Bella Grega XIII

Cap. 13 - Conversas

Depois do que acabou de ouvir, Mia ficou em estado de choque. Caiu sentada no sofá, com a boca muda e os olhos fixos. Willian ao contrario desatou a falar sobre tudo:

__ Tentei fazer com que nos conhecêssemos de forma casual, mas você só fez brigar comigo. Tentei convida-la pra uma grande festa e assim ter sua amizade, mas você só me deu gelo. Tentei algo simples, somente almoçar com você pra ver se assim mudava comigo e nada. Oh que chatice! Você é a mulher mais difícil que já conheci! Então resolvi abrir logo o jogo, eu sou um homem excêntrico que morava na Inglaterra e vim ao Brasil em negócios pro meu pai, dono da Corretora Montgomery. Meu objetivo era conquista-la e namora-la, mas você foi mais difícil que eu imaginei e fiquei encurralado. Agora que sabe de tudo, vou dizer só mais uma coisa: a partir de hoje você é minha namorada. Não quero apressar as coisas, logo seremos noivos mas por enquanto é o bastante para mantermos as aparências.

Mia atônita pega o telefone e começa discar um número.

__ Pra quem está ligando?

__ Pra polícia oras, você é um criminoso.

__ Pode ligar, só arranje provas antes.

__ Já tenho provas, você me confessou.

__ E eu posso perfeitamente nega-las. Será a minha palavra contra a sua.

Ela não sabia o que fazer naquela situação tão complicada, continuava com os olhos fixos. Willian continuou falando, falando e falando, até que Mia desmaiou. Ele a fez cheirar sais que encontrou na cozinha e assim que Mia voltou a sí, continuou falando e falando sobre o mesmo assunto. Eram informações demais pra ela processar em tão pouco tempo. Perdeu a manhã toda nesse monólogo. Natacha ligou mas Willian atendeu, tranqüilizou-a e disse que Mia voltaria no dia seguinte e que ela continuasse a partir das ordens do dia anterior. Também disse Natacha deveria cancelar todos os compromissos pra aquele dia.

Na mansão dona helena recebeu o jornal e, como a maioria da cidade, ficou horrorizada com as noticias. Soube da forma como Raul tinha sido morto e soube do caso da mulher encontrada perto da prefeitura. Silvia logo cedo foi a Bella Grega com Cássio. Os tirariam o dia pra relaxar, primeiro foram pra sauna particular onde ficaram sozinhos pra conversar enquanto o vapor, na minha opinião, os cozinhava.

__ E o que vamos fazer por uma hora aqui dentro?

__ Relaxar Cássio, relaxar.

__ Essa é a idéia Silvia, mas fazer o que? Conversar?

__ Pode ser.

__ E conversar sobre o que?

__ Não sei, que tal sobre seu pai.

__ Não, isso não.

__ Mas você tem que colocar pra fora tudo que sente. Silvia, você não derramou uma única lagrima, só ficou distante com os olhos fixos. Tenho certeza que há alguma coisa que você quer falar e não sabe com quem se abrir.

__ Sabia que de vez em quando eu detesto sua profissão.

__ Ser psicólogo? Mesmo? Eu não acho, agora me diga o que aflige seu coração.

__ Já disse que não quero Cássio.

__ Mas será bom pra você, ouvi certa vez que guardar coisas assim causa rugas pés de galinha.

__ Mesmo?

__ Mesmo!

__ Então está bem, eu falo. Não sei se fiquei triste ou... ou...

__ Diga.

__ Ou feliz com a morte dele.

__ Por que diz isso?

__ Eu não sei. Era meu pai, eu amava muito ele, mas...

__ Mas?

__ Mas acho que uma parte de mim ainda o culpava pelo acidente que morreu minha mãe.

__ Sei, mas não precisa se sentir assim. É normal.

__ É normal achar que foi justo a morte de seu pai?

__ Nas condições de sua vida, claro que sim. Você era apenas uma criança, essas coisas nos marcam inconscientemente. Pode ter sido a vinte anos, mas pra sua cabeça foi tão terrível que ela vinculou o acidente do mês passado como sendo o de vinte anos atrás em morreu sua mãe. E como você culpava seu pai pelo acidente, nada mais justo que ele também ter morrido num acidente de carro. Se quer saber, não s sinta culpada pelo acidente. Não foi você quem o causou.

