O CASO JUAN (Part. 2 - O Sumido)

Conheço Juan desde muito tempo atrás.. Participávamos dos mesmos círculos literários na capital. Bebíamos bastante e fumávamos o suficiente para manter uma tosse constante. Juan sempre fora mais talentoso que eu, embora negasse isso veementemente. Acontece que também era muito mais sensível. Eu, desiludido com minha poesia, prestei concurso e entrei pra polícia. Não vi muito problema nisso. Superei a minha desilusão literária como se fosse um término de algum namoro. Já Com Juan foi diferente. Até por ser mais talentoso e saber disso, sofreu muito com a falta de espaço para suas obras e a falta de dinheiro. A cidade grande o cansava. A vida lhe doía. Então, fez o que fez a vinda inteira. Tomou as rédeas da sua história. Rumou para o interior e aprendeu a pescar, contrariando a tendência geral de sair do interior para buscar melhores oportunidades em grandes metrópoles. Na verdade, sempre o invejei por esta decisão, mesmo que para mim isso estivesse fora de cogitação. Juan falava, e concordo, que os dias são muito vazios nas grandes cidades. Há muito o que fazer mas essas coisas só ocupam nosso tempo e nosso espaço, para alguns isso é tudo o que pode ser ocupado, mas outros querem mais. E ele tinha razão.

No interior se casou com esta professora do primário. Uma mulher linda e inteligente, mas apesar disso, o que mais lhe chamava a atenção, era a sua felicidade, uma felicidade interiorana e espontânea. Dizem que somente a felicidade do interior é que vem de dentro e, embora pareça, isso não é uma afirmação redundante.

Notei que tinha em mãos algo muito importante e tanto mais estranho. Juan nunca foi louco. Nunca duvidei da sua sanidade, mesmo quando todos duvidaram. E se não o ajudei mais foi por falta de provas na ocasião da morte do seu garoto.

Enfim, guardei o documento e prometi a pobre mulher que iria lhe ajudar no caso. Cheguei a cidade na manhã seguinte e não precisei mais que dois dias para que o corpo de meu amigo aparecesse boiando no rio. O documento que tinha em mãos, eu não mostrei, mas serviu para que eu prendesse três policiais pelo assassinato de meu amigo.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 04/04/2014
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