Bella Grega X

Cap. 10 - Festas

Tudo pronto para o inicio das festas as pessoas começaram chegar. Conforme a noite se aproximava o número de pessoas aumentavam. Na mansão Montgomery a festa era para a alta sociedade, ou seja, todos os convidados tinham de praxe chegarem atrasados. Marcada pra sete em ponto a maioria só chegou as oito. Enquanto na fazenda já havia pessoas dançando, cantando, comendo e se divertindo desde ás cinco. As estrelas brilharam mais do que nunca tornando o céu mais bonito. Enquanto na mansão ninguém prestou atenção nelas, na fazenda todos as admiraram.

As manchetes naquele dia falavam da suntuosa festa que aconteceria e dos convidados riquíssimos. Entre eles uma das acionistas da Bella Grega e aclamada pela Gazeta Carioca como uma das mulheres mais cobiçadas do país, Mia Danglars. Jovem, rica, solteira e belíssima, com certeza sua vida mudou em apenas um mês. A jornalista da coluna social da Gazeta, Juno Éden foi à festa e cobriu o evento. Por volta das oito e meia da noite chegaram os Monteiro: Percival e sua esposa Clara acompanhados do filho Carlos; dona Helena sempre com sua enfermeira particular Henriqueta; e Silvia com o noivo Cássio de Almeida. O anfitrião andava por toda mansão conversando com os convidados. Ás nove chegou à mulher mais esperada da noite, o assunto do momento, Mia Danglars.

Belíssima como já a descrevi, ela entrou sob a vista de todos, sendo elogiada e paparicada por diversas pessoas que jamais viu, mas que eram sócios do clube ou compravam na loja da Bella Grega e se achavam no direito de serem lembradas. Altica como uma rainha, ela chegou sozinha e logo foi cumprimentada pelo anfitrião:

__ Senhorita Danglars, agradeço ter aceitado meu convite. Eu sou...

__ Willian Montgomery, já sei. Li no convite, e não o perdoei se quer saber.

__ Perdoar-me? Por que teria que faze-lo?

__ Não se lembra de mim? A dona do carro que você bateu há dias atrás.

__ Ah, então era você. Nem a reconheci, hoje está exuberante, bem diferente da mulher que encontrei na rua.

__ Mesmo?

__ Mesmo. Acabei de descobrir algo sobre você, seu rosto muda. Seu rosto sem maquiagem é um e outro com maquiagem.

__ Sério? Pois acabei de descobrir algo sobre você.

__ Mesmo? Descobriu? E o que descobriu?

__ Não importa o quanto se arrume, com ou sem maquiagem, você ainda é o mesmo idiota que bateu no meu carro. Com licença __ disse saindo de perto dele.

Willian abriu um pequeno sorriso de desconforto e disse pra sí mesmo:

__ Ela vai ser uma conquista bem mais difícil que imaginei, mas eu a dobro. Não existe uma mulher que eu não possa dobrar e conquistar.

Percival ficou toda a festa fechado em sí mesmo, vendo os risinhos que soltavam quando o viam.

__ Não vou agüentar isso muito tempo.

__ Acalme-se querido, deixe que as coisas sigam seu rumo. Logo eles esquecerão __ disse Clara tenando animar o marido.

__ Não, não vão Clara. Conheço todos essas pessoas fúteis, nenhuma jamais esquecerá. Que vergonha meu Deus, que vergonha! Ter que trabalhar como um simples vendedor onde já entrei como dono. Eu mato o Ricardo.

__ Percival, seu irmão já morreu.

__ Então primeiro o faço voltar a vida e depois o mato. Que raiva! E que vergonha!

Carlos aproveitou a ocasião pra flertar com alguma patricinha milionária que pudesse salvá-lo do testamento e não tivesse que trabalhar. Não encontrou nenhuma que fosse nem rica o bastante pra ele, nem bonita o bastante. Pensou em investir na Mia, ela estava simplesmente deslumbrante na festa, mas ela o conhecia e não iria querer nada com ele. Viu várias mulheres bonitas e ricas, mas todas comprometidas. Enfim pensou na Henriqueta, ela estava com uma roupa simples e não era rica, mas serviria pra se divertir uma noite. Quando estava s aproximando outro chegou na frente e a convidou pra dançar.

