O PARAÍSO É LOGO ALI cap. 2

Ah! Obrigada! Muita gentileza sua me achar novinha. Na verdade tenho 45 anos de idade e estou trabalhando desde os treze.

_Como assim? Não estudou antes?

_Claro que sim. Aprendi a ler aos dois anos de idade. Estudei em casa através do computador. Meus pais até tentaram me frear mas não houve meios. Com dez anos de idade não havia mais nada que eu precisasse estudar. Não consegui acompanhar estudos em escolas. Eram muito lentos para mim. Aos treze anos de idade comecei a assessorar os professores da faculdade e pagar a previdência privada. Aposentei-me aos quarenta e três e ministro aulas de física quântica para jovens que tem o mesmo potencial que eu. Mas acredite não são muitos. Por isso vim trabalhar aqui. Tenho esperança de ajudar esses jovens a se tornarem algo muito bom para a humanidade. Engana-se se acha que os professores daqui são velhos. A maioria é assim como eu. A idade média entre eles é de 46 anos. O mais velho dentre nós é o diretor da faculdade, o Dr Fritz.

_Fico feliz em saber disso. Acredite mas isso facilita as coisas. Lembra-se do dia do desabamento? Alguma coisa chamou a sua atenção?

_ Era um dia de folga e os alunos mais inteligentes e aplicados estavam reunidos na biblioteca. Os casulos, que é como os outros chamam os alunos que tem certa dificuldade, estavam aproveitando o dia. Os professores estavam espalhados pela cidade. Uns faziam compras e outros ficavam simplesmente admirando a paisagem como eu estava ainda há pouco. Uns poucos estavam na igreja católica. Estamos ajudando o padre Celso a corrigir as falhas técnicas da construção. Estamos planejando uma quermesse a moda antiga pra arrecadar fundos para a reforma da igreja.

_Interessante! Então só os alunos estavam na ponte? Ninguém mais viu o acidente?

_Realmente não. Os Nerds estavam no centro da FACIG, pois é lá que fica a biblioteca. Você já a visitou? Não perca esta oportunidade! É muito boa. Tem um acervo fantástico! Caberia na sua sessão de leitura uns cem alunos. Foi cercado com vidros fumê para que ali a ilum,inação seja adequada para leitura. Uma sala dentro de outra com ambientação especial. Muito bem montada e com janelas apropriadas para evitar a luz externa, foi construída no centro, também prevendo este detalhe. As luzes são adequadas e a ventilação é perfeita. Tem um sistema de exaustão para que o ar se renove sempre. O ar-condicionado foi especialmente criado para evitar o mofo e o ressecamento dos livros. A localização dos livros se dá em volta pelas paredes internas do chão até o teto com escadas móveis que circulam na frente de todas as estantes fazendo a tarefa do bibliotecário ficar muito mais fácil. O acervo está catalogado e conservado em microfilmes para eternizá-los. As obras que lá se encontram, são especialmente adquiridas para pessoas de mente brilhante. Talvez por isso os casulos não se interessem tanto por ela.

_Os professores, não gostam de ficar aqui?

Claro que sim, mas era um dia para se fazer compras. E nós aproveitamos a folga pra encher as despensas dos alojamentos. Eu estava precisando de umas roupas adequadas para este clima. De onde eu venho o clima é muito frio e não tinha roupas apropriadas. Demorei-me demais a fazer compras. Meu dinheiro vem de muito longe e por isso eu ainda não tinha resolvido esse probleminha. Estava usando as roupas da colega Irene, professora de artes gráficas, que auxilia ao professor de Engenharia da computação. São uma equipe.

_Ela poderia me responder algumas perguntas?

_Sinto muito! Ela estava com os alunos naquele dia. Não saberia dizer nada.

_E os alunos que se salvaram, onde estão?

_Hospitalizados. Em choque. Não sabem nem quem são neste momento.

Ficamos ali sentados na grama por uns minutos sem falar nada. Olhei aquela mulher. Como ela era interessante! Linda e inteligente, duas qualidades difíceis de se encontrar numa só pessoa. Era um gênio.Os óculos escondiam um pouco aqueles olhos verdes-mar. Não entendo nada de física e assim não dá pra discordar quando ela diz que é professora e de toda a sua história. Mas tem cara de menina. Uma linda menina de 1,70 mais ou menos, cabelos longos e bem cuidados unhas impecáveis, com esmalte discreto, e que par de coxas!!! Usava um shortinho folgado amarelo que lhe caia bem demais. Uma blusa discreta que cobria mais do que eu queria que cobrisse.

