Teste

Desorientado pela identidade do homem que o imobilizava, Sérgio tentou fugir, mas torcendo-lhe o braço, De Creta falou — Que talento para me surpreender! Quando eu penso que o maricas não pode ser mais idiota, is que me vêm com um truque novo na manga.

Os dedos dele eram grossos e magoando sua pele fina, deram a certeza que desta vez não sairia barato. Não era um homem feito, logo sentiu seus olhos umedecerem outra vez. A vontade era de matá-lo, mas não tinha força para tanto, então resignado pelo terror retomou o controle das próprias ações. — Me solta, porra! Eu não te devo mais nada! — Afirmou o deputado que temendo o pior, cerrou os punhos evitando deixar passar a última chance de sair vivo.

—Você sempre nos deverá, caso não queira parar numa cova rasa. — Afirmou, agora lhe torcendo o braço. — Por favor, me solte. — Disse Sérgio, instantes antes de tentar atingi-lo com o cotovelo. — Olha que safadinha... Tava querendo fugir? — Desvia de outro golpe — Você vai fazer o que? Vai gritar igual a uma puta histérica? Estou louco para ouvi-lo. — Asseverou o velho guarda-costas que o puxando em direção a seu corpo facilmente o envolve com um mata leão. — Diga seu afeminado escroto... Gosta do que está sentindo, não é? —Murmurou no ouvido de seu oponente, ao passo que vagarosamente comprimia-lhe a garganta com o antebraço.

— Me solta filho da puta! — Reagindo como pode gritou o deputado, até que a respiração se tornou ofegante apertando em seu peito o pouco ar que lhe restava. Se não agisse morreria ali mesmo, então, debatendo-se feito um louco lutava para evita o derradeiro teto preto, porém espremendo-o ainda mais Francesco encosta o membro ereto entre suas pernas — Como é sentir outro homem por trás? Não me parece ser tão bom como vocês dizem... — e só se detém quando a área é iluminada por um refletor ofuscante. De repente o som mecanizado do armamento pesado invade a madrugada antecedendo a chegada do megafone. —Polícia Federal! Largue a arma e deita no chão!

Tragado pela luz dos refletores acoplados nos blindados da própria Família, mesmo encurralado De Creta observa a movimentação dos agentes armados pelo interior do salão e mantém o revólver apontado para sua cabeça. — Não se movam.

— A casa caiu! Mãos na cabeça! — Disse um dos garçons que brandindo a pistola mostrava-se bem habituado aquele tipo de investida.

— Mais um passo e mato essa bichinha. — Puxou o cão com o polegar — Sabe quem eu sou? — Pressionando o pescoço da vítima, disse Francesco cheio de si.

— Senhor, deita no chão! — Irredutível gritou o agente que seguindo o protocolo, deixou seu distintivo a mostra.

— É surdo, seu merda? Mãos na cabeça caralho! — Esbravejou outro policial que vindo de trás também revelou seu disfarce.

Cercado por homens dispostos a mata-lo instantaneamente seu cérebro reuniu as peças daquele quebra-cabeça e percebendo que não tinha mais escapatória repousou o velho revólver sobre o piso e se rendeu. Já de joelhos e com as mãos para trás assistia ao resgate fajuto do parlamentar até que finalmente aceitou a idade avançada para aquela vida. O melhor seria deixar as pedras rolarem e depois desfrutar da influência de seu Boss, contudo ao vê-lo também ser abordado com truculência, Francesco perde o resquício de lucidez e sacar outro revólver, escondido junto ao tornozelo, segundos antes de ser engolido pelo reverberar de centenas de disparos.

Os flashes intermitentes iluminaram o recinto e as capsulas ocas tamborilavam pela piscina de sangue que começou a escorrer contornando o mobiliário do salão, enquanto explodindo de vez em vez, ainda segurando o pequeno revólver Francesco espalhou-se pelo salão inteiro reduzido a um monte de carne moída.

— Manda a perícia buscar o que sobrou. Acho que é o tal Francesco que o Delegado falou pra gente. — Desviando dos miolos de sua vítima, disse o agente que com um tapa de mão aberta atinge a cabeça do deputado. — E você fica parado ai se não quiser ter o mesmo fim.

Sabiamente atendendo as exigências de seu salvador, Sérgio senta-se próximo ao cadáver destroçado, ao passo que acariciando a mágoa que contornava lhe o pescoço concebe que independentemente dos contratempos o plano de Don Lavezzo havia dado certo. Todos haviam cumprido muito bem os seus papéis e, somente por esta sucessão de êxitos, saíra inteiro. Ao fim, retribuíra o dinheiro gasto nas últimas eleições e diferentemente de muitos outros mostrou-se fiel ao companheiro. Agora só lhe restava “correr para o abraço”, só que dando um banho de água fria em suas pretensões, outro disparo é escutado! E movidos pelo cheiro do sensacionalismo, a manada de repórteres debandam das imediações ao mesmo instante que liberando dois de seus homens para escoltá-los, um sujeito de fartos bigodes espia o que restou de Francesco — Saiba que vossa excelência será convidada a testemunhar esta cagada aqui. — Comentou olhando com asco para os pedaços daquele corpo morto.

— Com imenso prazer. — Observando os respingos de sangue sobre seu sapato, mesmo preocupado com a saúde do amigo Salvatore, Sérgio respondeu com um sorriso de orelha a orelha, enquanto era guiado pelos demais agentes em direção à ambulância.

Vittório Torry
Enviado por Vittório Torry em 14/01/2014
Código do texto: T4649787
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