__ Boa noite! __ disse um rapaz polidamente.

__ Rafael! Que faz aqui? __ respondeu a enfermeira.

__ Também fui convidado, mas eu é que pergunto: o que você faz numa festa destas?

__ Dona Helena foi convidada e eu vou sempre com ela. Que coincidência não?

__ Muita, quer dançar?

__ Dançar? Mas não tem lugar aqui.

__ Engano seu, do jardim dá pra ouvir a música então podemos dançar. Vamos?

__ Não posso, estou trabalhando.

Dona Helena que até aquele momento tinha se mantido em silêncio, fingindo que não ouvia a conversa, se pronunciou:

__ Não se preocupe comigo Henriqueta, eu ficarei bem. Pode ir.

__ Posso mesmo?

__ Vai logo e aproveite. Aproveite enquanto é jovem menina.

__ Vamos logo antes que ela mude de idéia __ acrescentou Rafael.

Os dois saíram alegres pro jardim enquanto dona Helena sorriu com a felicidade deles. Carlos ficou vendo e não acreditava, até a Henriqueta tinha arrumado alguém enquanto ele ficou sozinho. A festa, basicamente, foi isto, outros acontecimentos foram irrelevantes pra história. Mia conhecia Willian pelo seu nome, detestava, mas já conhecia. Todos se divertiram muito, apesar de saberem exatamente quem era o anfitrião. Para essa sociedade esnobe, não importa de onde veio, ele era dono de uma corretora famosa de Londres e era rico, era tudo o que precisavam saber.

Na fazenda as coisas não foram tão calmas. Por volta das sete horas da noite, todos já tinham chegado e o coronel fez o discurso de inicio. Ele o fez de cima de um pequeno palco improvisado de um dos lados do círculo de casas:

__ Povo de Ouro Negro! Cidadãos de nossa bela cidade, tenho o prazer de dar inicio a centésima vigésima quinta Festa do Peru. Ou, como prefiro dizer, dou inicio as festividades dos 125 anos de fundação de Ouro Negro. Mais um ano se passou e ela cresce cada vez mais. Com essa alavanca eu ligarei a fogueira e novamente nossa grande comemoração começará __ ele abaixou a alavanca a sua frente e a fogueira acendeu.

O fogo subiu rapidamente pelos três metros de madeira e sua luz iluminou a todos. Nesse momento começou a dança inicial, era feita pelo coronel e sua filha. Depois dos dois, todos os outros casais também começaram a dançar ao som da primeira valsa. Ao fim desta, a música tocada passou a ser a sertaneja, mais condizente com o que ouviam diariamente. No bar, Neto viu Lucas e se aproximou:

__ E aí Lucas? Tudo bem?

__ Tudo __ respondeu sério sem nem olhar no rosto do Neto.

Ao avistar quatro copos de dose de caipirinha a pergunta foi inevitável.

__ Quantos copos você já bebeu?

__ Sei lá. Cinco ou seis, quem se importa?

__ Eu me importo, essa festa é pra nos divertirmos e não pra nos embebedarmos. Pare agora.

__ Não Neto, não quero. Quero continuar bebendo.

Neto tentou lhe tirar o copo que segurava, em vão, foi parado pelo Lucas.

__ Não, pare Neto. Eu vou beber o quanto eu quiser, me deixa. Deixa-me em paz!

Cambaleante, Lucas saiu por entre as pessoas. Neto ficou sem entender o que tinha acontecido e decidiu ficar de olho no Lucas, bêbado assim poderia cometer alguma loucura que depois se arrependesse.

Em outro bar estavam Diana e Romeu:

__ Beba, é bom.

__ Tem certeza Diana, me parece um pouco forte.

__ Que nada, a caipirinha é normal.

__ Posso mesmo?

__ Claro, não confia em mim Romeu?

__ Confio em você, só não confio nessa... coisa.

__ Bebe logo. Ah, e não se esqueça que tem que ser de uma só vez.

__ Tá, tá. Já sei.

Num só gole Romeu ingeriu toda a caipirinha e num só movimento a gospiu toda pra fora. Fez a mais engraçadas caretas e ela ria muito:

__ Você disse que isso não era forte.

__ E é verdade, pra mim que já me acostumei já não é mais forte. É normal.

__ Não vale, você teve a vantagem de anos. Não vou cumprir a aposta.

__ Nem pensar, você prometeu. Vai ter que cumprir.

__ Não, só se desta vez você beber e como você mesma disse, com um só gole.

__ A mesma aposta?

__ A mesma aposta e se desta vez eu perder eu prometo que não vou mais questionar mais e pagarei a aposta. Agora beba senhorita normal.