__ Acha mesmo isso?

__ Claro, eu sou formado em psicologia. Vá a qualquer psicólogo da cidade e ele ira te responder o mesmo.

__ Obrigado!

__ Agora vamos falar de outra coisa.

__ De que?

__ Do nosso casamento, por exemplo.

__ Ah não, do casamento não.

__ Por que não. Vamos fazer dois anos de noivado no Domingo, não posso mas esperar. Já é quase um casamento. Só não moramos juntos.

__ Nós já falamos disso Cássio, nós estamos nos conhecendo.

__ A que isso! Nos conhecendo? Nós transamos desde o nosso namoro, que alias durou um ano inteiro. Se for juntar tudo, nós já estamos casados a três anos. Eu não quero continuar assim.

__ Quer mesmo casar comigo?

__ Se eu não quisesse por acaso eu teria tido a coragem de enfrentar seu pai só com a cara e a coragem. E se você não se lembra, o dr.Ricardo chegou furioso naquele dia. Eu quase desisti quando o vi daquela forma, mas desisti?

__ Bem, não.

__ Exatamente, eu continuei. Fui até o fim. Felizmente ele esperava ouvir aquele pedido a muito tempo e disse que foi a única coisa boa que tinha lhe acontecido o dia todo.

__ Foi corajoso de sua parte.

__ E então?

__ E então o que?

__ Mas será possível que mesmo depois dessa declaração emocionada você não vai dizer nada.

__ O que quer ouvir?

__ Quero saber quando vamos nos casar.

__ Certo, casamos em oito meses.

__ Por que se você não tomar uma atitude depressa, eu vou... o que você disse?

__ Nos casamos em duas semanas.

__ Por que se você na quiser se casar comigo, fale logo...o que você disse?

__ Nos casamos em duas semanas.

__ Mesmo?

__ Claro, você não disse que quer casar? Pois então, nos casamos em duas semanas.

Cássio pulou sobre Silvia beijando-a, os corpos suados da sauna se uniram por um breve instante.

__ Calma Cássio, não é nem hora e nem lugar pra isso.

__ Tá, me desculpe. Me empolguei. Nós vamos nos casar!

O coronel deu ao Romeu a manhã de folga pra pensar numa idéia pra Feira. Eles estavam com pouco tempo pra se organizarem. Ele foi ao rio, ficou sentado na margem com os pés dentro d’água. O rio não era grande, uns vinte metros de largura e alguns de profundidade. Pensou em nadar, mas desistiu. Ouviu de longe os passos de alguém.

__ Olá! __ disse sem se virar.

__ Como fez isso? Tem um olho na nuca?

__ Diana, até um cego saberia que você estava aí. Antes de chegar aqui você pisou em uma dezena de galhos secos.

__ Mesmo é? Terei mais cuidado da próxima vez __ se aproximou e beijou o namorado quando se sentou ao lado dele __ que faz aqui?

__ Pensando.

__ Em que?

__ Na vida, na Feira, em você.

__ Em mim? Que bom! É bom saber que você pensa em mim em seu tempo de folga.

__ Desde que eu cheguei aqui, você foi a pessoa que melhor me acolheu.

__ Eu posso te contar um segredo.

__ Claro.

__ Mas não conta pra ninguém?

__ Se é segredo, não.

__ Sabe por que eu estava aqui no rio aquela noite?

__ Pra falar a verdade não. Não soube.

__ É segredo, não vai contar pra ninguém. Eu estava fazendo uma simpatia pra arranjar namorado.

__ O que?

__ Eu li numa revista de astrologia alguns dias antes e resolvi fazer.

__ Mesmo?

__ Mesmo.

__ E como era a simpatia?

__ Eu tinha que recitar um verso na ultima noite de lua cheia de cada mês. E...

__ E, o que?

__ Eu também tinha que nadar um pouco dentro de um rio e...

__ E...

__ E estar sem roupa.

__ Sem roupa? Quer dizer que quando me encontrou você estava...

__ É, estava.

__ Ninguém vai acreditar numa coisa dessa.

__ Você prometeu que não contaria.

__ Brincadeira, não vou contar. Mais alguém sabe disso?

__ Só a Regina.

__ Já devia imaginar que a Regina também saberia.

No Rio, um Vectra preto último modelo desceu majestoso a rua e parou diante a casa dos Montenegro. Dele saiu um homem alto, negro e completamente calvo carregando uma pasta de metal e de olhos escuros. De expressão séria ele, ele passou pelo portão aberto sem nenhuma cerimônia. Lá dentro bateu na porta e Fígaro o atendeu.

