Bella Grega XX

Cap. 20 - Lua Nova

Dario estava no seu quarto, vendo o pôr do sol através da janela quando Estér entrou:

__ Hoje não tem lua no céu __ disse Dario.

__ É por que é noite de lua nova senhor __ disse Estér.

__ Exatamente, lua nova. Um perigo! Você sabe o que acontece na lua nova Estér?

__ Não senhor, o quê? __ respondeu sem querer ouvir a resposta.

__ No interior eu aprendi muitas coisas interessantes. Como por exemplo: em lua crescente se faz de tudo, desde plantar a cortar cabelo. É lua da prosperidade. A lua cheia é pra fartura. O que se planta na lua cheia vem com abundância. Lua minguante é a pior __ disse Dario com ar de sabedoria.

__ Essa eu conheço. Não se corta cabelo nem se planta na minguante, a menos que se queira cabelo curto e grãos ralos __ disse Estér.

__ Isso, mas a lua nova é o problema maior. como não tem lua, diz-se que nada cresce plantado nesses dias. Além, é claro, de ser um período de problemas. Dias em que nem se deve sair de casa.

__ E por falar em dias difíceis, o senhor tem uma visita.

__ E quem é? __ disse Dario se virando e encarando a governanta.

__ Uma moça que diz conhece-lo, ela se chama Diana Dias.

__ Como? Diana está aqui? __ disse Dario abrindo um sorriso tímido.

__ O senhor a conhece? __ perguntou Estér.

__ Deixe-a entrar, vou recebe-la no escritório.

__ Sim senhor __ e dizendo isso, Estér se retirou.

Na entrada da salão Dario viu duas grandes malas ao lado da porta. Logo que surgiu no alto da escada, Diana correu e pulou nos braços do Dario. Deu-lhe um beijo e disse:

__ Oi! A quanto tempo! __ Diana disse somente depois do longo beijo.

__ Que faz aqui Diana? __ perguntou Dario intrigado, mas sorrindo.

__ Oras, só por que você descobriu que é rico não quer dizer que deixamos de ser namorados __ Diana argumentou.

__ Bem, pelo menos isso tem alguma lógica.

__ Claro que tem, fui eu quem disse. O vovô dizia que eu sempre tenho razão.

__ Mas agora as coisas mudaram __ disse Dario ficando sério.

__ Por que? Só por que ficou rico? Nem pensar que eu vou deixar você ir só por que mudou de nome __ disse Diana com convicção.

__ Eu não mudei de nome, esse é o meu verdadeiro nome.

__ Melhor ainda, você sempre ficava triste quando tocava nesse assunto, agora não é mais preciso.

__ Mas ainda agora por que não recuperei a memória.

__ Mas mora na sua casa, é chamado pelo seu nome verdadeiro e vai freqüentar lugares familiares. Logo, logo você vai lembrar. É uma questão de tempo.

__ Esse é um lado seu que eu admiro muito, ser positiva em qualquer situação.

__ Agora, onde está meu quarto? __ disse Diana ao finalmente se desvencilhar dos braços do namorado.

__ Seu quarto?

__ Claro, ou pensou que eu ficaria num hotel sendo que com certeza há dezenas de quartos vazios nesta enorme mansão?

__ Não é assim que são as coisas sabia? Você não pode se auto-convidar, tem que ter a permissão do dono.

__ E você não é o dono? E eu não sou sua namorada? Pois então, quer convite melhor do que esse.

__ Está bem, eu concordo. Mas aprenda a lição.

__ Lição aprendida! Agora me carrega? __ disse Diana levantando os braços.

__ O que? Como te carregar? __ disse Dario com rosto espantado.

__ Até meu quarto, por favor? __ disse chegando mais perto e roçando o pescoço dele com seu narizinho delicado.

__ Eu não sei como você me convence a fazer estas coisas __ dizendo isso Dario pegou Diana no colo e a levou pra um dos quartos de hóspedes.

