Sedução

A vida é um jogo de sedução. Ou tu entras de cabeça ou tu perdes a cabeça.

Walter Crick

Estava tudo muito calmo até aquele momento. Camille havia acordado a pouco e preparava-se para sair com o namorado novo. Era seu primeiro encontro com ele, que conhecera em um restaurante a alguns dias, e ela desejava se fixar naquele relacionamento de vez e engatar um noivado a partir dali. A sociedade a comprimia para tal e o resto do mundo parecia conspirar contra ela.

Tomou o banho como faz todos os dias.

-Tenho que estar deslumbrante! – Pensou.

E foi de encontro ao espelho. Curioso que aquele objeto tão insignificante pudesse despertar tantos sentimentos nas pessoas. Algumas delas, ficam tristes quando pensam naquela sobra de pele ao lado da barriga. Outros adoram se olhar no espelho. Os narcisistas se amam tanto que podem ficar horas e mais horas se olhando à frente dele.

Como sempre, ela decidiu usar algo menos ousado, que a deixasse bonita, mas sem esbanjar muito. Se trocou e depois voltou-se ao espelho.

Aquele instrumento maravilhoso servia, para ela, mais do que para observar-se, e sim como uma forma de devanear sobre as questões da vida. Muitas vezes, Camille postou-se a frente do espelho e deslumbrou-se com a figura que via refletida. Quanto ela havia crescido desde o seu último namorado! Agora ela sentia-se muito feliz ao lado daquele rapaz, tanto que aquele dia de encontro seria muito especial.

A campainha tocou quase que imediatamente após o fim daquela contemplação individual de Camille. Era Joe Rogers, seu mais novo affair.

-Oi amor, como vai? – Questionou o homem.

-Ansiosa e apreensiva, mas satisfeita por estar ao seu lado. – A moça sorriu carinhosamente e depositou delicadamente as mãos sobre as do rapaz. – Desculpe-me se estou sendo ousada demais, mas eu posso dar-te um beijo?

Apesar da pergunta, ela não esperava uma resposta verbal, mas assim um longo e demorado beijo entre namorados. Da última vez, ela teve a certeza de que sua timidez aa havia atrapalhado.

O rapaz se assustou um pouco, mas logo cedeu ao pedido e tascou-lhe logo um terno, mas atrapalhado beijo de amor.

-Obrigada. – Ela afirma, corada.

-Obrigada porque? – O rapaz deu um sorriso com o canto da boca, que foi respondido com mais um beijo, desta vez por iniciativa dela.

-Por estar ao meu lado. – E olhou para ele, com pequenas lágrimas escorrendo dos olhos.

-Sempre estarei, Camille.

A mulher então resolveu voltar ao quarto para retocar a maquiagem.

Aquele banheiro alvo e cuidadosamente limpo poderia suportar um time inteiro de futebol, visto que era tão espaçoso quanto a própria dona da casa, e exalava um perfume tão delicado quanto uma rosa. Na verdade, rosas eram as flores preferidas da mulher.

Camille ainda podia sentir aquele vapor que emanava do local, um calor aconchegante e estupidamente sensual, despertando corpo e alma para mais algum tempo de vida, sempre com algum toque de sedução.

E o espelho continuava embaçado, como se a água esperasse a mulher para escorrer vidro afora.

Certamente ela teria que pegar uma toalha para limpá-lo, ao passo que agarraria o estojo de maquiagem para recompor-se visualmente daqueles dois primeiros beijos que seu mais novo namorado lhe dera.

Decerto que seu coração não pararia de palpitar por um longo tempo depois daquilo. Lá no fundo, ela queria mais e mais. Podia olhar-se no espelho e ver sua sensualidade aflorando naquele corpo, com uma animação grotesca e instintiva.

Então, em um súbito acesso de euforia, ela pegou o batom mais provocante que tinha, de cor carmim, tão escuro quanto o sangue, de nome Sedução, e passou-o, delineando aqueles lábios carnudos e provocantes.

Como se não bastasse , Camille ainda resolveu mudar de vestido para algo mais provocante, e um tomara que caia negro como a noite, cravejado de minúsculos cristais, foi colocado, com comprimento substancialmente longo; contudo, uma abertura ousada cavada desde os pés até o final das coxas, como se ela fosse mesmo “cair para matar” , no ditado popular.

Neste ponto, os psiquiatras poderiam até dizer que ela estava louca, mas na verdade, ela estava era perdida de amores por Joe.

E não queria encontrar-se.

Prostrou-se à frente do espelho, fez uma pose que valorizava suas curvas quase esculturais e tirou uma selfie com seu smartphone virado para o espelho, mas não teve tempo suficiente para conferir o resultado de seu trabalho individual de contemplação , e foi logo postando a foto em seu Instagram.

A buzina do carro de Joe soava agora, e por duas vezes a mulher ouviu-a antes de se tocar que estava a tempo demais ali, e que não era nada romântico deixar um homem sedutor esperando-a sozinho lá embaixo, na rua, visto que uma outra qualquer podia passar por ali e tirá-lo de Camille.