__ Está bem, eu bebo __ Diana pegou outro copo, se preparou e bebeu. Mas também não consegui e como o combinado, ela deveria pagar a aposta __ eu quero revanche.

__ Nem pensar, não era você que era acostumada a caipirinha. Agora agüenta. Você perdeu, assuma.

__ Está bem, assumo. Perdi. Mas ambos perdemos, eu e você. Sendo assim acho que nós dois devemos pagar.

__ É justo. Depois que acabar aqui ambos pagaremos.

O coronel e o João conversavam num canto:

__ No que estava pensando papai? __ disse quando pegou o pai olhanbdo as estrelas.

__ Na sua mãe.

__ Ah! A mamãe! Há quanto tempo não paro pra pensar nela.

__ Magnólia me fez muito feliz.

__ Por que será que acho que não estava pensando na minha mãe?

__ E eu estaria pensando em quem?

__ Naquela mulher com quem quase fugiu uma vez.

__ É claro que não, nem me lembrava mais dela.

__ Mesmo? A mamãe dizia que o senhor amou muito aquela mulher e não só não foi embora com ela por que ela desapareceu sem deixar rastro.

__ Sua mãe era muito boa, mas também muito ciumenta. Acreditava em qualquer fofoca que lhe contassem sobre mim, nosso casamento quase acabou varias vezes por causa do grande ciúme dela.

__ Ouvi e me lembro disso, mas também ouvi contarem que naquela ocasião foi verdade. Dizem que o senhor teve um caso com uma mulher que apareceu aqui na cidade há muitos anos atrás. Dizem que o senhor inventava mil desculpas pra ir a Ouro Negro e vê-la. Eu não me lembro de nada disso, tinha apenas cinco anos. Um dia falaram até que o senhor iria fugir com ela, mas então ela sumiu, desapareceu de tal forma que nunca mais ninguém a viu por aqui. E esse foi o único motivo pelo qual não fugiu, ela sumiu sozinha e o senhor não soube mais dela.

__ Como eu disse, são apenas fofocas que o povo conta. Nada do que ouviu é verdade meu filho __ respondeu sério com um olhar distante.

Às onze horas da noite começaria o show de uma dupla sertaneja que encerraria a noite. Antes disso, as dez e meia, a solteira mais velha da família Dias deveria dançar uma valsa com um pretendente. Nos três anos anteriores foi o mesmo, Lucas, mas naquele ano Diana tinha um namorado e este dançaria com ela.

Todos pararam o que estavam fazendo pra verem o jovem casal. A fogueira estava gasta pelas horas que já estava acesa, mais madeira foi colocada nela e as chamas iluminaram o casal.

__ Está pronto?

__ Não, mas quanto mais cedo começarmos, mais cedo terminamos.

A música começou e os dois também. Por alguns instantes eles se sentiram tão leves que pareciam flutuar. De repente alguém gritou:

__ Sai de perto dela.

A música estava alta e poucas pessoas ouviram. E novamente de repente o som parou. E se repetiu a frase:

__ Sai de perto dela.

Todos viram Lucas com um copo de cerveja numa das mãos e na outra uma tesoura com a qual cortou os fios da mesa de som. A tesoura caiu no chão e começou a andar em direção ao casal.

__ Que pensa que está fazendo Lucas? __ disse Diana.

__ É, o que pensa que está fazendo? __ repetiu o coronel.

__ Eu já mandei sair de perto dela __ gritou furioso e se aproximando.

Neto tentou evitar uma confusão, foi impossível dadas as condições do peão. Lucas o empurrou com força. Diana se adiantou e tentou para-lo pondo-se na frente do Romeu.

