Eliott Scoch em: O caso do orfanato Huller

Mais uma vez Eliott Scoch abria o seu guarda-roupa e deixava ser dominado por aquela comumente indecisão matinal de escolher um suéter para vestir. Eram todos tão iguais. Todos eram insossos. Já usara todos eles. Maldita indecisão! Passeou os dedos pelos cabides e finalmente apanhou um deles. Era marrom com algumas listras brancas. De gola alta e macio. O tempo estava ameno e o tecido da peça era perfeito para o momento. Vestiu o suéter e olhou-se no espelho. Ajeitou os seus cabelos a lá Edgar Alan Poe e colocou os seus óculos redondos. Gostou do que estava olhando. Sorriu.

Eliott deixou o seu quarto com aquele ar triunfante de quem está preparado para viver mais um dia. Atravessou um curto corredor e encontrava-se agora na sala. Apanhou o controle da televisão e ligou-a. A pobre TV começou a chiar incontrolavelmente. Não era muito velha. Não havia sinal. A tela ficou escura. Voltou a chiar novamente. Eliott se aproximou do aparelho e deu uma leve pancada. O defeito ainda persistiu. Ele desligou-a. Esperou alguns segundos e novamente ligou. Uma repórter apareceu na tela. Era o jornal da manhã e anunciava algo impressionante.

“Nesta manhã a polícia informou que o famoso serial killer de crianças, Jack Manilla, está foragido do presídio da cidade. Ele havia desaparecido nesta manhã e as buscas por ele são incessantes. Boatos informam que Jack Manilla está disfarçado e provavelmente escondido no famoso orfanato Huller, palco de seus assassinatos em série. A polícia ainda está a sua procura e informa aos pais que impeçam suas crianças de saírem de casa até que prendam este homem perigoso. Mais informações no jornal da tarde.”.

A programação voltou ao normal, menos, é claro, a mente de Eliott. Ele ainda permaneceu imóvel na frente da televisão tentando absorver aquela notícia impactante logo pela manhã.

Já de volta em seu quarto, ele ligou o seu laptop e começou pelas buscas de informações sobre o famoso orfanato Huller. Acessou a página do Google na internet e digitou o nome do orfanato. Clicou no primeiro resultado, pois, julgava ser uma fonte confiável.

Por que o orfanato Huller era assim tão famoso? Justamente pelo fato de Jack Manilla ser o protagonista desta pavorosa história que ocorreu na época. Foi no ano de 1969 que a trama se desencadeou. O orfanato Huller ainda tinha o designer arquitetônico gótico e ponto de referência de crianças abandonadas. Muitos trabalhavam naquele lugar. Um zelador, cozinheiros, arrumadeiras, criadas, patrões e outros funcionários. Jack Manilla infiltrou-se no lugar trabalhando como um simples cozinheiro. Simples por que o seu caráter assassínio precisava ser discreto. Jack foi diagnosticado com sérios problemas psicológicos. Seus pais não o tratavam com aquele mesmo amor que tratava o seu irmão mais velho. Ele começou a odiar crianças como o seu irmão e jurou que quando se tornasse mais velho, faria vingança. Seus pais o abandonaram nas portas do orfanato Huller e lá seria o seu cativeiro. Tinha o prazer de matar e torturar crianças mais velhas. O problema era que Jack era um psicopata extremamente perigoso.

A primeira vítima do orfanato foi uma garota de quatorze anos chamada Lizie Norman. Ela foi encontrada em seu quarto, afogada na privada do banheiro. Jack meticulosamente planejara o crime. Colocou sonífero na sopa dos patrões e funcionários e esperou à noite recair para colocar o seu plano em prática.

Uma semana depois, outro crime ocorreu. Desta vez um garoto da mesma idade de Lizie fora torturado até a morte por Jack. Nos últimos meses daquele ano sombrio mais de quatorze crianças morreram no orfanato. Jack fora descoberto após ser vítima de uma armadilha feita pelos próprios patrões do local e preso. Foi sentenciado a prisão perpétua.