Ela conferiu novamente seu reflexo e disse para si mesma, convencida de seu charme:

-Você está tão bonita!

E desceu um lance de escadas após o outro, porque o salto finíssimo que ela calçara exigia certo equilíbrio. Um tombo na frente daquele garanhão não seria bem visto.

Antes mesmo de chegar próxima ao carro dele, ela já retomara a pose e exibiu toda a sensualidade que ela guardara por anos a fio, intríscecamente, consigo, e agora soltava-a como uma fêmea no acasalamento.

E do outro lado daquela calçada de pedras, Joe a esperava, boquiaberto e tão espantado que nem uma plateia de filmes macabros poderia estar.

-UAU! – O homem parecia realmente transtornado.

“Exagerei?”, pensou Camille, corada.

-Você está linda, meu amor. – Joe aproximou-se. Seu perfume amadeirado e másculo misturava-se com a doce fragrância de rosas de Camille. – Ah, e a propósito, rosas são as flores do amor.

Camille sentiu-se quente por dentro. “Então é assim tão bom estar apaixonada?”, ela pensou, talvez um pouco alto demais.

-Você nunca ficara apaixonada antes, meu amor?

Ela fez que não com a cabeça.

-Na verdade, já namorei outros caras antes, mas nunca senti algo tão forte assim. – Ela olhou-o novamente no fundo dos olhos.

-Beije-me.

Joe repousou ambos os braços sobre os ombros de Camille. Agora os dois estaavam bem mais perto e mais conectados do que da primeira vez que se beijaram, minutos atrás.

-Como assim? – A garota questionou.

-Somente beije-me.

Joe inclinou o pescoço para a frente e repousou os lábios sobre a testa da garota, acariciando-a nos cabelos pesados. Uma onda de tremores subiu pela espinha dela, e ela delicadamente conduziu os lábios do rapaz até os seus, completando aquele que seria o beijo mais acalentado e apaixonado de todos os tempos.

Durante longos minutos eles ficaram ali, unidos de alma e corpo, até que Camille afastou-se um pouco, deixando o homem sem entender o que realmente acontecia.

Ela subitamente lembrou-se que nunca havia beijado alguém tão apaixonadamente assim. Aquele beijo tinha deixado-a sem ar, e ela sentia-se embaraçada por isso.

-O que foi?

-Nada. – A moça mentiu.

-Vamos então?

E conduziu-a rumo àquele lindo, elegante, imponente e luxuoso Honda, branco como uma pérola.

O jantar estava tão maravilhoso que a moça não percebeu a hora passar.

Já por volta de uma da manhã, o casal havia parado ao lado de um lago com águas turvas e negras, que refletia a luz do luar, que especialmente naquela noite estava tão linda, com aquela Lua redonda e brilhante no céu.

Uma névoa rala e fria passou pelo local onde eles estavam, e Camille teve de se aconchegar nos braços de seu novo namorado.

-Camille?

-Oi?

-Posso te chamar de Luna?

-Porque Luna?

-Para marcar para sempre em nossas memórias que, no dia em que ficamos oficialmente namorados, a lua brilhava romanticamente no céu.

-Que lindo! – A mulher deu-lhe um beijo, retribuída com uma aliança de ouro e diamantes.

-Aceita ser minha namorada? - Joe estendeu a joia para a mulher.

-Claro! – Camille estava ofegante.

O que aconteceu no resto da noite é totalmente dispensável.

No outro dia, pela manhã, o telefone da emergência policial tocou.

-Delegacia de polícia, bom dia.

-Desejo comunicar o desaparecimento de Joe Hudison Rogers.

-Qual a última vez que o viu?

-Ontem à noite.

-Sua relação com ele?

-Namorada.

-Seu nome?

-Luna.

-Mandaremos logo uma viatura para te auxiliar aí.

-Obrigada, pois estou desesperada.

-Acalme-se, que já iremos a sua ajuda.

-Sim. Na verdade... – A mulher parou por algum tempo, absorta, depois mentiu. - ...eu já ouço a viatura, bem ao longe. Acho que já posso desligar.

-Fique bem e bom dia.

-Obrigada.

O telefone desligou. A mulher pegou o celular e destroçou-o na parede do quarto. Pegou a bolsa em cima da cama desarrumada, as chaves do carro sobre o armarinho de cabeceira e o batom carmim no banheiro. Passou na cozinha e pegou um fósforo. Riscou-o e queimou um pedaço de papel, que logo jogou no chão e viu-o arder rente ao carpete.

Ao fundo, as sirenes dos policiais soavam cada vez mais perto, anunciando a “ajuda” que chegava ao local. Contudo, parecia que apenas uma viatura policial não adiantaria.

Enquanto isso, a mulher saía pelos fundos da casa de luxo, com um sorriso radiante no rosto, vendo um princípio de incêndio bem ao seu encalço. Apertou o alarme que destrancava o Honda branco, cor de marfim, luxuoso e imponente.

