O BÊBADO CONHECEDOR DAS LEIS

Moro em uma região formada por algumas cidades de porte médio, e outras pequenas, que podemos considerar áreas rurais.

A cidade em que eu moro, esta em pleno desenvolvimento, eu admiro essa evolução, mas gosto do cheiro de mato, para obter essa regalia eu faço ambulatório de ginecologia e obstetrícia em áreas rurais.

A história que eu vou contar eu ouvi sentado no banco da praça, quando aproveitava o intervalo do meu almoço. Quem contou diz que é verídica, para ser sincero não sei, mas me foi passada com detalhes e nomes, que para evitar problemas eu modifiquei.

Em uma dessas pequenas cidades, localizadas no Vale do Paraíba, havia um local que era ponto de encontro dos caboclos da região, gente humilde mais de trabalho árduo que ali no fim do dia, se aportavam junto ao balcão e bebericavam uma cerveja, mas na maioria das vezes a aguardente é quem fazia parte do cardápio. Torresmo, linguiça de porco e chouriça, esses eram os petiscos prediletos.

Mazagão, sujeito pacato, morador nascido na cidade, humilde, trabalhador rural, magro, de pequena estatura, sempre ali fazia o seu aporte.

Muitos diziam que a mulher de Mazagão não merecia o marido que tinha, ele ficava quieto, amava Madalena com todo amor que um homem poderia ter por uma mulher. Ele sempre entrava cabisbaixo no boteco, porque ouvia os comentários baixinhos que se faziam a respeito do seu relacionamento.

Há mais ou menos um mês, um morador novo começou a fazer parte daquele recinto. Ainda jovem, talvez 25 anos no máximo, extremamente forte, de feições atraentes, que andava mexendo com as mulheres da região, por isto não era bem vindo à venda do senhor Tibúrcio, porem o local era publico e ele podia entrar e sair dali a hora que bem quisesse. Já fazia uns quinze dias, que toda vez que ele se encontrava com Mazagão, ele repetia as mesmas palavras.

--- eis o homem que não cuida da mulher, se precisar de ajuda, pode chamar o Tenório. Eu dou conta de tudo. - assim dizendo, o jovem recém-chegado ria.

Mazagão sujeito franzino sabia que se entrasse em atrito levaria a pior. Conhecia a mulher que tinha, mas nunca ninguém havia falado isso em sua cara, e ele fazia vistas grossas para os acontecidos, ele a tinha a noite, quando então ela satisfazia todos os seus desejos, e ele se dava satisfeitos com isso e se acostumara com a situação.

Entretanto, esse comentário feito todos os dias o deixava irritado, e acima de tudo o colocava como um frouxo.

No dia anterior, fora até um conhecido colecionador de armas e pediu um revolver emprestado. Guardou a arma em casa, pois só iria usa-la em ultimo caso.

Fez de conta de que não ouviu o comentário. Recostou-se no balcão e pediu uma pinga.

--- Tibúrcio, manda uma daquelas de queimar a goela, to de saco cheio. - o vendeiro também estava, na verdade todos ali presente também estavam, mas o forasteiro era forte e tinha uma faca de grande porte na cintura, via-se que tinha sangue ruim correndo nas veias daquele homem.

--- pinga não é para fracotes, é para homens de verdade. - resmungou o jovem atrevido, aproximando-se de Mazagão. Prosseguiu. --- quer que eu te ajude com sua mulher, ela esta precisando de um cabra macho. - mesmo falando baixinho, quase todos escutaram a insinuação. Mazagão não se conteve e mesmo sendo inferior em estatura tentou uma agressão. Coitado. O braço forte do forasteiro segurou sua mão, ao mesmo tempo em que em uma agilidade impressionante, empunhou a faca na mão direita.