__ Que está fazendo Lucas? Você está bêbado, vai embora.

Lucas também não a ouviu, empurrou-a e correndo em direção ao Romeu lhe desferiu um soco com o punho direito. Romeu foi ao chão pelo violento e inesperado golpe.

__ Isso é pra você aprender e sair de perto da Diana.

__ Por que fez isso Lucas? __ gritou Diana.

Ele que estava de costas pra ela se voltou pra Diana e respondeu:

__ Por que ele estava atrapalhando. Só eu posso dançar com você, ninguém mais.

Romeu se levantou, limpou o sangue do corte no canto da boca e disse:

__ Oh, Lucas!

Lucas se voltou pra ele e nesse mesmo instante levou um soco no rosto e caiu desmaiado.

__ Boa noite!

Diana correu pro Romeu e os dois se abraçaram, depois saíram dali em direção a casa grande. Neto levou Lucas pro quarto dele, na antiga senzala agora reformado e dividido em quartos pros peões, jogou-o na cama e este dormiu a noite toda. Neto voltou pra casa e pra saber como estava Romeu.

Enquanto isso o coronel já tinha acalmado as pessoas, o DJ consertado a mesa de som e a música voltou a ser ouvida. Todos voltaram a se divertir tentando esquecer esse problema. O coronel os tranqüilizou dizendo Lucas estava bêbado e foi por isso que agido daquela forma. As pessoas acreditaram, mas sabiam por que ele tinha feito aquilo. Esqueceram por aquela noite, fofocas só de manhã.

Deitado na sua cama, Romeu foi medicado. O corte sangrava um pouco, Dona Maria levou um curativo e um pouco de álcool com arnica, é uma receita pra ferimentos. O único problema é que:

__ Aiiiiiii! __ gritou com força __ Ou, mais devagar Diana. Isso dói.

__ Pois eu não estou sentindo nada.

__ Há-há-há. Achei muito, muito engraçado. Aiii! Cuidado!

__ Você quer que isso pare de sangrar e cicatrize depressa, então me deixa terminar. Agora fica quieto.

__ Que será que deu no Lucas pra agir desse jeito?

__ Não faço a mínima idéia. Ele estava bêbado, será que não foi isso?

__ Talvez, mas mesmo bêbado teria que haver um motivo muito forte que só nesse estado deprimente ele teve coragem de fazer.

__ Quem sabe, não é? É perguntar pra ele amanhã, assim que acordar.

__ Por que? Ele está dormindo?

__ Neto levou o Lucas pro quarto dele no alojamento dos peões. Diz ele que o Lucas acordou por alguns segundos e depois dormiu. Bêbado com estava, vai dormir a noite toda.

Romeu sabia o motivo do soco e Diana também. A festa terminou tarde, o show foi um sucesso. Sem nenhuma confusão. As pessoas foram voltando pra casa aos poucos, só as duas e meia da madrugada que todos tinham ido embora. A Segunda-feira amanheceu bem tarde em Ouro Negro, como todos os anos, só depois das nove da manhã que o povo começou a sair as ruas e voltar a velha rotina.

No Rio de Janeiro Mia acordou em seu luxuoso apartamento em Copacabana, abriu as cortinas de seu quarto no décimo oitavo andar e vislumbrou a maravilhosa vista do nascer do sol. O céu estava claro, sem nenhuma nuvem. Apenas um límpido e azul céu. Uma Segunda-feira que prometia muito, pelo menos pra ela. O Dr.Camilo me entregaria naquela manhã a papelada necessária para seu ambicioso projeto.

Festas podem ser chatas, monótonas. Mas também podem ser animadas, agitadas. Depende de que tipo de festa se fala, e não falo de festa rico ou festa de pobre. Depende dos convidados que vão elas que fazem o lugar. No caso da fazenda, o único problema foi Lucas. Costumo pensar que cada festa guarda suas particularidades. Cada tem seus defeitos. A próxima festa em que for, preste atenção nas pessoas que foram convidadas, mesmo que você não as conheça. Pode perceber que todos agimos diferente, mesmo estando nas mesmas condições financeiras.

continua...

Thiago A Almeida
Enviado por Thiago A Almeida em 26/03/2007
Reeditado em 27/03/2007
Código do texto: T426023
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