E o sedan cantou os pneus no asfalto, à medida que o policial contatava uma ambulância e uma equipe dos bombeiros.

-Atenção! Incidente com fogo na Rose’s street, número 120, casa rosa, luxosa e com um jardim de rosas vermelhas na frente. Necessito com urgência destes bombeiros. Câmbio.

Os policiais chegaram, ao passo que tentaram verificar se havia alguém no interior do local, mas ficaram sem ter o que fazer, visto que o fogo ameaçava a casa. Algum tempo depois, os bombeiros chegaram, gritando mais alto do que o próprio fogo que, com aquelas labaredas colossais, não demoraria a alcançar a parte frontal da grande casa. Nisto, o sistema de emergência já fora ativado automaticamente, e amenizava um pouco a situação que se encerrava.

O trabalho com a água foi exaustivo e intenso mas, após algumas horas, o fogo foi finalmente controlado. Após o término da ação, os policiais, que acompanhavam tudo com atenção e cautela, ansiosos para descobrirem a causa do incidente e o porquê daquela ligação ao sistema de emergência da polícia.

Por mais que o fogo tivesse consumido a parte traseira da casa, a frente ficara intacta.

O comandante Commons entrou no imóvel pela porta dos fundos, na verdade, pelo que restara dela, como forma de fazerem um trabalho duplo: Ao mesmo tempo de investigavam a origem das chamas, poderiam investigar o sumiço do namorado denunciado por sua namorada, um caso realmente muito estranho.

Afinal, onde estava ela naquele momento? Fizera a denúncia e fora embora? Será que fora um trote?

O fato é que agora a causa do incêndio estava desconhecida, e isso tornara-se um caso federal, de polícia ou não, mas que era passível de uma investigação mais profunda.

-Senhor comandante. – O major o saudou com honras militares.

-Major. – Commons respondeu a continência.

-A casa é sua. Não há mais perigos.

-Agradeço.

A rua parecera ficar pequena diante de toda aquela gente aglomerada ali por causa do incêndio. O barulho do fogo foi logo suplantado por todas as cirenes e as conversas confusas dos vizinhos.

O comandante foi o primeiro a falar:

-Atenção! Necessito de tranquilidade para prosseguirmos com os trabalhos por aqui, por isso peço a sua compreensão e que deixem-nos aqui, por enquanto. Mais informações com certeza nos noticiários, - Ele olhou para o polvilhéu que estava ali, e os jornalistas que estavam mascarados e camuflados junto a eles, talvez até com os mesmos tipos de pijamas e roupas de baixo, como se também tivessem acordado mais cedo naquele domingo inesperado. – e também na delegacia de polícia. Obrigado.

A maioria insistiu em ficar para tentar obter mais informações, contudo, o que aparentemente revelou-se um impecilho poderia ajudar a manter o possível criminoso longe dali para tentar acabar com o resto das pistas que deixara.

A casa o esperava, e para Commons, o jeito foi entrar e averiguar melhor direto da fonte.

O que parecia ser uma cozinha estava completamente destruído, com apenas a geladeira derretida resistindo de pé. Recolheu algumas amostras superficiais, enquanto seus subordinados faziam uma incursão minuciosa dentro de armários, caixas e quadros.

A sala, o próximo cômodo, estava destruída, mas o sofá e alguns móveis permaneceram em seus lugares, mesmo que somente na armação, embora, podia-se definir perfeitamente o estado em que foram deixados.

Do outro lado de uma pequena sala se recepções, com apenas duas cadeiras preservadas, uma pequena mesa de centro e um suntuoso conjunto de porcelanas e cristais em uma cristaleira não menos imponente. Uma cômoda encostada no canto da sala parecia destoar do conjunto que compunha o ambiente, e aquele móvel não completava o sentido geral da decoração, algo que chamou atenção do comandante investigador.

As gavetas, mais exatamente três, eram pequenas e retangulares, com certa angulação nas pontas, revelando um estilo original e inusitado de entalhar madeira. No seu interior, curiosamente não havia nada exceto uma única chave aparentemente de ouro, com um entalhe estranho e anormal, no formato de pirâmide, com raios de luz que incidem e saem do triângulo, como se fosse um prisma.

A chave foi guardada, não como prova oficial, mas como evidência particular. Até aquele momento, o detetive não havia detectado certos paradoxos evidentes na estrutura da casa, mas acabou percebendo-os quando virou-se e deparou-se com uma enorme roseira no interior da casa, toda florida e cheia de rosas vermelhas, porém sem cheiro aparente. Todavia, uma aproximação mais cautelosa veria que o cheiro delas era inconfundível, ao mesmo tempo doce e amargo, como deve ser o cheiro da morte.

As escadas estavam bem ali, ao lado da porta de entrada para a sala, e pareciam levar a um corredor tão sombrio quando o corredor polonês na segunda guerra mundial. Uma pequena marca, quase imperceptível, vermelha, estava no carpete que servia de adorno para os degraus.

