Bella Grega XII

Cap. 12 - Serial Killer

Assim que chegou, Raul conduziu Willian ao escritório no andar superior. Os dois estavam com pressa:

__ Cadê o dinheiro Raulzinho.

__ Já disse pra não me chamar de Raulzinho. Está dentro desta pasta, se quiser pode conferir.

__ Não é necessário, confio em você __ dizendo isso tirou uma pistola com silenciador de dentro do terno e a apontando pro Raul, disse __ mas M não. Não mais.

__ O que isso Willian? Que está fazendo?

Os dois estavam de pé ao lado da mesa. Raul, com medo, começou a se afastar enquanto Willian permanecia a certa distancia.

__ M me ligou dizendo que você fez ameaças, quer sair? M não quer que você saia.

__ Eu quero sair, mas não é motivo pra chegarmos a isso.

__ M não pensa assim. Você fez coisas tão ruins ou até piores que nós e agora está com peso na consciência. Sabe que ninguém ameaça M.

__ Sei disso, não precisa chegar a tanto. Já entendi o recado, não posso sair. Agora, abaixe essa arma.

__ Desculpe Raulzinho, já é tarde demais pra arrependimentos. Não é nada pessoal, ordens são ordens. M manda e eu obedeço. Boa noite! __ e deu um tiro certeiro no peito.

Raul foi ao chão, morto. Sem nenhuma gota de sangue, sem nenhum grito, sem nenhuma reação. Foi uma morte rápida e silenciosa. Willian guardou a arma, sentou-se ao lado co corpo, tomou a mão ainda quente do Raul e disse:

__ Olha Raulzinho, sabe que eu sou inglês, não sabe? Claro que sabe. Você me conhece muito bem. Pra mim todos nós somos como xícaras de ótimo chá e como o chá inglês, somos compostos de leite e chá. O corpo é como a delicada e frágil porcelana na qual depositamos nossa alma, o chá. São incontáveis os tipos de chá e as diferentes personalidades fazem deste um mundo um lugar mais animado. Lembra-se que os ingleses colocam leite na xícara antes do chá? Sabe por que? Por que o leite representa o medo que as pessoas tem que ter para sobreviverem, para se manterem vivas neste mundo perigoso. Você, Raulzinho, perdeu o medo. Esqueceu-se de colocar o leite em sua xícara e sabe o que acontece quando não se coloca o leite antes do chá fervente? A porcelana racha. E a sua rachou de cima a baixo, uma importante lição pra você Raulzinho, quando se esquece o medo se esquece que pode rachar como uma porcelana delicada e frágil. Você está rachado por isso, não se esqueça!

Willian cruzou os braços do morto sobre o peito, tirou uma adaga de dentro do terno, tirou-lhe a bainha de prata e fez um pequeno corte no pulso direito do Raul. Sobre o peito surgiu uma poça de sangue, e nela Willian pôs o dedo e depois fez um “M” na testa do Raul.

__ Minha marca, “M” de Montgomery. Tão obvio e nunca desconfiaram, ou nunca conseguiram provar. Tchau Raulzinho, mande lembranças pra Isabel.

O assassino se levantou, foi até a mesa de trabalho do advogado e viu algo curioso: um caderno com capa de couro avermelhada. Willian o pegou e começou a ler:

__ “Meu caro, hoje foi um dia terrível. Briguei com M e fiz ameaças”. Quem diria, o Raulzinho tinha um diário. Não faz o seu tipo sabia? __ disse olhando pro cadáver. Ele olhou na última pagina escrita leu __ “Félix, algum dia lhe deixarei este diário pra que saiba a verdade sobre seu tio. Sei que não acreditará quando ler estas palavras mas é a mais pura verdade: eu sou um monstro. Fiz coisas horríveis em minha vida e não espero teu perdão.” Que chatice! Quanto melodrama! Vamos passar pra frente. “...não só fiz coisas abomináveis como também ajudei a varias pessoas a fazerem pior como o corretor e M.” Esse cara é maluco ou o que? Ele fala tudo pra esse tal de Felix. Mas não vai não, vou sumir com esse diário e ninguém vai saber de nada.

Sorrateiramente ele saiu da casa sem ser visto pelo empregado Fígaro. Meia-hora depois o mordomo subiu pro escritório:

__ Senhor Raul, vim saber se quer alguma coisa. Senhor Raul! __ gritou apavorado ao ver o corpo do patrão caído no chão. Ele chamou uma ambulância e a policia. Já era tarde, seu patrão tinha morrido instantaneamente e nada pode ser feito.