--- homem frouxo como você eu capo. - disse o forasteiro. Guardou a lamina, e deu um supetão que jogou Mazagão há uma boa distancia. Todos os presentes ficaram quietos. O agredido se levantou e saiu pela porta com os olhos cheios de lagrimas, mas o coração ardia em fogo. Caminhou em direção a sua casa. Sua esposa estava na porta, olhando a passagem de alguns tropeiros.

A HISTÓRIA PODERIA TERMINAR ASSIM, MAS ELA TEVE OUTRO FINAL.

CONTINUA

Ele entrou em sua casa, e foi em direção ao seu esconderijo, pegou a arma, viu se estava carregada. Sim. Todas as balas reluziam quando ele abriu o reservatório de munição, ele precisava de uma só, tinha tiro certeiro, fora na juventude exímio caçador, parou quando um dia a caçada virou contra o caçador.

A mulher mal o viu, ela estava entretida com o flerte que fazia.

Ele saiu. Os olhos ainda estavam umedecidos.

Adentrou a porta da venda. O 38 estava alojado em sua cintura no seu costado.

--- então o corninho voltou, acho que quer mesmo levar uns tabefes de verdade. - assim dizendo o forasteiro foi em sua direção.

Os olhos de Mazagão reluziram com fagulhas em fogo de brasa, passou a mão pelas costas e sacou o 38. Os disparos foram contados, o primeiro atingiu o peito, o forasteiro se manteve em pé e ainda caminhava. O segundo atingiu o braço, o mesmo que antes tinha empunhado a faca. O forasteiro ainda caminhava, olhos raivosos, boca sedenta para matar o homem que tinha a ousadia de enfrenta-lo, mais um passo e o terceiro tiro acertou bem entre os olhos, e o galanteador caiu para trás, como se alguém o tivesse puxado violentamente naquela direção.

Mazagão sorriu. Pegou a arma e a deixou sobre o corpo inerte. Ninguém tentou segurá-lo, ele saiu da mesma maneira que entrou. Em silencio.

A HISTÓRIA PODERIA TERMINAR ASSIM, MAS TEVE OUTRO DESFECHO.

Os acontecimentos que vieram depois é o mais importante de tudo.

A origem do forasteiro foi descoberta, era filho de um fazendeiro de uma cidade vizinha, que logo contratou um advogado de qualidade. Mazagão se embrenhou na mata, esperando ajuda de alguém para conseguir ficar livre da acusação de assassinato.

A história do crime correu as cidades próximas, todos sabiam que o trabalhador rural não tinha dinheiro para pagar um advogado, iria depender da promotoria publica alguém que não o conhecia, e que talvez não tivesse o mínimo interesse em protegê-lo. Sim. Ele tinha cometido um crime, mas as circunstancias o favoreciam. O pai do morto, já distribuía dinheiro a solta, queria ver o assassino do filho preso, não tomava conhecimento da deslealdade que o filho vinha praticando não somente com Mazagão, mas com muitas outras pessoas da redondeza.

Três dias depois do assassinato, apareceu na cidade um advogado chamado Antônio, fazia questão de que o chamassem Dr. Antônio, tinha um grave defeito, era alcoólatra, e isso se percebia claramente em suas atitudes, porém conhecia as Leis como ninguém.

Doutor Antônio, tomou conhecimento do caso, no dia que adentrou o boteco do Tibúrcio. Homem falante, mais ainda quando já tinha tomado várias doses de pinga, exclamou em voz alta.

--- não conheço esse tal de Mazagão, mas eu juro, tenho vontade de ser seu advogado, e com certeza eu o deixarei livre, foi legitima defesa o ato que cometeu.

Alguns que ali estavam presentes riram. Imagina, um bêbado, defendendo um pobre coitado, que matou um filho de fazendeiro rico, os dois serão crucificados.

O advogado escutou alguns comentários.

Já demonstrando que as pernas não o sustentavam mais, recostou no balcão da venda, e olhando fixamente para todos os presentes, fez a seguinte reflexão.