Antes do anoitecer Willian foi ao apartamento da Mia, que já tinha recebido alta do médico:

__ O que quer aqui? Já não causou sofrimento o bastante? __ disse Mia.

__ Na verdade hoje vim lhe trazer uma boa noticia __ disse Willian.

__ Você vai se demitir da Bella Grega e ir pra conchinchina, acertei?

__ Não, eu vim lhe trazer isto __ disse mostrando o envelope branco.

__ Uma carta? Pra mim? Não precisava! __ disse Mia com desdém.

__ Hoje você está tão engraçadinha __ disse Willian com um sorriso malicioso.

__ Obrigada! __ agradeceu a jovem e se recostando no sofá.

__ Eu encontrei esta carta endereçada a você na Bella Grega __ disse Willian sendo direto.

__ Mesmo __ disse pegando a carta.

__ Curiosamente ela estava escondida dentro de um lugar bem estranho, nos pés da estátua de Zeus.

__ “Sob os pés do rei a verdade” __ exclamou Mia baixinho.

__ O que disse? __ perguntou Willian.

__ Nada, nada. Olha, eu agradeço imensamente por ter me entregue esta carta __ disse avançando sobre o envelope sobre a mesa de centro.

Willian saiu dali ainda sem entender a reação dela, mas conformou-se. Mia pegou a carta e a abriu rapidamente e leu:

"Mia, lhe escrevi esta carta pra que soubesse a verdade. A verdade sobre aquela fatídica noite e sobre meu filho".

__ Filho?! __ Mesmo chocada Mia continuou lendo:

“A muitos anos atrás numa época em que meu casamento com Marcela passava por dificuldades, eu me senti atraído por uma mulher que era próxima a mim. Mesmo casada, ela correspondeu a minha atração e com ela tive um filho. Minha imaturidade me fez renegá-lo naquele momento, então ela fingiu que o filho era do marido e assim foi criado. Meu único filho homem criado como filho dos empregados. Meu remorso hoje é grande demais pra contar a ele e espero que entenda esta minha atitude. Escrevi esta carta e deixei a pista com você pra que entregasse isso a ele, ao meu filho. É a única pessoa livre a quem posso confiar. Mais duas pessoas sabem disso, fale com elas primeiro. Fale com minha mãe e a Cybele. Meu filho é...”

__ Ele?! __ disse Mia.

Após falar com Mia, Willian foi pra casa e telefonou para alguém importante:

__ Alô? M? Preciso lhe falar.

__ ...

__ É sobre uma coisa que achei hoje, uma carta.

__ ...

__ Mas eu juro que é importante, a carta era do dr.Ricardo pra Mia.

__ ...

__ Eu também achei estranho, mas quando li fiquei sem palavras.

__ ...

__ O que estava escrito? Você nem imagina, lá dizia que o dr.Ricardo tivera um filho fora do casamento e também dizia quem era esse filho.

__ ...

__ É claro que entreguei a carta a ela. O dr.Ricardo escreveu pra Mia, pra quem mais eu entregaria?

__ ...

__ Pra você? Porque eu entregaria para você?

__ ...

__ Isso não é motivo, sabe muito bem que eu respeito a família. E mesmo que o pai dele esteja morto, há mais Monteiros na casa. Mais parentes pra alguém que se julgava sozinho.

__ ...

__ Não fale assim comigo, eu sempre lhe fui fiel desde Paris. Jamais trairia agora. Gosto de você, e não faria nada que pudesse lhe magoar.

__ ...

__ Eu não te trai, já disse. Só fiz o que achei certo. E depois, a carta era pra Mia mesmo.

__ ...

__ Quer saber, eu não tenho nada mais o que lhe falar. Tchau!

Em outra parte da cidade, Cybele e Carlos corriam pro aeroporto. Eram quase duas horas da manhã e a rainha já estava no Rio, ela decidiu vir mais cedo. Os dois atravessaram o salão, passaram por dezenas de corredores e chegaram as pistas onde um jato particular com escritas estranhas repousava no sereno. De dentro saíram vários homens de ternos preto, com certeza da segurança, e também três pessoas. Primeiro um homem com pose séria e olhar frio, depois uma mulher aparentando uns sessenta anos e por fim uma adolescente.