Com uma haste flexível especialmente feita para coleta de materiais periciais, Commons recolheu amostra do líquido pastoso e denso que escorrera pelos degraus, aproximadamente cinco deles, e depois formara uma poça ao final.

O andar superior estava tão calmo que o policial estranhou que algo criminoso pudesse ter acontecido ali. Apenas três cômodos foram modelados: Dois quartos e um banheiro, sendo um dos quartos com suíte.

O primeiro quarto, aparentemente de hóspedes, encontrava-se vazio, e a cama sem lençóis estampava a decadência daquela parte da casa, destoando do resto do ambiente. O segundo quarto estava bem bagunçado, como se uma briga tivesse ocorrido ali. Em cima da cama, dúzias de páginas de um livro rasgado, e o mesmo estava no chão, com algumas marcas de pés.

Sobre a mesa de cabeceira, um abajour tombado, com a aparência de ser algo muito caro, assim como as joias que estavam espalhadas pelo chão. Colares de pérola arrebentados espalhavam as bolas pelo chão, causando um embaraçado chão escorregadio. Outro colar, com pedras de tonalidade vermelha, estava quebrado bem no meio do ambiente, com algumas das pedras esmagadas, provavelmente por uma pisada fortíssima.

No chão, bem rente a porta do banheiro, espalhava-se um líquido pegajoso que lembrava aparentemente sangue, de forma similar ao da escada. Commons recolheu parte como amostra.

Contudo, o banheiro era a parte mais bagunçada daquela casa. No chão, uma enorme poça da qual escorria o líquido para fora misturava-se com algo que parecia vômito. A água do vaso sanitário escorria com algo que o entupia. A descarga fora disparada e presa com uma chave de fendas, de forma que ele transbordasse. Por fim, o instrumento hidráulico estragou e a água parara de escorrer, mas o estrago já havia sido feito.

Sob a pia, alguns aparatos de maquiagem, sujos com um pó branco, de aroma nem um pouco agradável. Duas escovas de dente enfiadas no ralo da pia impediam a passagem do que quer que fosse mais sólido, o que acabou por conter um papel , molhado e borrado, que o detetive recolheu e colocou em sua maleta de investigações.

Pegou a câmera fotográfica.

As fotos da pia e do vaso sanitário foram tiradas, ao passo que todos os detalhes foram fotografados como forma de servirem como pistas do que realmente poderia ter acontecido.

Entretanto, o que mais chamou a atenção de Commons foi uma mensagem que ele encontrou no espelho do banheiro:

“Cinco horas, queridinha.

E você, sabe quais os mistérios que se escondem no espelho? Quer ver Joe novamente? Você tem cinco horas.”

A mensagem parecia algo cristalizado, incomum. O coração de Commons congelou por um instante, depois pareceu queimar como uma fogueira. Um chama se acendia em sua mente, mas ela não elucidava nada por enquanto. Ele somente decidiu que iria salvar aquela garota.

Tirou a foto do espelho e da mensagem.

As letras carmim foram sendo consumidas aos poucos conforme as horas se passavam.

Três horas depois e o detetive não conseguia solucionar o caso. Concluiu-se que o incêndio fora criminoso, mas quem o causara?

Isso o intigava, e muito.

-Alô?

-Delegacia de polícia.

-Acho melhor virem aqui no bairro de Rose Carmin para conferirem a casa ao lado da minha. Sinto um cheiro forte que vem de lá e parece que tem algo morto lá dentro.

-Qual a última vez que viu os donos?

-Acho que foi a algumas horas. Na verdade é somente um dono.

-Qual o nome dele?

A mulher respondeu.

-Obrigada pela chamada.

A policial desligou o telefone e mandou imediatamente chamar o comandante Commons, que veio imediata e apressadamente.

-Pois não?

-Comandante Commons.

-Sim.

-Acho que encontraram o corpo de Joe Rogers.

-Como assim?

-Na verdade, acho que a mulher queria denunciar um mal cheiro de sua casa.

-Vou conferir.

Ao chegar lá, Commons já estava extasiado. Faltavam apenas trinta e três minutos a contar daquele recado no espelho. Ele realmente queria salvar a moça, mas até o momento não sabia nem como fazê-lo.

A porta foi arrombada, tanto que um baque intenso foi ouvido nas casas da vizinhança. Um forte cheiro abordou os policiais de tal forma que quase os derrubou no mesmo momento. Eles estavam talvez acostumados com aquilo, mas daquela vez estava insuportável.

Nada em seu interior até o fim do corredor.

Todavia, era do último cômodo que o cheiro exalava. Um cheiro realmente macabro.

O policial foi sacudido por um de seus ajudantes como forma de alertar para os perigos daquele mal cheiro, como doenças, mas nada adiantou. Commons estava decidido.

A porta estava trancada por dentro.