--- amigos... Eu bebo, bebo muito, mas quando entro em um tribunal estou tão sóbrio como o mais fiel discípulo de Jesus, se alguém duvida que eu livre Mazagão da cadeia, é só pagar meus honorários, e tem mais, se eu perder eu devolvo o dinheiro recebido.

Tibúrcio passou a mão pelos cabelos ralos.

--- e quanto o doutor cobra para defender nosso amigo. – perguntou enquanto lavava alguns copos.

--- 30.000 mil reais. – respondeu sem pestanejar o embriagado advogado.

Um murmurinho correu por toda a venda. Para aquela região era muito dinheiro, dava para comprar no mínimo uns seis hectares de terra. Impossível, Mazagão teria que continuar foragido, ou então entregar-se para a justiça dos homens.

Tibúrcio coçou novamente os cabelos ralos.

--- pois bem doutor, como o senhor disse que devolve o dinheiro caso perca a ação, eu contribuo com 5.000 reais, e acho que todos nós tempos que cada um contribuir com o que pode. O forasteiro teve o que mereceu, e olhe vocês que estão ai com o traseiro esquentando as minhas cadeiras sempre fizeram vistas grossas, mas ele andava cantando a mulher de todo mundo, e pelo que sei não vou falar nomes, alguns tem que passar abaixado debaixo da minha porta. Tibúrcio riu.

Não escutou um comentário que veio lá no fundo, bem baixinho.

--- Inclusive ele.

Foi feito uma lista em papel de pão, e cada um dos presentes foi assinando e colocando o valor da doação, no final da noite os 30.000 já tinham sido arrecadados, porém doutor Antônio já não estava mais presente, a pinga o tinha derrubado e ele foi para o seu escritório e moradia.

Teria o bacharel capacidade de defender Mazagão. Seria ele um advogado competente.

No dia seguinte, ele se aportou novamente na venda, desta vez estava sóbrio, parecia outra pessoa. Terno preto bem passado. Sapatos engraxados, barba bem feita. Um homem conhecedor das Leis.

--- Meu caro Tibúrcio recebi o seu recado, e vim o mais rápido que pude.

--- do que se trata?

--- conseguimos arrecadar o dinheiro, porém eu farei um adiantamento de 10 por cento do valor, o restante somente após o julgamento.

--- eu sou homem de bem, não quero nenhum tostão agora, receberei tudo após o veredicto. Neste momento eu quero conhecer meu cliente.

Mazagão tinha sido avisado dos acontecimentos e estava escondido atrás do balcão. Levantou-se acabrunhado, magro, olhos tristes, nem a esposa até aquele momento ele tinha ido ver.

--- estou aqui doutor.

O homem conhecedor das Leis o olhou de fio a pavio. Simpatizou-se com o pobre coitado.

--- venha... Vou leva-lo até a delegacia e apresenta-lo ao delegado. Você não pode ser preso, pois não foi atuado em fragrante, e poderá responder em liberdade, porém, fiquei sabendo que alguns capangas vivem vigiando sua casa.

Mazagão logo pensou. Será que é por minha causa ou por causa da puta da minha mulher. Esse é outro problema que vou resolver depois.

---não se preocupe doutor, eu tenho onde ficar gostaria também de me separar da minha mulher, ela pode ser linda, corpo bonito, mas não vale mais sangue a ser escorrido.

--- faz muito bem Mazagão, o preço que cobrei já esta inclusa a sua separação, quando tudo estiver resolvido você procura alguém que te mereça.

Com essas palavras doutor Antônio colocou a mão sobre os ombros do seu cliente e saíram em direção a Delegacia, uma multidão seguiu em cortejo. O alcoólatra conhecedor das Leis começava a causar admiração no povo da cidade. O que o fizera viciar na bebida. Essa é uma história que contarei outro dia, neste momento, precisamos chegar aos finalmentes.