A noticia da morte Raul Montenegro correu rápido pela cidade toda.

Na mansão o próprio Fígaro avisou:

__ Mansão Monteiro.

__ Quero falar com dona Helena.

__ Da parte de quem?

__ De Fígaro, mordomo do dr.Raul.

__ Vou avisar.

E quando atendeu:

__ Alô? Fígaro, que bom ouvi-lo. A quanto tempo não nos falamos?

__ Tenho uma péssima noticia pra dar. O dr.Raul morreu.

__ O que? Quando? Como? Onde?

__ Esta tarde mesmo, no escritório aqui da casa. Foi assassinado.

__ Assassinado?

__ Sim, assassinado! Pensei que gostaria de saber por mim do que pelos jornais.

__ Fez bem, agradeço. Já avisou a Cybele na Bella Grega?

__ Já. Acabei de ligar pra lá. Ela também ficou arrasada com a noticia.

__ E a policia? O que disse?

__ Tudo estava arrumado, nada de valor foi levado. Seja quem for, o assassino entrou aqui pra fazer isso. Não foi pra roubar. Não havia marcas de arrombamentos, o dr.Raul deixou o assassino entrar.

__ Minha nossa! Então quer dize que era conhecido do Raul?

__ Foi o que a policia concluiu. O delegado Molina esteve aqui e fez uma centena perguntas mas não disse mais nada sobre o caso.

__ Mantenha-me informada por favor. Apesar de não nos falarmos muito, ele era amigo do meu filho a mais de trinta anos.

__ Não se preocupe dona Helena, eu lhe aviso qualquer novidade.

__ Fígaro, e agora? Pelo que eu saiba o Raul não teve filhos.

__ Não, não teve senhora. Mas tinha um único irmão que também já é falecido. O último Montenegro é o sobrinho Felix.

Na fazenda os irmãos Dias chegavam de Ouro negro enquanto o coronel, seu João e Romeu saiam de jipe:

__ E aí? Como foram lá? __ perguntou Romeu.

__ Nós encontramos... __ começou Neto.

__ Nada __ interferiu Diana __ Não encontramos nada. Infelizmente meu amor. Nenhuma das Mia’s que encontramos tinha a ver com você.

__ É, desculpe-me Romeu.

__ Não é culpa sua Neto. A lembrança inútil era minha, quem sabe algum dia me lembro de algo mais consistente que possa me dar uma pista de quem sou.

Depois da abertura do testamento em que as pessoas quão rica era Mia, os clientes começaram a voltar. Ser sócia da Bella Grega era toda a propaganda que Mia e a Decoradora Danglars precisavam. Os negócios prosperavam, as duas amigas nem acreditavam. Mia agora passava os dias na rua decorando casas, apartamentos, mansões, etc. Natacha aproveitava sua comissão extra pra comprar roupas caras na Bella Grega. Perdia os almoços em uma atividade particular. Especialmente naquela Segunda-feira Mia dispensou Natacha mais cedo, já que no dia seguinte ela faria hora extra pra entrevistar dezenas de novos decoradores e uma auxiliar pras duas. As quatro da tarde Natacha saiu do emprego, numa galeria do Leblon e se dirigiu para um quarto simples de apart-hotel não muito longe dali. Ela entrou, deitou-se na cama e esperou. Quinze minutos depois um homem entrou no quarto.

__ Demorei?

__ Não, acabei de chegar. Como está?

__ Melhor agora, foi ótimo você ter arranjado tempo pra mim hoje.

__ A Mia liberou mais cedo, amanhã vou ter que faze hora extra. Vou passar até parte da noite trabalhando.

__ Meu amor, eu não quero que você seja explorada.

__ Não se preocupe, negociei uma comissão de 20% do meu salário de hora extra.

__ Ótimo!

Os dois amantes conversaram só isso, depois eles se lembraram por que tinham ido lá e começaram a se amar. Pode até ser que entre eles nunca tenha existido amor de verdade, mas com certeza existia paixão. Paixão ardente, de um fogo que consome a alma e que é tão prazeroso quando há o sabor do proibido.