Os policiais arrombaram novamente mais uma porta, desta vez com um pouco mais de ansiedade.

O susto foi tremendo.

No interior daquele quarto, um pedaço de presunto era devorado por larvas de todos os tipos. Moscas rondavam o local com tamanha destreza que parecia que estavam ali por dias. Aquela carne putrefazia-se rapidamente, tanto que parecia não mais estar no quarto.

Fora isso, mais nada.

De início, o detetive ficou desapontadíssimo, porém, ao achar mais um recado em uma das dobras daquele presunto, ficou animado com ele, que dizia:

“Preocupado, não? Fique mais ainda. Joe encontra-se comigo. E sei que você não vai achá-lo. Pois eu estou me divertindo com milhares de peixes ao meu lado. Acho que seu ar está se esgotando. Melhor ir mais rápido. Agora são somente vinte minutos. Melhor, vou te dar um crédito. Mais dez minutos para você entrar em meu jogo. Viu como sou generosa? Agora são 30 minutos para achá-lo.”

Commons se livrou daquele presunto colocando-o em um saco e abrindo as janelas da casa. Aquele civil precisava dele, e era justamente o que ele mais temia, não poder ajudá-lo.

Onde seria um local cheio de peixes?

É claro! Um lago. O lago Roselia.

E a caminhonete 4X4 do detetive cantou pneus ao sair da casa.

O lago Roselia ficava na reserva municipal de Carmville, e era tão bem conservado que a biodiversidade aquática dali era impressionante. As águas geladas eram essenciais para o desenvolvimento dos peixes, de diferentes tamanhos, desde tambaquis até tilápias, passando por trutas e carpas.

Turvas e barrentas, as águas eram alimentadas por uma cachoeira natural e que esbanjava vitalidade. Por fora também conservado, os canteiros de rosas estavam lindamente dispostos em fileira, com flores de várias cores, mas principalmente vermelhas. As rosas carmins davam o ar da graça ao local.

-Corram!

Dois mergulhadores foram de encontro a água que tremulava sob as ondas da cachoeira. O sol já se preparava para se por quando eles pularam no lago Roselia. A noite dificultava e muito os trabalhos de busca por Joe Rogers, e neste momento a imprensa já chagara com imensos camburões brancos cheios de jornalistas, antenas que poderiam transmitir dali para qualquer lugar no mundo e com fios e mais fios embolados.

-Senhor Commons! – Tentou um entrevista com o detetive, que simplesmente mandou seus subordinados afastá-los e deixá-los de fora daquilo.

Os mergulhadores já haviam voltado à superfície cerca de cinco vezes, mas nada foi achado. Nada mesmo. O lago era indedutívelmente limpo, sem nenhum lixo, mas as águas expessas e cheias de peixes não ajudavam muito. Na verdade, da segunda vez que subiu, o mergulhador mais experiente troxera uma truta pensando que era algo importante.

Contudo, os policiais já se preparavam para abortar as buscas naquele lago médio, os minutos contados no relógio por Commons estavam prestes a se acabar e aquele jovem ainda não tinha sido achado quando algo emergiu nas mãos de um dos mergulhadores.

Uma caixa de madeira, envolta em camadas e mais camadas de plástico e fechada herméticamente, de forma que a água não fora capaz de penetrar em seu interior.

-Abram-na! – Commons já estava bastante ansioso antes de retirarem a caixa. Agora então, estava prestes a explodir de ansiedade. – Quero ela aberta agora!

Vários instrumentos foram usados para tentar abrí-la, mas a madeira era tão forte que não cedeu nem um pouco.

-Acho que devemos levar para a criminalística. – Insistiu um dos subordinados de Commons. – Lá eles saberão o que fazer.

-Não! – O comandante parecia muito agitado. – Desculpe. – Passou a mão sobre os cabelos negros e sorriu disfarçadamente. – Pode deixá-la comigo. Saberei o que fazer.

-Mas... – O policial hesitou.

-Mas nada. Isto é uma ordem.

E o policial passou a caixa misteriosa ao chefe da operação, meio confuso com tudo o que acontecia. Commons pegou-a com aflição e escondeu-a em uma maleta depositada no banco direito de seu carro. Dispensou o resto da equipe por hora e suspendeu as investigações. Seu contador indicava ainda mais três minutos restantes.

“Tenho tempo para salvá-lo.”, pensou.

Olhando para fora, viu que a multidão começara a se dispersar. Apenas dois policiais, Kimberley e Novice continuavam a conversar sobre algo que não lhe importava naquele momento. Também anotavam algo naquela prancheta que não lhe interessava. Sua atenção centrara-se instintivamente naquela caixa que estava guardada ali com ele, em segurança.

O suporte amadeirado parecia impenetrável para os outros policiais, mas Commons sabia exatamente como proceder perante aquele objeto, afinal, ele tinha uma chave. Esta chave aparentemente de ouro, com um entalhe estranho e anormal, no formato de pirâmide, revelava mais do que o interior da caixa, mas também uma nova gama de coisas a se pesquisar.

