O mistério do Beija flor. 4° capítulo.

E analisando mentalmente a lista dos nomes das meninas, vi que ela tinha razão. Eu sabia que estava faltando alguma coisa na lista, que eu ainda não tinha percebido. Era óbvio demais. Todas as meninas eram clientes dele desde o tempo em que ele era Clínico Geral. Tínhamos mais um motivo pra tentar corrigir esta situação. A irmã de Pedro podia ser a próxima vítima daquele doido.

Gisele resolveu fazer experiências com um beija flor mas o difícil foi apanhá-lo. Examinando a máquina, ela descobriu que tinha uma pena do bichinho presa entre as engrenagens. Acho que foi isso que gerou a confusão toda. Pequenos pedaços de cabelos estavam dentro da pequena cabine. Mas seus DNA se misturavam com o DNA do beija flor e isto fez com que desse errado da primeira vez e continuaria dando errado se a pena ali estivesse. Será que ele sabia disso?

Por via das dúvidas resolveu remover a pequena pena.

O celular de Pedro chamou-os a realidade e saíram correndo antes mesmo de atender. Podia ser o carro do médico. Por que ele demorara tanto?

O médico louco voltou e estacionou o carro atrás de umas moitas ao lado do vagão. Não nos avistou. Vimos quando ele entrou no vagão e pela janela começou a desmontar o aparelho. Não demonstrou qualquer reação, e por isso Gisele nos chamou a atenção para a observação que ele não havia notado a pena de beija flor. Ele montou o aparelho e esse processo todo demorou mais ou menos umas duas horas. Comemos alguns lanches que a Gisele havia trazido. O homem saiu do vagão. E começou a soprar um apito estranho que quase não fazia som. O estranho é que começou a aparecer muitos beija-flores. Eles entravam em fila e iam saindo pela janela. A confusão era tanta que não poderíamos ver o que estava acontecendo dentro do vagão.

Só então lembramos que estávamos com o caderno de notas do homem. Ele procuraria e acabaria nos descobrindo. Combinamos que Pedro devolveria o caderno na primeira oportunidade. Quando o médico saiu dançando uma estranha dança e soprando o apito sem som, a oportunidade surgiu. Os beija flores seguiam-no por toda parte. Ele entrou e saiu várias vezes do vagão com os passarinhos seguindo-o. Num determinado momento, o homem saiu para longe tocando e dançando seguido pelos beija flores. Pedro aproveitou a distância e, sob os protestos de Gisele, entrou no vagão deixando o caderno exatamente onde o mandei deixar, pra não levantar suspeitas. Não queríamos que Gisele corresse riscos desnecessários mas ela não se conformava.

Depois disso, resolvemos voltar para o centro da cidade e deixei Pedro e Gisele em casa com a recomendação para que ficassem em casa.

Tentei dormir e não consegui. Amanheceu e vi uma chamada de Pedro logo cedo. Achei estranho e atendi. Pedro chorava e entre soluços me disse que a irmã dele tinha sumido e deixado um bilhete pra família.

Fui a casa deles e lá a confusão era geral. O bilhete dizia assim:

“Querida família

Não se preocupem comigo. Estarei bem.

Fui ajudar o dr Fritz a resolver a situação

Beijos em todos, Confiem em mim.

Gisele.”

A letra, era mesmo, a dela e a assinatura também. Não havia motivo pra dúvidas. Fomos quase voando para o parque Jensen. Lá chegando, ficamos embasbacados. O vagão estava vazio. Não havia nem sinal do médico e nem de Gisele. Pedro entrou em desespero. Eu fiquei arrasado. Tinha pedido tanto pra ele não deixá-la sozinha. Não ia cobrar dele agora que ele não parava de se culpar.

Saímos a caminhar pelo parque e ele chamava a irmã toda hora. Todo beija flor que passava, ele pensava que era a irmã dele, mas o bichinho fugia assustado e ele chorava outra vez. Fiquei com pena dele e arrasado por dentro. Meu DEUS me ajuda a encontrar essas meninas. A gisele não, meu Deus!!!

Fiquei tão arrasado que fui pra casa e tomei um comprimido, que comprei numa farmácia da cidade vizinha, pois o infeliz do farmacêutico daqui não quis me vender de jeito nenhum. Até entendo o sujeito, que me veio com uma história, de que não se deve tomar remédio sem receita médica. Mas ele não tem ideia do que é ficar tanto tempo sem conseguir dormir. Dormi tanto que nem imaginava o tempo que durou o meu sono.

Era quarta feira e eu acordei e abri a janela. Estranhei o movimento pois achei que era cedo. Uma chuva fininha caía. Parecia que o céu estava chorando com prenúncios de alguma tragédia. Olhei no relógio e levei um baita susto. Era meio dia. Vesti-me e sai correndo pra delegacia. O escrivão me atendeu na porta e me disse que o delegado Gonçalves tinha sido exonerado do cargo.

A delegacia tinha sido depredada.. Havia pichações por toda a parte. Frases escritas nas paredes da delegacia, das mais variadas. A mais carinhosa que me lembro, pra não citar o horror das outras, é esta: “ Fora delegado porqueira!!!!”. Cada uma pior do que as outras. Fiquei apalermado e sai dali logo pra não ser atingido por uma pedra. Fui a rádio e avisei que Gisele estava comigo e em segurança. Não era verdade e avisei pra mãe dela pra não desmentir. Precisava ficar em segurança pra descobrir onde ela estava. Fui cercado por pessoas na rua e tranquilizei a todas dizendo que em uma semana tudo estaria resolvido. Nem eu sabia se seria verdade. Mas dei um prazo e tinha que conseguir por um fim a isto

Continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 16/09/2014
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