as intenções da psicopata, tinha deixado louco o amigo e colaborador. O que este dizia parecia-lhe totalmente sem sentido, destituído de racionalidade, coisas de doido, enfim.

- Continua então com o propósito de tirá-la de circulaç...

- Siiiiimmmmm! É isto!

- Sem matar? Como, se você mesmo afirma e reitera que não há jeito para psicopatas, são irrecuperáveis? Como então...

- Desculpe interrompê-lo assim de forma abrupta, acho até que posso estar sendo grosseiro,

- Nããããão... eu sou quem pede desculpa por não lhe conceder o tempo necessário para expor com clareza sua nova idéia...

- Que não é nova! Em essência, o que muda é a forma específica de ação.

- Sim!?

- ELA vai ficar sem poder agir, mas viva, FORMALMENTE VIVA, TECNICAMENTE VIVA, porém estará morta de fato.

- Você falou em tortura científica, estou certo?

- Certíssimo!

- Só que toda tortura é científica, até quando os métodos utilizados são...como dizer, primitivos, rústicos, artesanais... Falando de forma elementar, um ato ou ação é científico quando é realizado sempre de maneira igual e produz os mesmos resultados, certo?

-É...

- Então, quando se dá uma ... pancada nos testículos, por exemplo, é por saber que a dor sempre será insuportável e a ação vai provocar mais outros sintomas horríveis...então há ciência nesse ato, pois não?

- Em tese, sim, mas falo de outra coisa...

- Quando você fala em tirá-la de ação mas sem matá-la, está se referindo a isolar essa psicopata de algum grupo de que possa fazer parte, eliminando os demais integrantes? Grupos de comportamentos digamos...exóticos, adeptos de seitas ditas...satânicas...O que eu quero perguntar é se para você ela faz parte de algum núcleo desse tipo e matando os outros participantes vai conseguir neutralizá-la... deixando-a viva, é isso?

- NÃO! Falo de outra coisa.

- Você sabe que para obter todas as informações sobre ela, nós lançamos mão de tecnologias de ponta, como binóculos de longuíssimo alcance, câmaras fotográficas e máquinas filmadoras de alta resolução, gravamos conversas telefônicas entre vocês, fizemos análise de autenticidade de voz, mudança de entonação em certos horários, estudamos a folha corrida dela, histórico como consumidora, tudo enfim ao alcance...

- CLARO que sei

-Não usamos apenas recursos chinfrins e banais como os que ela utilizou ... internet, conversas pelo celular, exame de textos seus...conexão entre nomes...

- SEEEEI!

- Então...

Continua no próximo capítulo.

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 25/10/2012
Reeditado em 20/11/2012
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