Mia por outro lado tinha problemas. Logo que chegou em casa a noite, depois de uma tarde inteira de trabalho, tomou um longo banho quente e foi quando ainda estava de roupão que a campainha tocou. E assim que atendeu:

__ Ah, é você?

__ Por que não gostou de me ver?

__ Sinceramente não.

__ É isso que eu mais aprecio em você, a sua sinceridade. E é por isso que serei sincero: eu sou um assassino.

__ Que loucura é esta? Quer sair da minha casa?

Willian entrou de vez, sentou-se no sofá e continuou:

__ Eu sou um assassino de aluguel, mas as vezes mato por prazer. Como fiz hoje, M me ordenou matar Raul Montenegro e foi o que fiz. Matei ele.

__ Agora é serio, se não sair da minha casa agora eu vou chamar a segurança do condomínio.

__ Raulzinho era até uma boa pessoa, mas M ordenou e eu o fiz. Matei ele com um tiro no peito, mas depois fiz como sempre: cortei-lhe os pulsos e desenhei na testa dele um M com seu próprio sangue.

__ Você matou o Raul? __ perguntou pasma quase acreditando.

__ Matei! Matei hoje a tarde pó volta das duas da tarde.

__ Foi logo depois do nosso almoço.

__ Foi sim, ele me ligou dizendo que já tinha o dinheiro e eu fui até lá.

__ Olha, você deve estar ficando maluco. Por que não pra casa descansar, quem sabe amanhã você não fica são e vê que não fez nada disso __ disse apavorada.

__ Está duvidando? Está bem, duvide. Eu vou provar pra você, esta noite.

Willian saiu dali e Mia achando que ele tinha ficado maluco. O psicopata rodou pela cidade até anoitecer e depois foi até um bairro pobre. Viu, num ponto e ônibus, uma garota jovem e bem arrumada. Parecia sr secretaria e estar voltando pra casa. Após cinco minutos a observando a rua ficou totalmente deserta e ela sozinha no ponto. Ele se aproximou de carro, parou diante dela e saiu do caro fingindo estar perdido e querendo uma informação. De repente Willian sacou a pistola e atirou duas vezes. Levou-a consigo no carro preto até uma rua mais vazia ainda do centro. Fez com ela o mesmo que com Raul, cortou-lhe o pulso direito e desenhou com sangue a letra M na testa. Só que desta vez ele tirou a blusa e o sutiãs deixando com os seios nus. Neles também desenhou um M. Em seguida se dirigiu pro telefone público mais próximo e mudando um pouco a voz ligou pra policia avisando sobre o local do corpo.

O serial killer saiu em seu carro preto e voltou pra sua mansão. Sua fortuna pessoal foi criada em cima de caos como este que a ele são encomendados. Essa mulher no entanto foi apenas uma prova de capacidade sanguinária, muitas outras na Europa foram devidamente pagas pelo valor desses serviços a alguns milionários com passado sujo. Willian agiu e depois foi dormir, caiu nos braços de Morfeu tão docemente como se em sua consciência não tivesse feito nada de errado.

O delegado Molina foi até a cena do crime novamente a noite pra refletir sobre o caso. O corpo do Raul já havia sido levado pro necrotério, no local havia somente uma fita branca circulando o onde antes estava o corpo. Uma poção de sangue ainda era vislumbrada no chão do escritório, todo o resto da casa e do próprio escritório estavam impecáveis. Fígaro auxiliou só pode ajudar.

__ Sei que já respondeu a todas estas perguntas, mas quero ouvi-las de novo. Como aconteceu?

__ Será um prazer ajudar se isso fizer o assassino aparecer. Na verdade foi tudo muito rápido. O dr.Montenegro me pediu que fosse até o supermercado buscar macarrão pra fazer amanhã no almoço, voltei dentro de 45 minutos e ele já estava morto.

__ Não sabe se ele não recebeu ninguém enquanto você estava fora?

__ Ninguém.

__ E quanto aos outros empregados?

__ Não há, sou só eu.

__ Espera, só você? Não disse isso mais cedo.

__ Não? Então me perdoe. Todo o serviço da casa é terceirizado. Lavanderia, faxineiras, até uma cozinheira que vinha todos os dias fazer o almoço.

__ E quanto ao jantar?

__ O dr.Raul não jantava. Eu gerenciava a casa e fazia uma eventual faxina aqui no escritório e no quarto dele, o dr.Raul não permitia que ninguém mais fizesse esse serviço.

__ Então era só você?

__ Sim.

__ E por acaso notou se está faltando alguma coisa?

__ Para falar a verdade sim, notei isso logo depois que vocês saíram. Havia sobre a mesa uma caderno de couro avermelhado que o doutor usava como diário.