A chave coube perfeitamente na fechadura da caixa blindada.

O detetive ficou com as pulsações disparadas.

A caixa foi finalmente aberta.

A decepção foi total e devastadora.

O interior da casa guardava apenas uma rosa indubitávelmente perfumada, um aroma doce que invadiu os pulmões do detetive, passearam por seus canais olfativos e causaram uma sensação tão maravilhosa que o homem na hora pegou-a e deixou-se cortar por aqueles espinhos sedutores. Ele apaixonou-se pelo sangue. Queria mais rosas, mais perfume, mas o efeito acabou.

Seus sonhos mirabolantes cairam pelo chão e se espatifaram naquele asfalto frio e sujo, dando a entender que tudo o que passara fora uma insanidade momentânea (E que ele realmente tinha a vontade de fazer tudo de novo). E de novo.

-Tudo bem, chefe.

Ele não percebera que Gabriel Kimberley, seu subordinado, havia se aproximado dele e tocara em seu ombro.

Escondeu rapidamente a caixa. Mais rápido até do que poderia imaginar.

-Ah...tudo. – Mentiu.

-Então está bom. Só vim mesmo comunicar que já estamos indo embora.

-Sim, estão dispensados.

-Obrigado.

Enquanto Gabriel se afastava a passos largos, Commons voltou-se à caixa.

A rosa tinha se despetalado com a queda, e agora revelara um bilhete oculto em seu interior. De um papel minúsculo, acabaram surgindo algumas palavras nem um pouco agradáveis, que diziam:

“Não brinque com as sombras, meu bebê. Eu quero mesmo é luz para revelar o meu reflexo.”

E ainda havia uma nota de rodapé:

“PS.: Mais cinco horas ou ele morre. Ache-me onde eu deveria estar.”

Michael Commons ficou perplexo.

Correndo contra o tempo, ele entrou em seu 4x4 e ligou-o. O rádio foi ligado por ele com certa apreensão. A música doce com uma balada ritmada ao fundo soava agradável a ele, que adorava aquele rítimo cativante. Por trás daquela voz feminina com um timbre agudamente contagiável, escondia-se uma mulher provocante e sedutora, ele sabia.

E a balada seguia tocando:

“Oh! My love,

I can’t fall without missing you

I can’t fight until I’ve got that thing

You can’t fool me like you did in the past

You can’t fool me like you did in the past[…]”

E Commons parecia comovido com a música, que continuava a tocar:

“[...]No, I wasn’t like yesterday

Now I’m changed

And you have to look me in the mirror

And you have to look me in the mirror

To see that I’m back again”

A música finalizou-se e o locutor anunciou:

“Para aqueles que estão aí, dirigindo sozinhos e tristes, preocupados quem sabe, ela mandou-lhes um abraço. Sim, a senhorita que não quis se identificar, mas deixou um recado para você, detetive Commons:”

Uma voz feminina parecia falar ao telefone. A gravação fora reproduzida na íntegra

“Oi, amor. Entrou em um jogo de rosas. Não queria? Mas teve de fazê-lo. Parabéns. Agora você é meu. Já conseguiu achar onde estou? Não? Uma pista:”

Uma voz muito diferente apareceu, como se fosse duplicação daquela primeira, e com um tom sombrio disse a saudosa pista da mulher misteriosa, que saiu quase que como uma profecia macabra:

“Hora convergente, hora divergente. Não há meios para descrever o que sinto. Meu reflexo é sua perdição. Meu desejo é sua comoção. Salve Joe e deixe-a morrer. Deixe-o morrer e salve-a. Esta é a ditadura das rosas. Boa...”

O locutor interrompeu a gravação, desculpando-se com os ouvintes.

Commons praticamente socou o rádio de seu carro. Sua mão doeu e ficou cortada, com um pequeno fio de sangue escorrendo pela lateral. Com um algodão que sempre levava no carro, limpou o sangue e continuou por entre as estreitas ruas pelas quais ele dirigia. O bairro Rose Carmin se afastava aos poucos de seu campo de visão, à medida que o bairro de Vere Roses, onde aquela casa misteriosa pegara fogo algumas horas antes.

Um inspeção nos arquivos municipais pode constatar que o imóvel pertencia a Camille Rozen Liebhaber, descendente de alemães. A moça, de aproximadamente vinte e dois anos, e que viera morar em Pasadena depois da morte dos pais em outro estado. Ela queria esquecer o passado sofrido.

O outro ponto interessante nesta inspeção foi o descobrimento de uma evidência crucial: A mulher era apaixonada por rosas.

E era exatamente por isso que Michael voltou àquela casa.

A Rose’s street estava calma naquele momento, uma mescla de pavor e sofrimento que tomou conta daquela vizinhança de classe média, visto que a poucas horas uma casa havia pegado fogo ali. Mesmo sem ser completamente destruída e com o fogo rapidamente controlado, as pessoas preferiam manter distância.

