LIVROS E TIROS (Final)

Já na rua, ao caminho do carro, Pedro perguntou:

- O que foi aquilo lá dentro?

- Desculpe, temo ter me empolgado demais.

- Como o quê?

- Ah, sim. descobri que é o assassino - falou despreocupadamente. Mas logo sua expressão mudou quando ouviram o barulho de um tiro de dentro da casa de Notório.

Pedro saiu correndo na frente.

- Não, não, não!!! - gritou ao adentrar a porta que estava aberta.

Raul chegou em seguida, sem muita pressa.

- Merda! Pra onde ele foi? - gritou Pedro correndo de um lado pra outro da casa, verificando que todas as portas e janelas estavam fechadas, com exceção da porta de entrada.

- Ele não foi, Pedro - falou Raul, apontando pra arma que estava ao chão, do lado da poltrona onde se encontrava Notório, morto, com um tiro onde as pessoas costumam se suicidar.

Pedro parou de caminhar, seu corpo balançava, aflito. Pediu um cigarro por não ter ideia de outra coisa para fazer no momento.

- Desde quando você sabia?

- Comecei a suspeitar depois de pôr o plano em prática. Os crimes pararam, inexplicavelmente, no momento em que ele tinha mais trabalho a fazer. Outra coisa me veio a memória hoje a noite. Eu conhecia o avô dele. Ele era um maluco que acreditava em um apocalipse Zumbi. Então...nó estamos perto de um abrigo subterrâneo. Não acredito que muita gente saiba, pois ele não queria superlotação de zumbis no seu abrigo quando o apocalipse ocorresse. Era maluco! Você pode notar que este tapete não está centralizado na sala, como uma pessoa normal faria. Sim, sim. Eu tenho um senso estético aguçado, mas isso não vem ao caso. Ele fazia questão de esconder o alçapão para o abrigo. Poderia ser apenas uma questão de estética, mas, esteticamente assim ficou bem pior. Enfim...planejava vim com um mandado amanhã pra ver o que temos aqui em baixo. Porém, eu gostava do rapaz, apesar de tudo. Fiz ele adivinhar que eu sabia, para que ele tivesse tempo de fugir da cidade. Mas eu não esperava por isso...

- Mas o plano foi ideia dele.

-O cara tava ferrado, cheio de contas. Sempre teve o sonho de publicar um livro, mas não tinha dinheiro. Essa foi a oportunidade. Todos os holofotes para ele. Desafiaria o assassino. Ganharia até mesmo o respeito dele, pois os crimes parariam. Mas, se decepcionou com seu próprio trabalho. Talvez percebeu que não era melhor que suas vítimas, não podendo voltar atrás, o suicídio era a única forma de manter a vaidade...mas isso só me veio na cabeça agora.

- Enfim...o que vamos fazer?

- Se tivermos sorte o abrigo está cheio de livros roubados. Então...nós descobrimos isso quando viemos pra cá. Ele ficou apavorado e ameaçou nos matar. Falamos pra ele que isso só dificultaria a situação, que seria melhor que ele se entregasse. Então ele - que estava de pé na frente do sofá, apontou uma arma pra própria cabeça - tentamos o dissuadir com palavras, quando vimos que ele ia puxar o gatilho, você partiu pra cima dele tentando desarmá-lo. Tarde demais. Caiu morto no sofá. Pediu o cigarro de Pedro, que ainda estava pela metade.

- Você só precisa se sujar um pouco com o sangue dele. Não se preocupe. Tudo vai ficar bem.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 01/10/2014
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