__ Sim? Sr.Félix?

__ Ola Fígaro! Como vai?

Ele entrou e Fígaro fechou a porta.

__ Pensei que só chegaria amanhã?

__ Vim mais cedo. Depois de hoje de manhã quando soube pelos jornais como meu tio morreu, tive que antecipar minha vinda.

__ Desculpe-me não ter falado, não achei que fosse uma coisa pra se contar por a telefone.

__ Tudo bem, eu entendo.

Do alto da escada desceu o delegado Molina com seu sobretudo cinza, dizendo:

__ Quem era Fígaro?

__ Ah, delegado. Este é o sobrinho do dr.Raul, Félix Montenegro.

__ Félix! Eu estava ansioso por sua chegada.

__ E eu queria mesmo falar com o senhor __ respondeu Félix.

__ Infelizmente eu recebi uma ligação urgente agora e preciso ir, mas passe amanhã na delegacia e conversaremos. Há muitos pontos intrigantes nesse caso e espero que o senhor tenha respostas.

__ Eu passo amanhã na sua delegacia.

__ Vou estar esperando.

Mia e Willian ainda se falavam:

__ O que quer de mim seu monstro?

__ O que eu quero? Você! Eu quero você, pra mim.

__ Mas por que eu?

__ E por que outra mulher? Na minha opinião não há mulher mais bela do que você nesta cidade.

__ Eu vou a policia, vou dizer a eles tudo o que me disse.

__ Se for fazer isso, é melhor ter provas do que fala. Minha cara, será a minha palavra contra a sua. E vamos colocar assim, depois das últimas semanas, das manchetes dos jornais, eu quero ver se eles vão acreditar mais em mim do que numa mulher que é suspeita de ter matado o namorado e sumido com o amante.

Mia não acreditava no que ouvia, aquelas palavras caiam como uma bomba em sua já sofrida vida. Obrigada ela teria que ter um relacionamento com um assassino.

No apartamento dos Maia, Ivan tentava convencer o filho.

__ Vamos começar tudo de novo papai?

__ Vamos começar quantas vezes forem necessárias até que você se convença da besteira que está fazendo.

__ E quantas vezes forem necessárias eu responder a mesma coisa, Henriqueta é honesta e boa. Ela pode não ser nobre como o senhor quer, mas tem atitudes nobres.

__ Atitudes? Qualquer um é capaz de atitudes nobres, mas só uma pessoa de berço, de sangue azul pode ser um nobre de verdade. E duvido que essa garota tenha sequer um parentesco distante com a nobreza.

__ Eu vou falar pela última vez, não me importa essa sua nobreza de herança. O que eu quero e vou fazer e é seguir o meu coração. E ele me diz que Henriqueta é a mulher certa pra mim.

Depois da sauna, Silvia e Cássio foram receber uma revigorante massagem. Estavam os dois deitados quando o assunto apareceu de repente:

__ Silvia, quando é a próxima reunião de diretoria?

__ Por que?

__ Outro dia fui a loja e a encontrei num dos corredores. Ela me disse que está muito cansada do ritmo acelerado da presidência. Eu acho que alguém deve ser nomeado como Zeus no lugar dela.

__ Não se preocupe, a diretoria ira se reunir dentro de duas semanas e deve ter algum nome.

Foi totalmente sem querer, mas a pergunta era inevitável:

__ Será que a Mia terá um candidato em mente, alguém da confiança dela?

__ A Mia não manda nada aqui dentro. Só 9% não dá nenhum poder a ela.

__ Você ainda não soube?

__ Do que?

__ Bem, seu pai tinha 100% das ações e suas ordens eram sempre acatadas, mas eu li o regulamento interno. E lá diz bem claro que pra escolher o novo presidente, ter que haver uma votação com todos os diretores e acionistas.

