LIVROS E TIROS (Capítulo sexto)

Nesta noite estavam os três em suas respectivas casas. Raul pensava no lado prático inicial da situação, que seria um modo de convencer a sua chefe a liberar uma verba para a edição do livro, bem como a veiculação de propagandas,. Isso tudo sem que ninguém soubesse que a policia estava por trás da publicação. E, também por este motivo, tinham combinado de não mais ver Notório pessoalmente até o final do plano. No fundo, Raul sabia que conseguiria convencer a chefe. Pois esta o tinha em grande crédito. Quando assumiu a chefia na cidade, sofrera muito preconceito por ser mulher. Raul, porém - e apesar de às vezes ser arrogante - admirava o trabalho dela e se tornou seu braço direito. Fez isso por que respeitava a luta das mulheres dentro da polícia, mas também por que queria transar com ela. Nunca conseguiu. Enfim, ela liberaria a verba. Seu medo, porém, era outro. Neste ponto do seu raciocínio, já estava servindo a sua quarta dose de Wiskhy.

No seu apartamento, Pedro pensava no assassino com uma certa admiração e sede de justiça. Mas não estaria ele - o assassino - fazendo alguma forma de justiça? Não. Não poderia pensar nisso. Levaria o plano a cabo e o capturaria. Faria a justiça verdadeira. Não deixaria o assassino entrar na sua cabeça. Afinal, quem era ele para julgar e sentenciar a morte as pessoas por terem escritos coisas das quais ele não concordava? Afinal, quem era ele? Se soubesse a identidade deste que carregava a vaidade numa mente criminosa. Acabou de tomar sua cerveja, abriu a geladeira para pegar outra ao mesmo tempo que olhava para o relógio de parede. Já era tarde. Tinha ainda uma certa prudência, destas que - em alguns casos - se perde com o tempo, e não o oposto. Precisava estar inteiro na manhã seguinte. Fechou a geladeira novamente e foi dormir.

Notório estava sentado a frente do computador. A tela em branco. Seus dedos tremiam ao abrir a garrafa de vodka. Serviu uma dose, foi a geladeira, misturou um pouco de energético e duas pedras de gelo. Não podia ter sono. Não podia perder tempo dormindo .Sempre pensou em escrever um livro. Este era o momento. O momento de sua vida.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 29/09/2014
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