O delegado recebeu Mazagão com certa relutância, ele tinha sido avisado pelo rico fazendeiro que se o criminoso fosse pego, ele queria ficar sabendo. Porém, os argumentos apresentados por doutor Antônio o colocaram sem direito a contestação. Não havia fragrante do crime, Mazagão era nascido na cidade, tinha emprego de carteira assinada e residência própria no município, poderia responder pelo crime em liberdade, a Lei lhe facultava esse direito.

Os papéis foram assinados. Um boletim de ocorrência aberto, agora tudo seguiria os tramites legais.

Inicialmente o julgamento foi marcado para a cidade vizinha, onde o rico fazendeiro mandava e desmandava. Porém doutor Antônio conseguiu a transferência do julgamento para a cidade onde o crime ocorreu, sabia que na cidade do fazendeiro o seu cliente não teria chance, e poderia mesmo ser linchado pelos seguidores do latifundiário.

Essa primeira vitória judicial fez com que a população da pequena cidade começasse a confiar nas qualidades do defensor de Mazagão. Entretanto, o crime tinha sido cometido, que astucia ele usaria para fazer a defesa do pobre coitado.

11 de maio.

Este foi o dia marcado para o julgamento. Dr. Antônio durante os seis meses que antecederam este dia, conseguiu a separação de Mazagão, não houve discussão, a mulher era esperta, ou acreditava ser esperta, pois a chance do marido ficar preso era enorme, e concordando com a separação, ficou com a casa, e o pouco dinheiro que o assassino tinha guardado. Mazagão foi morar com o seu advogado. Na frente o escritório. Depois uma sala, um banheiro e dois quartos. Ele não entendia porque o advogado se preocupava tanto como ele, e o ajudava sem fazer perguntas. Mazagão, homem pacato, e cumpridor dos seus deveres trabalhava, pagava suas contas. Sempre ouvia comentário que infelizmente ele não iria escapar da prisão. O pai do forasteiro tinha muito dinheiro, mas não contava com a astúcia do homem conhecedor das Leis.

O rico fazendeiro tentava mudar a opinião publica da cidade, hora colocando anúncios no jornal, ora distribuindo folhetos incriminando Mazagão como homem cruel, mas isso sortia pouco efeito, a população conhecia o filho que tinha.

Mazagão se mantinha quieto, agora estava livre da mulher, não tinha mais o prazer daquele corpo escultural, mas também não ouvia mais o comentário baixinho sobre as atitudes promiscua das ex-esposa. Quanto muito perturbado ia até a casa da luz vermelha, fazia o que tinha que fazer pagava o que tinha que pagar e voltava para o seu quartinho. Sentia se feliz, mas era um homem caseiro, queria uma esposa, filhos, mas ainda estava entre a faca e a espada, precisava esperar aquele dia, o dia do seu julgamento.

Foi nesse interim que surgiu um boato na cidade, de que um morador, não se sabe como tinha herdado uma imensa fortuna de um parente distante, o processo corria em sigilo, pois a Justiça ainda não tinha conseguido localizar com exatidão o ganhador da imensa fortuna vinda da Espanha. A promotoria federal sabia da existência do herdeiro, mas tudo corria em sigilo.

No dia do julgamento a cidade estava em pavorosa

O fazendeiro rico tinha levado para o pequeno município um cem numero de correligionários para fazer pressão na população, a favor do filho assassinado. A cidade, vendo isso, se mobilizou em favor de Mazagão, sim ele tinha feito o disparo, mas o gatilho tinha sido acionado pela desconsideração e falta de respeito do homem morto. Ofendendo, menosprezando, humilhando alguém que em proporções físicas não teria condição de revidar.

A sala do júri estava cheia.

Os jurados todos sentados, por uma manobra judicial tinham sido convocados de cidades vizinhas. Nenhum deles pertencia à cidade do morto ou do assassino, assim, o Juiz achava que o culpado seria julgado e condenado.