__ Mas eu também sei que o presidente também pode ser escolhido com a maioria absoluta das ações e tenho o controle de 91%. Mia não manda nada.

A semana passou depressa e logo era Sexta-feira, a famosa Feira se aproximava e pra lá foram: da Bella Grega o Rafael e da CCA Romeu e o presidente da Cooperativa, o sr.Calisto Freitas.

Num grande salão de São Paulo, a feira reuniu gente de toda parte, do Brasil e do exterior. A Cooperativa não era única comercializando produtos de Avestruzes, mas foi a que mais impressionou pela organização. Na Feira reuniu também criadores de vários outros animais exóticos aos brasileiros como carne de perdiz, um tipo de peixe europeu de água doce, e até certas plantas comestíveis asiáticas e outras européias. A Feira começou na sexta na tarde e iria até o domingo a tarde. Três dias de produtos novos e caros pro mercado interno.

Também na Sexta-feira a tarde, enquanto o filho foi pra são Paulo, Ivan foi a Bella Grega tentar esquecer a vergonha que seu estava fazendo ele passar. Comprou uma ou outra lembrancinha pra amante e no departamento de roupas masculinas:

__ Por favor, eu quero... Percival?

__ Ivan?

__ Que faz aqui?

__ Eu trabalho aqui, se esqueceu do testamento?

__ É verdade, eu tinha me esquecido. Alias, uma coisa ridícula.

__ Não venha você também fazer piada.

__ Não vim fazer piada.

__ Não?

__ É claro que não, essa situação não é pra fazer piada. Você é Percival Monteiro, membro de uma das famílias mais respeitáveis e ricas do país.

__ Eu concordo, mas se eu quiser receber minha parte na herança terei que trabalhar como um insignificante vendedor.

__ Não tem nada no que eu possa ajudar meu amigo?

__ Infelizmente não, tentei impugnar o testamento mas nem minha mãe nem Silvia deixaram.

__ O seu problema pelo menos termina em um ano, o meu é permanente.

__ O que aconteceu?

__ Não soube do Rafael e da Henriqueta?

__ Ah, sim. Soube e detestei. Como um rapaz herdeiro da antiga nobreza brasileira pode se envolver com uma enfermeira. Uma rélis plebéia.

__ Não sabe pelo que eu estou passando, ver meu único filho jogando sua vida fora.

__ Mas há conserto, você pode conversar com ele. É seu filho, vai entender.

__ Eu já tentei isso, mas parece que ficou completamente cego. Ele não me ouve, utilizei todos os meus argumentos e nada. Tudo o que ele sabe dizer é que ela é bonita, boa e honesta.

__ Bem, até que pra uma plebéia, ela é mesmo muito bonita.

__ Oh sim, isso é. Mas não tem berço, não serve pra casar.

__ Mulheres como ela servem apenas como diversão passageira, não pra casar.

__ Eu concordo, mas fazer o que?

__ Talvez a resposta esteja justamente no que ele vê nela.

__ Como assim Percival? Explique-se melhor.

__ Veja bem: “ele só sabe dizer que ela é bonita, boa e...”

__ ...Honesta!

__ Isso! Não podemos tirar sua beleza, nem faze-la agir errado, mas podemos fazer parecer que é desonesta.

__ A conversa fica mais interessante a cada momento.

__ Podemos acusa-la de ladra.

__ Ladra?

__ Claro, nesse mesmo departamento ha muitas coisas pequenas que podem facilmente cair dentro da bolsa dela. Carteiras de couro, abotoaduras de ouro, relógios cravejados de diamantes.

__ Os melhores e mais caros produtos do país.

__ Exato! Qualquer uma dessas coisas pode parar dentro da bolsa dela, acusa-la de roubo é fácil. E fazer todos acreditarem que ela roubou mesmo é mais fácil ainda.

__ Você é um gênio Percival! Um gênio! Finalmente quando eu encontrei alguém que me entenda, o mesmo amigo ainda me ajuda a salvar meu filho de uma pistoleira.

__ Estou aqui pro que precisar.

continua...

Thiago A Almeida
Enviado por Thiago A Almeida em 29/03/2007
Código do texto: T429701
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