_Ei! Tira o olho das minhas coxas! Seu safado!

_Calma! Só tava observando você. É muito linda sabia?

_Porque os homens não se contentam com uma conversa amigável? Já poluem tudo com esses olhos gulosos!!!

Saiu correndo dali e me deixou com o queixo caído. Demorei a cair a ficha e só então gritei:

_ Não se vá! Volte aqui! Desculpe-me!

Tarde demais. Eu estava sozinho outra vez. Ela não voltaria. Ou era tímida ou eu a tinha magoado de verdade. Saí dali e resolvi tentar voltar pro centro da cidade. O barco tinha levado a professora que já estava chegando do outro lado. Gritei e o barqueiro voltou pra me buscar. Enquanto esperava do lado do rio vi algo que me chamou a atenção. Parecia alguém embaixo da ponte. Gritei:

_Ei! Você aí! E o vulto sumiu. Entrei no barco e pedi ao barqueiro que me levasse até os destroços da ponte. O vulto era apenas um dos operários que estavam retirando os destroços porque o prefeito queria reconstruir a ponte logo. O barulho do motor serra se fez ouvir logo que me aproximei da ponte. Estavam cortando as madeiras e retirando aos poucos. Subi em uma das plataformas que firmavam as pilastras da ponte. Analisando-as verifiquei que a água deveria subir com a maré e assim chegava até a ponte. As marcas da água estavam bem visíveis. A maré estava baixa agora e dava pra ver o fundo do rio que mostrava alguns vestígios do acidente então desci até a mais baixa de todas as plataformas e tentei descer até a água. Queria pegar um objeto que estava grudado no limo do fundo do rio. Quando já ia descer alguém gritou:

_Ei tá maluco? Não pode descer ai?

_Por quê? – Perguntei.

_ O fundo rio é lamacento e só dá pra tomar banho nele, quem sabe nadar, e quando a maré está alta. Você pode afundar no lodo e nunca mais ser encontrado.

_Obrigado. Eu só queria saber o que é aquilo e apontei para um objeto metálico, dentro d'água.

_Ih! É mesmo, o que será aquilo? Vamos fazer o seguinte: Você se amarra nesta corda e eu amarro ela na pilastra, seguro no meio e ai você desce. Não pise no fundo, boie e nade até lá. Você sabe nadar não é? Tenta não fazer muitos movimentos, pra não sujar a água.

Prendi a respiração, pra flutuar melhor, e desci depois dele tomar todas as precauções. Suavemente cheguei até o objeto. Boiava sobre uma sacola plástica cheia de ar, uma faca de cabo de aço inox. Nele estavam gravadas em baixo-relevo, as letras: “DLGPHC”. Não entendemos direito na hora. Foi preciso levar a faca e depois lavar com uma escova pra entender as letras. Mais mistério. Não dá pra entender o que quer dizer tantas letras no cabo de uma faca. A marca da faca era uma marca comum e bem conhecida. Não tinha nada a ver com as letras.

Voltando pra FACIG, encontrei-me com o doutor na entrada do curso de Engenharia e ele me convidou pra almoçar com ele. Perguntei-lhe quando a maré costuma encher e ele disse-me que ainda não tinha observado isto.Sabia que subia e descia conforme a lua mas não entendia de marés e muito menos de luas. Perguntou-me pra que queria saber, então desconversei dizendo que não era pra nada. Apenas curiosidade e aceitei seu convite pra almoçar. O doutor me contou que andava pesquisando amostras de sangue dos alunos da Faculdade pra saber se algum deles havia usado drogas. Não me pareceu relevante na hora por isso fingi que ouvia com interesse. Meu pensamento viajou para a ponte e os detalhes que eu havia observado nela. Logo ela não mais existiria e eu, cheguei a conclusão de que alguém estava tentando apagar alguma pista. Disseram que o prefeito queria reconstruir a ponte urgente por causa da faculdade, mas isto atrapalhava meu trabalho. Resolvi procurá-lo. E logo depois do almoço parti para lá.