Depois de mais de quarenta anos após o caso, Eliott se descobrira novamente diante de um grande problema. Ele não era nascido na época, mas anos depois, a história foi comentada pela cidade ocasionando um grande alvoroço. O seu telefone celular começou a tocar. Era o seu amigo, ou melhor, grande amigo Thomas Hens.

- Bom dia. Diga ai meu amigo.

Para a surpresa de Eliott a notícia não era tão agradável assim. Eliott empalideceu rapidamente e deixando o seu laptop de lado saiu em disparada de sua casa.

Quando ele chegou ao local notou inúmeras viaturas da polícia no entorno. Agora, parado ali na frente do famoso e imponente orfanato Huller, parecia estar regredindo há quarenta e cinco anos atrás. Avistou Thomas Hens se aproximando.

- Parece que temos um novo caso a resolver.

- O que houve? – indagou Eliott com o semblante preocupado.

- Quer mesmo saber?

Ele fez que sim com a cabeça.

- Uma garota foi encontrada morta no quarto... – Hens engoliu em seco. – Afogada na privada do banheiro. E ao lado do corpo encontramos isso. – Hens tirou de dentro de uma caixa que carregava consigo um coelho de pelúcia com um botão que formava o seu olho.

- Ela deveria ser muito apegada a esse brinquedo.

- Ou deve ser algum símbolo do assassino. O qual não se sabe a sua identidade.

- Jack Manilla.

- Como?

- Você não assiste jornais da manhã? Jack Manilla. – Eliott dizia em um tom baixo para não chamar atenção da polícia. – Saiu uma reportagem dizendo que ele está foragido do presídio e provavelmente dentro deste orfanato.

- Mas a polícia já revistou o lugar e não encontrou sinais de sua presença.

- Da mesma forma como ocorreu na primeira vez. Ninguém conseguiu encontrá-lo senão os seus patrões. Você sabia que ele se disfarçou de cozinheiro para trabalhar no orfanato não sabia?

- Sim, claro. O que eu não entendo é o porquê dele voltar e realizar novamente os crimes.

- Ele ficou preso mais de quarenta anos. Voltar e fazer tudo de novo não faria diferença. E eu garanto que desta vez ele voltou mais forte, por mais velho que já esteja.

Hens afastou-se para conversar com o delegado. Eliott permaneceu onde estava. E o seu olhar arguto jamais deixou de fisgar algo suspeito. Do outro lado da rua, parado debaixo da sombra de uma árvore, encontrava-se um sorveteiro recheado de crianças em volta dele. Eliott foi dominado por um sentimento de pavor e medo naquele momento.

Agora Eliott precisava proceder com as investigações. Entrar naquele lugar, palco de grandes tragédias, requeria muita coragem. Mas, ele estava acompanhado de seu amigo e da polícia. Assim que entrou no lugar deparou-se com um formosa mulher de seus cinqüenta e poucos anos, pouco aparente, conversando com um policial. Relatava o ocorrido. Estava muito calma para a situação em questão. Quando Eliott se aproximou ela veio ao seu encontro com um largo sorriso no rosto. Tinha os cabelos negros e curtos, era alta, vestia um belo vestido de cetim vermelho e usava um perfume inebriante.

- Olá. Bom dia.

- Muito prazer. Eliott Scoch e esse é o meu amigo Thomas Hens.

- Prazer em recebê-los aqui em meu orfanato. – disse em um tom doce e alegre. – Eu me chamo Tereza. Tereza Darler.

- Estamos encarregados de investigar a morte dessa garota que ocorreu aqui. – disse Eliott encarando a alegria que se esbanjava de Tereza. Um mero disfarce.

- ÓH! Isso é realmente lamentável. Sempre estamos atentos a tudo que nossas crianças fazem durante um dia. Um pequeno descuido e tudo acontece.

- Descuido? Isso se chama irresponsabilidade. – disse Hens com certa fúria. – Como ninguém nota que um maluco entra no orfanato e mata uma pobre garota?