__ Um diário? Que interessante! Mas não poderia estar em outro lugar?

__ Impossível! O doutor e eu nunca tínhamos visitas, a casa era segura pra objetos sobre moveis. Ele não precisava guardar o diário, ficava sempre sobre a mesa.

__ Continue procurando, se por acaso encontra-lo me avise.

__ Está bem, mas tenho certeza que nesta casa aquele diário não está.

O delegado ficou sozinho e falou consigo mesmo:

__ O dr.Raul pediu pro único empregado ir ao supermercado, ficou sozinho por 45 minutos e nesse período alguém entrou. Sem sinal de qualquer arrombamento, então o agressor entrou pela porta. A vitima o conhecia. A morte foi com um tiro no coração, nenhum dos vizinhos ouviu o tiro, então o assassino usou silenciador, era profissional. Agora, como um advogado respeitável conhecia um assassino profissional? E como os dois se conheceram? Por que ele veio aqui? E por que o Raul abriu a porta amigavelmente pra um criminoso? A menos que não soubesse que ia morrer. A menos que o dr.Raul tivesse negócios escusos e este fosse um parceiro. Quantas perguntas sem respostas, eu preciso encontrar aquele diário, pois é nele que está a chave de todo esse misterioso crime. Bem, pode ser que não tenha nada a ver mas, o dr.Raul trabalhava na Bella Grega. E por coincidência ou não faz pouco mais de um mês que o dr.Ricardo Monteiro morreu por causa de freios cortados. Será que uma coisa tem a ver com a outra?

Ao sair de lá o delegado s encaminhou pra um beco de centro da cidade. Uma ligação anônima havia alertado a policia sobre uma jovem assassinada. Ao ver aquela horrível cena, ele ficou ainda mais perdido. O mesmo assassino do dr.Raul matara uma jovem que não tinha nada a ver com a Bella Grega ou com Raul Montenegro.

__ Dois tiros de uma oito milímetros com silenciador, os braços cruzados, o pulso direito cortado e a letra M na testa. Só que desta vez tem mais dois M’s, um em cada seio. Esse caso fica cada vez mais complexo __ concluiu o delegado Osvaldo Molina sem saber o que dizer ou fazer diante das provas e continuou __ o meu maior temor se concretizou.

__ E qual é delegado? __ perguntou um dos policiais.

__ Temos um serial killer no Rio de janeiro.

__ Um serial... o que?

__ Serial killer Correa, um assassino em serie. Ele mata suas vitimas sempre da mesma forma, como se fosse uma marca pessoal. Uma provocação. É como se dissesse: peguem-me se puder.

__ E o que vamos fazer?

__ Não sei, não temos qualquer pista sobre quem é.

__ Delegado, mas se esse serial killer age sempre da mesma forma, e já não deve haver registro sobre casos parecidos.

__ Bem lembrado Corrêa. Amanhã vamos começar a pesquisa, anote todos os detalhes do caso. Ah, e tire essa pobre mulher daqui. Não queremos que pedestres vejam essa cena horrenda.

No dia seguinte Mia acordou cedo com a incessante campainha. Foi abrir a porta ainda de hobby:

__ Willian? Que faz aqui?

__ Vim lhe trazer o jornal.

__ Não precisava fazer isso.

__ Precisava sim __ ele entrou calmamente, sentou-se e colocou o jornal sobre a mesa de centro __ as noticias hoje são boas pra mim e péssimas pra você.

__ Do que está falando?

__ Leia o jornal!

Mia pegou o exemplar da Gazeta Carioca e leu a manchete de capa:

“Mulher desconhecida assassinada friamente foi encontrada a duas quadras da prefeitura com um dos pulsos cortados e uma marca macabra, a letra “M” desenhada na testa e nos dois seios com o sangue da própria vitima.”

Completamente assustada com a matéria, Mia soltou o jornal e olhou com horror aquele misterioso e monstruoso homem a sua frente. Ele com seu largo sorriso de satisfação a olhou inocentemente, demonstrando sua frieza diante dos fatos. Uma mulher tinha morrido só para que ela acreditasse na confissão da noite anterior. Quando a vida lhe trás más noticias, é melhor ser forte, pois serão péssimas as noticias.

continua...

Thiago A Almeida
Enviado por Thiago A Almeida em 28/03/2007
Reeditado em 28/03/2007
Código do texto: T428484
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