Mas não Commons. Ele sentia-se tentado a continuar. Por Joe, um civil que precisava de sua ajuda, e por toda a cidade de Pasadena, que clamava por uma solução daquele mistério.

A casa chamuscada havia desabado na parte de trás, deixando um rastro de escombros que foi logo tomando conta do resto do terreno. Ao chegar mais perto, o detetive conseguiu identificar as pilhas de porcelanas chinesas quebradas e queimadas, derretidas e invalidadas, e ficou confuso ao perceber que a porta dos fundos estava inacessível por trás. A porta da frente estava trancada.

-Como assim? – Ele se indagou. – Até onde sei, a polícia isolou o local e retirou todos os pertences de valor da casa. Mas a porta deveria estar aberta. Ao menos para mim.

Decidiu bater para conferir no que poderia dar.

Três batidas pesadas soaram por aquela rua deserta. A lua já chegara bem alto no céu, e deixava por trás de qualquer um que se aventurasse por aquelas bandas um rastro diabólico em seu encalço. Um cão latiu ao longe e foi respondido com uma saraivada de latidos estridentes e ao mesmo tempo roucos.

Nada aconteceu.

Novamente, três batidas.

Oficialmente, Commons não poderia derrubar aquela porta, mas aquela questão tinha se tornado pessoal a tempos. Alguém queria jogar com ele, e ele nunca gostou de xadrez. Dava logo um xeque-mate. A ditadura das rosas mal começara e já acabaria.

“Ditadura das rosas” – Ele debochou e usou o pé forte para dar uma pancada assustadora na porta. Os cães latiram novamente.

O cenário lá dentro certamente estava mil vezes pior do que quando ele entrara pela primeira vez. Uma grossa e pegajosa poeira branca misturava-se ao canteiro de rosas que estava na entrada. Apenas uma delas estava intacta, como se tivesse sido lavada. Uma pequena gota, tão delicada quanto o próprio orvalho, se encontrava na ponta de uma de suas pétalas. O carmim fortíssimo parecia ofuscar todo aquele cheiro sufocante que emanava da flor. Todavia, o aroma da morte parecia agradar ao homem, que arrancou uma das pétalas e trouxe-a para mais perto do nariz. O cheiro era viciante.

Parecia a ele que o mundo girava quando sentia aquele aroma, que como uma droga entorpecia-o, entrava por suas narinas e subia direto ao cérebro, ao centro da massa cinzenta, ao hipotálamo, à hipofise, e era redistribuido quase que como um hormônio da sedução. Sentiu-se extasiado.

Mas assim como as drogas, a sensação boa durou tão pouco que um estado de melancolia geral inundou-o em trevas e trouxe-no de volta aquele mundo tão cruel em que ele vivia.

Ao retomar os sentidos, Commons pode perceber que um rastro fresco e recente de gotas que pareciam água corria pelo chão, subia as escadas e ia em direção ao segundo andar. E foi o que ele decidiu fazer. Segui-lo.

Como era de se esperar, ele dava no banheiro, o único cômodo totalmente intacto da casa que fora consumida pelo fogo e agora falecia aos poucos com o que restou das cinzas.

A torneira agora estava realmente aberta, com água correndo pelos encanamentos não danificados. O vaso sanitário acabara de descarregar mais alguma coisa nem um pouco agradável, e uma voz feminina pode ser ouvida antes mesmo de o detetive se aproximar o suficiente.

Ele conhecia aquela voz. Claro! A mulher do rádio. Aquela que mandara um recado. E aquela mesma música que tocara agora era cantada ao vivo pela sequestradora de Joe.

“And you have to look me in the mirror

And you have to look me in the mirror

To see that I’m back again”

O vestido vermelho traduzia a paixão dela pelo tom.

Passo após passo, o detetive aconchegou-se perto do portal do banheiro, com todo o cuidado de não deixar ser percebido.

Entretanto, não pode deixar de soltar um berro assustado ao ver que faltava à mulher seu reflexo no espelho.

Ela, no mesmo instante, urrou e avançou sobre o policial, que sacou a arma e atirou ferozmente. Contudo, nada surtiu efeito no corpo dela. Pelo contrário, as balas o atravessaram e acabaram por estraçalhar o box de vidro ao fundo. Uma delas ricocheteou e acertou o espelho com toda a força, rachando-o, mas sem deixá-lo em migalhas.

Neste exato momento, o reflexo da mulher de carmim retornou ao espelho, não obedecendo às leis da física e esmurrando voluntariamente a parte interna do vidro. Foi quando Commons percebeu que era Camille a mulher que estava vestida de vermelho à sua frente, caída e zonza no chão, e também Camille que via-se aprisionada no espelho.

A figura diabólica que estava solta no banheiro levantou-se bruscamente e derrubou um estojo inteiro de maquiagem que estava sobre a pia.