A prefeitura de Candance Citty era muito bonita. Simples construção mas recentemente reformada estava um show. Subi as escadas e disse a recepcionista que precisava falar com o prefeito. Ela me disse que ele estava muito ocupado pra me receber e que eu deveria marcar uma hora. Eu não poderia esperar, por isso apresentei meu cartão com o distintivo de investigador da polícia, e ela mudou de ideia rapidinho até demais. Me fez entrar em uma sala e foi avisar o prefeito. Ele me recebeu com muita efusão. Até demais!!!

_Olá, como vai? Meu nome é Fernando e eu sou o prefeito da cidade. Fico feliz que tenha me procurado. Imaginei que viria. O senhor não se lembra de mim mas eu me recordo do senhor. Investigador JH não é mesmo? Em que posso ajudá-lo?

_Bem se o senhor já me conhece, partamos logo pro assunto que me trouxe aqui. Porque o senhor mandou retirar os destroços da ponte? As investigações ainda não foram concluídas. Isto pode atrapalhar o meu trabalho.

Desculpe-me mas tenho que fazer o transporte das pessoas até a faculdade pois elas terão que pagar pelo transporte até a ponte nova ser construída. Espero que seja o mais breve possível.

_Meu caro Fernando, espero que mande parar agora mesmo as obras da ponte, a menos que possa reconstruí-la em outro lugar. Falei pausadamente e saía de fininho quando ele respondeu com a cara amarrada:

Tudo bem mas quero reconstruir exatamente ali por uma questão de estradas prontas. Se reclamarem do atraso a culpa é sua.

Lembrei dele logo que entrei na sala. Ele era o melhor amigo do delegado quando eu trabalhava aqui. Não me suportava. Senti que havia qualquer coisa que o impelia a reconstruir a ponte o mais rápido possível. Alguém estava por trás dele mas ele não falou em ninguém e eu não queria que ele percebesse minhas suspeitas.

Desde a manhã andando e investigando por ai nem vi o tempo passar. Resolvi que já era hora de ir pro Hotel jantar e dormir um pouco. O outro dia me aguardava com muito mais emoções.

Bem que tentei dormir mas o sono não veio fácil. Apenas cochilei algumas vezes na noite inteira. Quando ouvi o galo cantar acordei do último cochilo. Resolvi sair e andar um pouco. Estava chuviscando e parei em uma padaria próxima do hospital onde os alunos estavam internados. Tomei café e saí com os chuviscos no rosto. O sol teimava em nascer. Nos destroços da ponte encontrei a mesma mulher. Ela chorava convulsivamente e estendia os braços para a frente em direção ao outro lado. Lá estava o mais lindo arco-íris que eu já havia visto. Ele estava exatamente sobre o lugar onde deveria estar a ponte. Fiquei tão encantado com ele que nem percebi que a mulher saíra correndo com a minha chegada. Quando a procurei, já avistei bem longe correndo ainda. Porque será que ela correu? E porque chora tanto ao olhar para a ponte? Com essas dúvidas na cabeça deixei a ponte e fui até o hospital para conversar com o médico responsável pelos jovens alunos da FACIG.

Meu celular tocou e atendi instintivamente. Não sabia quem era mas podia ser importante. Era a Helen. Queria me encontrar e marcou perto da ponte. Na hora nem me ocorreu, mas quem deu meu número pra ela?

Cheguei antes do horário marcado e não havia ninguém por ali. As obras estavam paradas. Parei em frente a ponte e observei que no chão tinha um desenho de um labirinto e na saída dele um arco-íris. O desenho havia sido incrustado no calçamento. Achei lindo e interessante. Porque tinham feito estes desenhos? Perguntaria ao prefeito depois. Helen estava chegando e estava muito esquisita.

_Olá, porque você fez parar as obras da ponte? Não pode fazer isso!!! E nós? O que será da gente?

_Calma, é só até as investigações se concluírem! Ela estava muito estranha e não olhava em meus olhos. Porque será que parecia mais velha do que ontem? Acho que estou ficando biruta!!!

_Por favor acelera isso logo! E saiu bem apressada.

Fiquei ali achando que as mulheres e que eram malucas. Coçava a cabeça e quanto mais pensava, entendia menos.Sei que ela gostou de mim. Por quê me tratou assim? Mas o fato é que a ponte escondia segredos que eu ainda não conseguia entender. Helen com certeza fazia parte desse segredo. Mas ela não era dali. Tinha vindo dar aulas na faculdade e só então deveria ter conhecido a ponte!!??!!??

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 31/10/2014
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