No inicio do julgamento apenas foi feita a leitura do inquérito, no qual o delegado descreveu Mazagão como um assassino frio, e violento.

No inicio da acusação o advogado da vitima, usando de um palavreado acerbado colocou o morto como homem integro se defeitos, sem, mas condutas. Deixou para depois a acusação violenta que faria de Mazagão.

Dr. Antônio, calmamente, defendeu o acusado, mostrando sua simplicidade, sua idoneidade, seu trabalho, e sua vida integra, porém ao final, apresentou documentação sobre o morto, no qual constava 3 inquéritos policiais por agressão violenta a homens sempre mais fracos e casados, que defendiam suas honras devido ao comportamento atrevido do morto em relação as suas esposas. Porém sempre ele ficava livre dos processos, provavelmente pelo dinheiro do pai.

A acusação sobre Mazagão foi violenta, e deixou os jurados propensos a condena-lo, foi quando o Dr. Antônio começou a sua defesa.

Meritíssimo Juiz. Caros jurados, familiares da vitima, familiares do acusado. Povo aqui presente.

Fez uma breve pausa.

Olhou para o Juiz.

Olhou para os jurados.

Olhou para a população que se aglomerava no plenário e finalizou.

--- tenho dito.

O Juiz nunca tinha visto algo em toda a sua vida. Imediatamente chamou a atenção do defensor do acusado.

--- como assim, como tenho dito, e a defesa.

Dr. Antônio que já estava sentando, levantou-se novamente.

--- Meritíssimo Juiz. Caros jurados, familiares da vitima, familiares do acusado. Povo aqui presente.

--- tenho dito.

Voltou e sentou-se novamente em seu lugar.

Tibúrcio, sentado em uma das cadeiras do auditório, cutucou Julião, ao lado.

--- dinheiro perdido, Mazagão esta fodido.

Levantou-se, e gritou, assim como fizeram muitos outros.

--- como tenho dito.

O Juiz, já um tanto agitado e pressionado pelo burburinho que ocorria em seu auditório, chamou o Dr. Antônio para próximo da sua bancada.

Os jurados estavam atônitos, e se entreolhavam condenando a atitude do defensor de Mazagão sabia do crime, mas não queriam condenar um homem sem que houvesse uma defesa adequada.

O Juiz tentou falar em voz baixa, mas estava nervoso e todos puderam escutar suas palavras.

--- Dr. Antônio, não sei o que esta acontecendo, mas você esta mandando o seu cliente para os quintos dos infernos, isso não é defesa que se faça, portanto, acha como um defensor, e não como um advogado de Merda.

Dr. Antônio esboçou sorriso.

Saiu das proximidades da mesa do magistrado, e se direcionou para os jurados.

--- pois bem, o Emérito Legislador das Leis, o Juiz RODOLVO PRÓSPERO SALGADO DE MENEZES, quer que eu faça uma defesa mais contundente do réu.

Todos os jurados concordaram com a afirmação, alguns na verdade pareciam agredir o advogado com palavras de baixo calão, faladas entre lábios.

--- deve ter sido comprado pelo fazendeiro.

O Juiz pediu silencio, todos pareciam falar ao mesmo tempo. O povo que assistia ao julgamento, os jurados entre si.

--- Pois bem Dr. Antônio, o senhor tem a palavra, faça a sua defesa.

Dr. Antônio sorriu. Um sorriso matreiro, safado, denotando toda sua confiança no que fazia.

Meritíssimo Juiz, caros jurados, amigos da vitima, parentes, todos os presentes.

--- tenho dito.

Imediatamente voltou e sentou-se ao lado de Mazagão, que a tudo assistia sem mover um único musculo, um único nervo.

O juiz pegou o martelo e socou a mesa com violência. Os jurados se levantaram agitados, condenando aquele advogado de merda. O povo presente lhe lançaram blasfêmias, os policiais presentes pediam calma, foi então que dr. Antônio se levantou pela ultima vez de sua cadeira.