Em respeito Cybele se aproximou da mulher mais velha, curvou-se e durante a reverência falou:

__ Majestade, é uma honra recebê-la em nosso país.

Ao levantar-se a mulher acenou pra Cybele e disse bem baixinho:

__ Ela é a rainha.

__ O quê? __ respondeu sem entender.

__ Eu acho que ela disse que eu sou a rainha e não ela __ respondeu a adolescente.

Só então o homem sério se apresentou:

__ Dona Cybele Maia?

__ Sim, sou eu.

__ Eu sou Boris Mirachenko, esta é a princesa Georgina __ disse apontando pra mulher mais velha e terminou __ e esta é a rainha Anahí Klemeinov.

__ Perdão majestade, eu não sabia de sua tenra idade. E para lhe ser franca estou mais acostumada com rainhas de idade mais avançada. Sem querer ofender __ Cybele disse depressa tentando não criar um incidente internacional.

__ Não ofendeu. Isso acontece às vezes, mas não é culpa sua. A culpa, como sempre, é do meu porta-voz real. Mirachenko é muito atrapalhado e esquecido. Bem, eu estou cansada da viagem. Poderia mostrar agora onde fica o meu hotel.

__ Este é um interessante ponto, como sua chegada só era esperada para daqui dois dias, eu... quer dizer... suas reservas são somente para Sexta-feira.

__ E daí? __ disse a rainha como se o fato não tiovesse nenhuma importância.

__ Bem, até Sexta-feira as suas reservas não estarão disponíveis __ disse Cybele.

__ Mas eu sou uma rainha.

__ Eu sei majestade, mas estamos em alta temporada. Todos os hotéis da cidade estão lotados.

__ Então resolva, não espera que eu dê uma solução?

Meio sem jeito de falar, Carlos sussurrou no ouvido da patroa uma proposta:

__ Meu assessor teve uma idéia. Aqui perto do aeroporto há vários hoteizinhos baratos em que seus seguranças podem ficar.

__ E enquanto a nós? __ perguntou a princesa.

__ Meu assessor é membro de uma respeitável e rica família desta cidade, se não se importarem, poderão, Vossa Majestade, a princesa e o Porta-voz real, ficarem na mansão Monteiro. Por um curto período de tempo, é claro.

__ E é essa mansão é digna de uma rainha? __ perguntou Mirachenko.

__ Sim majestade, uma luxuosa mansão digna da realeza __ respondeu Carlos.

__ Muito bem, gostei da idéia. Principalmente em ficar livre dos meus seguranças. Vamos logo __ disse Sua Majestade, a rainha Anahí.

Carlos levou Sua Majestade pra mansão Monteiro enquanto Cybele levava os seguranças pra um desses hoteizinhos baratos perto da aeroporto.

Três quartos próximos um do outro foram escolhidos pra os três visitantes. E apesar da insistência, o Porta-voz real não conseguiu convencer Carlos a levar os seguranças junto pra mansão. Ele argumentou o óbvio, a casa não era dele e somente por ser uma rainha e uma princesa que eles poderiam ficar sem a permissão do Dario, que já dormia. Depois todos foram dormir, o cansaço era grande por uma viagem tão grande. De uma das malas a rainha Anahí tirou um pijama feminino (uma túnica branca de sêda que vai até sos pés).

Por ter dezoito anos e reinar absoluta, a rainha fazia o que queria e era muito mimada por seus criados e súditos. No meio da noite ela sentiu fome. Não tinha comido nada antes de se deitar. Então saiu pelos corredores da mansão sem rumo, procurando a cozinha. Depois de alguns minutos ela finalmente chegou a cozinha, onde já havia gente.

__ Quem é você? E o que faz aqui a esta hora? __ perguntou a Rainha.

__ Sabe, eu poderia fazer a mesma pergunta __ disse Lucas.

__ Eu estou com fome, vim comer alguma coisa __ explicou a rainha Anahí.

__ Eu também, por isso o pão e as outras coisas __ e apontou pro balcão onde essas coisas estavam espalhadas __ Estou fazendo um sanduíche.