- Tudo bem. Eu sei que esse local foi palco de uma grande tragédia. Ainda estamos nos recuperando. E naturalmente, eu sei que esse tresloucado Jack Manilla está foragido, mas... É quase utópico imaginar que ele esteja aqui no orfanato.

- Tudo bem. – disse Eliott. – Nós precisamos avançar com as nossas investigações. Com licença.

Quando Eliott e Thomas deram de ombros, Tereza lançou-lhe um olhar maléfico e extremamente suspeito. Aquele olhar de quem está sempre pronto para iniciar os seus planos. Este detalhe fugiu da percepção de Eliott, mas desde o início ele sabia que Tereza não era insuspeita.

As interrogações começaram. Thomas Hens sempre ficava ao lado de Eliott escutando o amigo que sempre tinha aquele quê de intimidação quando interrogava as pessoas. Primeiramente foi a arrumadeira. Ela sempre arrumava o quarto das crianças e Eliott esperava bons comentários dela. Ela se chamava Barbara Pouler. Era uma bela garota de olhos grandes, cabelos negros e esguia.

- A que horas você entrou e deixou o quarto? – indagou Eliott.

- Eu entrei aqui às duas da tarde e não tinha muito que fazer. Arrumei a cama das crianças e saí em questão de meia hora depois.

- Você não notou nada de estranho. Algo fora do normal?

- Não, senhor. As crianças não estavam e tudo parecia tranqüilo. – sua voz era serena. Barbara não parecia nervosa.

- Só mais uma pergunta. – disse Eliott. – Você já sabe que o famoso Jack Manilla está foragido, não sabe?

Os olhos de Barbara que já eram grandes se estatelaram de maneira impressionante.

- Não. Eu não sabia.

- Ele está solto e... E provavelmente está aqui.

- Aqui? – uma onda de pânico dominou a pobre arrumadeira. – No orfanato?

- Sim. Mas fique tranqüila que há inúmeros policiais no entorno. Ficará tudo bem. Mas, é preciso que se tome cuidado.

- Sim, senhor.

- Obrigado. Pode se retirar. – disse Eliott que a acompanhou com o olhar até a sua saída. Hens se aproximou.

- E então? O que acha?

- Ela está calma. Não tem como ser ela.

- Bem... Nunca se sabe.

- Vamos ver quem é a próxima.

A próxima era a lavadeira. Era uma mulher rechonchuda de bochechas rosadas e cabelos lisos. Ela se chamava Marta.

- Onde a senhorita estava quando o crime aconteceu? – indagou Eliott lançando um olhar inquiridor.

- Onde eu estava. Oras! Trabalhando. É o que eu mais faço nessa droga de orfanato. Lavo diariamente os forros, travesseiros e roupas destas criaturinhas nojentas. – sua voz parecia com a de um porco.

- Criaturinhas nojentas. – disse Eliott meditativo.

- Eu estava na lavanderia. Trabalhando como uma condenada. Aquele sabão não rende porcaria nenhuma. Depois me cobram um bom trabalho. Como farei um bom trabalho se não me dão produtos de boa qualidade?

- Obrigado. Foi o suficiente.

O próximo a ser interrogado foi à pessoa que Eliott mal esperava. Quando soube que o entrevistaria o seu coração acelerou ao extremo. Teria que colocar o seu radar para funcionar, pois, ele seria um grande suspeito. O cozinheiro.

Ele entrou no escritório e sentou-se diante do detetive. Estava impassível e um tanto apurado.

- Não posso demorar muito. Tenho que cuidar da comida no fogão. – ele tinha o rosto retangular, nariz simétrico e olhos negros.

- O senhor estava na cozinha no momento do crime?

Leonard Monzan demorou alguns instantes para responder e a resposta foi direta e deixou Eliott espantado.

- Não.

- E onde estava?

- Eu não estou criando um álibi senhor detetive. Estou dizendo a verdade. Eu não estava no orfanato. Quando cheguei notei o alvoroço da polícia e resolvi adiantar o meu trabalho.

Eliott acomodou-se na cadeira olhando fixamente para Leonard.