O celular de Michael tocou. Eram mensagens do departamento de criminalística, com algumas fotos conclusivas sobre os laudos periciais preliminares. Primeiramente, aquilo na escada era sangue humano, mais precisamente de Joe Rogers.

Sua expressão mudou ao passo que a criatura recompunha-se rapidamente, mas ainda preparava-se para atacar. Trêmulo, Commons segurava a arma em uma das mãos, quase deixando-a cair, e na outra terminava as mensagens. Em apenas dez segundos ele passou da primeira para a décima segunda delas. E era exatamente a última a mais conclusiva. Era o bilhete que ele encontrara borrado e enfiado pela pia, mas que tinha se agarrado às escovas de dente antes de ir ralo abaixo. O bilhete foi recomposto no laboratório, e a letra comparada revelava que era de Camille Rozen, a menina presa no espelho, que se debatia tão fortemente que poderia espancar alguém se quisesse. Ele dizia:

“Joe, não há tempo para isso agora. Precisa sair da cidade ou então vamos todos morrer. O problema está...”

O criminalista anotou que o bilhete não terminara de ser escrito.

Nesta hora, a Camille diabólica gritou, com uma voz ensurdecedora:

-O problema é o espelho! – E riu como se estivesse pronta para matar. – Meu jogo de sedução acabou, agora que minhas peças estão todas fora do tabuleiro. Na verdade, somente falta o rei. Xeque-mate!

E avançou sobre o policial, que pode ver em uma fração de segundo a imagem de Joe se juntando à de Camille. Eles agora assistiriam a uma luta que não duraria nem trinta segundos.

Commons tentou novamente atirar, em vão. Camille demoníaca refletiu a bala, que acertou em cheio a perna do policial, que usou toda sua adrenalina restante para empurrar o bicho para longe de si. Ela guinchou e mostrou os dentes, cor de sangue. Um aroma podre invadiu o local. Agora ele sabia o cheiro da morte. Curiosamente parecia com o cheiro de rosas.

-Você vai morrer! – Impertigou o bicho possuído.

Commons não se deixou abalar. Pegou seu isqueiro e acendeu-o.

-Sabes brincar com fogo?

O bicho ficou amedrontado. Seu vestido de festa vermelho com uma abertura cavada e sensual transformou-se em uma mortalha negra e poeirenta. A linda moça tornou-se um horrendo demônio. Commons não queria se deixar abalar. Retirou a própria blusa e mais um frasco de uísque que sempre levava consigo, para o caso de uma desilusão amorosa, e acendeu o coquetel molotov improvisado que criara. Aquele pano da blusa se consumiu tão bem que a chama queimou o braço de Commons, que atabalhoadamente deixou-no cair. Infelizmente, a explosão foi tão intensa que mais nada pode ser feito.

O espelho em que Camille estava destroçou-se em milhões de fragmentos. O demônio sedutor do espelho foi consumido pelas chamas mais rápido do que a própria casa, que entrou em um incêndio violento e incontrolável.

E Michael Commons, o grande heroi desta história, morreu carbonizado naquele pandemônio que aquele banheiro maldito se tornara.

A casa foi totalmente consumida pelo fogo, não restando nem mesmo a roseira da sala de entrada.

Contudo, o Honda civic branco persistia estacionado à frente daquela construção.

Alguns dias depois, Michelle Cantebury passeava alegremente com suas amigas pelo shopping quando resolveram tirar uma selfie e postá-la em seu Instagram. Michelle possuía todos os moradores da cidade em sua rede de amigos. A foto ficou linda.

-Espere. Quem é “@carmim”? – Lydia, a amiga de Michelle ficou em dúvida.

-Aquela esquisita da Rose´s street. – Respondeu a outra amiga, Marianne, com deboche. – Ahco que o nome dela é Camille.

-Verdade! Será que, ao menos suas fotos são boas?

-Devem ser.

-Veremos.

Ao entrar no perfil de Camille, as garotas tomaram um susto: A garota estranha da rua Rose trajava um vestido lindo, vermelho e cavado até o fim das coxas, provocante e sedutor.

-Meninas, quanto é dez vezes dez? – Marianne brincou.

-Cem. – Lydia respondeu.

-“Cem – sual!” – Marianne riu junto com as outras.

-Espera! O que é aquilo ali ao fundo? – Michelle parecia aturdida. – É mesmo o que eu estou pensando?

-Aquele Giorgio Armanni no chão? – Marianne parecia horrorizada com o incidente.

Mas Michelle não gostara da piadinha sem graça.

-Não! Aquilo são olhos? Olhem! São olhos!

As três garotas deixaram o shopping correndo e aos prantos. Principalmente porque Michelle pensara ter visto aqueles mesmos olhos psicopatas em um espelho no banheiro do shopping, alguns minutos antes. Chegaram respectivamente em suas casas e quebraram violentamente os espelhos.

Mas já era tarde demais. O Honda branco estava estacionado em sua porta.

Walter Crick
Enviado por Walter Crick em 28/06/2014
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