__ Pois faça um pra mim também __ ordenou a rainha com toda sua altivez.

__ Eu não, faça você. Eu não sou empregado de ninguém que mora aqui não viu.

__ Granfino? Você pensa que eu moro aqui? __ disse a Rainha olhando diferente para Lucas.

__ Não é uma das empregadas? Aqui tem dezenas mesmo, não tinha te visto ainda.

Ela sorriu e disse:

__ Meu nome é Anahí.

__ Que nome estranho! __ disse Lucas dando uma generosa mordida no sanduíche pronto.

__ Como assim estranho? E qual é o seu?

__ Lucas.

__ Bem, Lucas, pois saiba que de onde vim o seu nome é que é estranho.

__ Mesmo? E de onde é? __ perguntou o peão com curisidade.

__ Sou se Dástia __ respondeu a Rainha começando a fazer seu próprio sanduíche.

__ De onde? __ disse coma boca cheia.

__ Dástia, é nome do país de onde vim.

__ Que nome pra um país? E onde fica?

__ Na Europa, bem perto dos Montes Urais.

__ Montes o quê? E como veio pra cá?

__ Vim na comitiva da Rainha.

__ Uma rainha? Tem uma rainha aqui mansão? __ disse Lucas limpando a boca e soltando lanche na mesa.

__ Tem, por que? Quer conhece-la?

__ Eu não, ela deve ser muito metida e de nariz empinado.

__ Isso não são modos de falar da rainha __ respondeu com severidade.

__ Ah, não vai me dizer que ela é educada?

__ Muito bem educada.

__ Não falo de estudo, fala de educação com as com outras pessoas.

__ Ah, sim. Ela é muito geniosa. Mas é a rainha.

__ E daí? A Rainha Elizabeth também é rainha e sempre ouvi dizer que ela é educada com todo mundo.

__ Se pensar deste modo, mas ela é rainha. Ela pode tudo.

__ A senhorita vai me desculpar, mas não pode não. Pelo que sei, uma rainha deve governar e cuidar do povo.

__ Mas ela gosta do povo.

__ Ela deve cuidar de todo povo, e os que trabalham pra ela também fazem parte do povo. Afinal, de onde saíram os empregados que servem ela?

__ Você tem uma estranha lógica, mas não deixa de estar com razão __ Anahí sorria como se nunca tivesse o feito.

__ É claro que sim, eu conheci um homem muito bom. Sabe, o coronel sempre dizia a mesma coisa. E eu acho que ninguém nunca teve coragem de dizer isto a ela só por que é a rainha.

__ Eu direi a ela.

__ Mesmo? Pois mande outro recado de Lucas Sobral, o respeito tem que ser merecido e não só por que ela tem uma coroa na cabeça.

__ Boa frase! Você a criou?

__ Não, li num calendário __ e voltou a comer.

Na mesma noite outra pessoa que não conseguia dormir saiu pelos corredores. Só que esta em especial andou certeira até o quarto do Dario, abriu a porta e fechou-a devagar, em total silêncio. Pé ante pé se aproximou da cama e entrou debaixo das cobertas. Dario acordou assustado e quando acendeu o abajur:

__ Diana? Que faz aqui?

__ Eu me senti tão sozinha no meu quarto, e pensei: o Dario também deve estar tão sozinho naquele quarto enorme. Aí eu vim lhe fazer compania.

__ Pois não era preciso, eu não me sinto sozinho.

__ Mas eu me sinto __ Diana aformou.

__ Olha Diana, volta pro sua cama, vai? Eu quero dormir.

__ Boa idéia, vamos dormir.

Diana pôs a cabeça no travesseiro, disse boa noite e fechou os olhos. Dario tentou dizer alguma coisa mas ela estava tão bonita a luz amarelada do abajur. Nos últimos tempos eles até começaram a namorar e apesar de ter escondido a verdade, ela sempre tinha estado ao seu lado. Por quase dois meses ela foi sua confidente, foi quem sempre lhe recebia com um sorriso. Não podia expulsa-la da cama. Tudo isso lhe passou pela mente em questão de dois segundos, depois apagou a luz do abajur e os dois dormiram abraçados. Não aconteceu mais nada, e nem precisava pois era o que os dois queriam. De tanto insistir nas últimas horas, Dario a perdoou quando apagou o abajur. E Diana conseguiu, além do perdão, ficar com o amado.

Pode ser que a lua nova traga problemas, mas também traz novos recomeços. Logo a será lua crescente, e tudo que crescer nesse período será diferente no que existia, pois será algo novo que veio com a lua nova.

continua...

Thiago A Almeida
Enviado por Thiago A Almeida em 05/04/2007
Reeditado em 12/04/2007
Código do texto: T438220
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