- Talvez, você deixou o orfanato... Justamente para colocar o seu plano em prática.

- Mas do que você está falando?

Eliott levantou-se da cadeira e enfrentou Leonard como ninguém.

- O famoso assassino Jack Manilla está foragido e possivelmente habita este orfanato. Se o senhor não sabe, Jack Miller teve acesso a este lugar naquela época trabalhando como um cozinheiro. E eu não admiraria se o senhor, senhor Leonard...

Leonard levantou-se de um pulo, impetuosamente.

- Você está insinuando que eu sou esse tal de Jack Manilla?

- Eu não duvido de nada.

Leonard soltou um riso jocoso.

- Você não tem provas contra mim detetive. Não se pode acusar as pessoas sem provas.

- Mas, eu tenho essa audácia.

- Pois pode parar com isso agora por que eu não sou obrigado a suportar isso.

Leonard deixou o escritório como um tornado em fúria.

- Você é louco? – disse Hens. – E se o cara resolve colocar sonífero em sua sopa e te matar Eliott? Pega leve.

- Eu sei, eu sei. Vou tentar me conter. Temos apenas mais uma pessoa para interrogar.

Era a zeladora do orfanato. Ela entrou no escritório. Era uma senhora de seus sessenta anos, tinha um coque baixo no cabelo, usava roupas próprias a sua idade e tinha o rosto redondo. Seu nome era Minerva.

- Senhora, sabe nos dizer onde estava no momento do crime? – indagou Eliott.

- Oras. – ela sorriu. – Fui até a padaria comprar leite para as crianças. Pobres criaturinhas. – disse pesarosa. - Sentem vontades insaciáveis que os adultos também sentiam quando eram de suas idades e claro, nós não queremos que elas passem o que nós passamos. Até por que eu fui de uma família pobre e sempre tinha vontade das coisas, mas nunca pude desfrutar.

- A que horas a senhora retornou da padaria?

- Se eu não me engano meia hora depois. Quando cheguei e notei todo aquele alvoroço fiquei preocupada. É lamentável senhor detetive. Lamentável.

- Você conhecia a vítima em questão?

- Sim, claro. Mas, eu não costumava me evolver muito com as crianças. O meu trabalho é apenas cuidar. Zelar por elas. Dizer que há tarefas a fazer, lembrá-las de escovar os dentes, brigar se fizerem más criações. Essas crianças de hoje são muito mal criadas. Não sei o que está acontecendo. Ausência da palmatória. É. No meu tempo era assim.

- Então, em algum momento chegou a se envolver com a vítima?

- Não com tanta intimidade. Eu, como disse detetive, apenas cuidava delas. Esse é o meu trabalho. E gosto do que faço.

- Tudo bem senhora. Obrigado.

- Não há de que.

Minerva deixou a sala e Eliott descartou àquela senhorinha simpática como culpada do caso.

Na saída do orfanato, Eliott novamente voltou com rapidez o seu olhar para a árvore do outro lado rua e o sujeito que habitava a refrescante sombra. O sorveteiro sempre estava rodeado por crianças insanas. Loucas por sorvete. Toda vez que entregava um sorvete a uma delas, ele sorria e para Eliott aquele sorriso era o pior sorriso de todos. Um sorriso repleto de malícia e perigo. Eliott deveria estar atento aquele homem antes que alguma coisa pior pudesse ocorrer.

O carrinho de sorvete estava sozinho. Era um solitário carrinho de sorvete à espera daquele alvoroço de crianças ao seu redor. E ele começou a tocar uma musiquinha contagiante e que chamou a atenção de uma garotinha ao longe.

- Sorvete! Sorvete! Todos pra mim! São apenas meus! – disse com tamanha felicidade.

Ela se aproximou do carrinho com uma alegria e euforia incontrolável e começou a dançar no ritmo da música que tocava. Abriu a tampa do carrinho e viu a quantidade de sorvetes que nele continha. Os seus olhos brilhavam como pequenas pedras de diamantes.