O advogado da parte contraria ria do seu colega bêbado, louco, doente. Era isso que ele pensava.

Dr. Antônio olhou primeiramente para os jurados, depois para a população e finalmente para o Juiz.

Meritíssimo, veja como são as coisas, eu gentilmente me dirigi a vossa excelência, aos jurados, aos parentes, a população presente com palavras educadas, dignas de um homem de boa educação, repetiu isso somente por três vezes, e vocês todos vocês sem exceção estão querendo me crucificar, assim como foi feito com Jesus, assim como querem fazer com Mazagão. Vejamos, imaginem se eu os chamasse de corno, se eu os humilhasse diariamente, se eu chamasse suas esposas de putas, suas filhas, oque vocês fariam comigo. Mazagão matou sim eu sei que matou, mas o fez em defesa de sua honra, da sua idoneidade, da sua fibra de homem, assim como tenho certeza vocês pensaram em fazer comigo, e pense bem, eu useis palavras educadas, os tratei dignamente, fica na consciência de cada um achar se Mazagão cometeu um crime, ou se fez o que qualquer um faria em uma situação de humilhação. Tenho dito.

A sala estava em silencio, não se ouvia mais nenhuma palavra, não houve réplica ou treplica.

O resultado do julgamento foi exemplar.

Mazagão foi inocentado.

Mais uma vez a história poderia terminar aqui. Porem assim que os jurados decretaram a inocência de Mazagão e todos os seus amigos foram em sua direção para cumprimenta-lo, e abraça Dr. Antônio, dois agentes da policia federal adentraram o recinto e foram até Mazagão.

Um dos policiais se apresentou.

--- boa tarde, agente federal Emilio Louzada. Este, agente federal espanhol Gutierrez Fernandes, temos que levá-lo para as dependências da Policia federal em Brasília.

--- como assim, qual o crime que meu cliente cometeu desta vez. =- indagou Dr. Antônio.

--- crime nenhum, precisamos colher amostras do DNA de Luiz Henrique Mazagão de Uchoa Viegas, é este o seu nome senhor.

O humilde morador da pequena cidade respondeu em voz baixa.

--- sim... Mas o que eu fiz de errado.

--- nada senhor... Precisamos da confirmação de DNA, você é o único herdeiro até então desaparecido do magnata espanhol Luiz Pedro Mazagão de Uchoa Viegas, irmão do seu falecido pai.

--- como assim, o meu pai tinha descendência espanhola, mas o irmão morreu em um naufrágio durante a imigração para o Brasil. – respondeu Mazagão atônito.

--- não... O seu tio não morreu, pelo contrario foi resgatado e voltou para Espanha, tornou-se um homem rico, achou que o irmão tinha morrido, ou seja, o seu pai, deixou de procura-lo, porém a noticia do crime correu a mídia, e ele muito doente pediu para a Interpol verificar a veracidade dos fatos, se comprovarmos o seu DNA, você é um bilionário.

As pernas de Mazagão se esmoreceram. Sua ex-esposa escutou a conversa, se aproximou com cuidado, pois já tinha outro homem dormindo em sua cama.

--- querido... que felicidade, podemos voltar a sermos um casal novamente.

Mazagão a olhou com desdém.

--- vai-te foder, por pouco eu não acabo com a minha vida por sua culpa, vai dar para quem você quiser, porque eu, se Deus me ajudar foi voltar rico e ajudar todos os meus amigos. – Mazagão olhou para seu advogado. --- principalmente você, Dr. Antônio.

O abraço foi apertado. Os amigos se achegaram. A felicidade premiava um homem que sempre tinha lutado pela vida. Tinha cometido erro, mas não tinha a maldade em seu coração.

A identidade de Mazagão foi confirmada.

Hoje ele é um homem arquimilionário, vive na Espanha, e tem como seu assessor direto, um conhecedor das Leis, que já não bebe mais.