- Sorvete! – os seus olhos estavam estatelados. Com certa dificuldade a garotinha esticou o braço e conseguiu apanhar um. Era de groselha. O seu predileto. Abriu-o e o levou a boca.

- Delicioso! Delicioso! – disse com deleite.

Deu mais uma mordida, e mais uma e mais uma. E depois da última mordida ela franziu o cenho.

- Gosto ruim! Gosto ruim!

A garotinha cuspiu o sorvete da boca e limpava-a insanamente.

- Eca! Eca!

Ela permaneceu imóvel por alguns instantes. Olhava para o sorvete que havia caído de suas mãos. Algo muito estranho estava acontecendo. E de repente a garotinha que queria apenas desfrutar de uma “delícia gelada” acabou desfrutando de uma “delícia mortal”. Ela caíra subitamente no chão. Estava morta. Naquele momento, alguém apareceu. Vestia luvas de couro e rapidamente apanhou o corpo tenro da garota, ergueu-a com facilidade e abriu o carrinho de sorvete. O corpo fora colocado dentro dele e depois fechado. E o assassino... Deixou o local sem ser notado por ninguém.

- O que houve aqui? – indagou Tereza Darler preocupada. Ela se encontrava no quarto de Minerva que estava caída no chão, desmaiada. – Minerva! Acorda!

Tereza saiu gritando pelo orfanato para que alguém a ajudasse. O cozinheiro e a arrumadeira se prontificaram em socorrer a pobre Minerva desmaiada. Sangue escorria de sua cabeça. Nesse momento Eliott e Thomas Hens chegaram ao local e subiram a escadaria em direção ao quarto.

- Minerva foi atacada. – disse Tereza. – Há um ferimento em sua cabeça.

Lentamente ela foi abrindo os olhos.

- Detetive? Tereza? O que houve?

- Fique tranqüila. Não foi nada grave. Está tudo bem.

- Sim, foi grave. – disse Eliott avançando em direção à janela. Olhou pelo lado de fora. – Ela foi atacada.

- Atacada? – indagou Tereza com espanto.

- Um golpe na cabeça. Um golpe quase mortal. E o assassino fugiu pela janela.

E um policial entrou no quarto às pressas.

- Senhor – ele estava sem fôlego. – Senhor, venha o quanto antes. Nós encontramos um corpo de uma criança.

- De uma criança? – disse Tereza com mais espanto ainda.

- Dentro do carrinho de sorvete.

Eliott estremeceu por dentro e por fora naquele momento.

Quando retornou ao orfanato, foi até o quarto de Minerva para ver se ela estava bem. Ela encontrava-se deitada na cama com o semblante tranqüilo.

- Quem cuidou do seu ferimento? – indagou Eliott.

- Tereza. Ela é um encanto de pessoa. Colocou esse curativo para que não houvesse problemas de infecção. – ela sorriu. Depois se voltou preocupada para Eliott. – E então? E quem era a garota?

- Uma menina de dez anos. O corpo foi levado para a perícia. Muito estranho.

- Senhor Scoch eu fui atacada. O senhor não vê a gravidade da situação? Jack Manilla me atacou. Eu entrava em meu quarto quando senti um golpe em minha cabeça. Gritei por ajuda e não deu tampo de pegá-lo saindo pela janela. Ele quis me matar.

- E por qual razão?

- Oras! Ele é um maníaco. Está foragido e é perigoso. O senhor deve prendê-lo imediatamente. Ele pode voltar e me matar e fazer outras vítimas. Por favor, senhor Scoch. – suplicou. – Não deixe que ele faça algum mal a essas pobres criaturinhas.

- Tudo bem senhora Minerva. Ireis fazer o possível para colocar esse homem de volta à prisão.

Eliott deixou o quarto e ao descer as escadas encontrou-se com o se amigo Thomas Hens.

- O que achou da morte desta criança? Muito estranha não acha?

- Eu me peguei observado aquele sorveteiro. Desde o princípio ele me foi estranho.

- E você acha que ele pode ser Jack Manilla? – indagou Hens.

- Provavelmente. Thomas – Eliott demonstrou-se seriamente preocupado. – nós precisamos deter este homem. Ele fará novas vítimas. Minerva foi atacada por ele sem motivo aparente. Ele é um tresloucado.

- O sorveteiro desapareceu. Não deixou uma pista sequer.

- Ele pode ser o culpado, mas não temos provas que certifique isso. Preciso falar com a Tereza.

“-” O serial killer do orfanato Huller, Jack Manilla foi capturado esta manhã trabalhando como um operador de máquinas em uma empresa da cidade. Ele encontrava-se trabalhando no local quando a polícia, por meio de uma denúncia anônima, conseguiu localizar o seu paradeiro. Jack Manilla foi levado para o presídio e pretende não sair tão cedo de lá. Mais informações dentro d algumas horas.”.

Eliott e Hens assistiram ao noticiário, boquiabertos. Com Jack Manilla agora de volta à prisão o caso Huller estava encerrado. Mas, Eliott ainda sentia que algo poderia acontecer. Estava inseguro. Claro que ele rezava para que tudo estivesse esclarecido, mas ele também tinha essas manias de desconfiança que detetives têm.

O garotinho caminhava alegremente pela rua cantarolando uma música que ouvira na escola. Pulava como um coelhinho branco na floresta. Estava a uma quadra do orfanato Huller que se transformara em sua casa. Atravessou a rua e ao virar a esquina esbarrou-se com um homem muito mais alto que ele. Carregava inúmeros pirulitos em uma enorme caixa.

- Moço! Moço! Quanto é o pirulito? – perguntou ingênuo.

O homem não respondera. Suas mãos vestiam luvas de couro. Elas foram até a caixa e apanharam um delicioso pirulito. Era grande e colorido. O homem misterioso entregou ao garoto que sorriu efusivamente com os olhos brilhando.

- Pra mim? Oba! – ele apanhou rapidamente o pirulito e saiu correndo em direção ao orfanato. Tirou o doce do plástico que o envolvia e deu uma mordida. Ele fechou os olhos e apreciava o pirulito com avidez.

- Eu adoro pirulitos!

Deu mais uma mordida e os seus lábios estavam sujos de corante. O pirulito de despedaçou por inteiro ao cair no chão.

- Que gosto ruim! – reclamou limpando os lábios.

O garotinho colocou a mão na barriga e apertou-a. Deu um grito e começou a suar frio. Estava ficando sem voz, o rosto avermelhado e de repente o seu corpo caiu no chão como um prédio condenado. Em questão de segundos o garotinho havia morrido envenenado.

E Eliott já se encontrava no local do crime após ser avisado pela polícia. Analisava os farelos de pirulito com cuidado que estavam caídos na escadaria de entrada do orfanato. Thomas Hens se aproximou dele, curioso.

- Parece que alguém ofereceu a ele e...

- Estava envenenado? – indagou Hens.

- Sim. Isso é bem provável. Mas... Eliott Scoch levantou-se. - Jack Manilla está preso agora. Logo, não poderia ter sido ele. Mas... Quem poderia ser? – ele ficou em silêncio.

- Você acha que pode ser alguém de dentro do orfanato? – sugeriu Hens com o semblante preocupado.

- Tenho certeza. – afirmou Eliott com convicção. - Como também acho que essa pessoa é, além de um assassino, um psicopata.

- E o que vamos fazer? – indagou Hens.

- Já conversei com a Tereza e ela me cedeu todas as instruções da armadilha.

- Armadilha?- Hens ficou aturdido.

- Sim. A armadilha que naquela época ela usou para apanhar Jack Manilla.

E no momento em que a noite repousara sobre a cidade, a armadilha seria colocada em prática. O imponente prédio do orfanato Huller ficava ainda mais sombrio e medonho quando à noite. Vagarosamente, Thomas Hens, sim, Thomas Hens, o policial que raramente encarava o seu medo, se aproximou do orfanato. Percorreu pelos fundos do prédio e usando uma lanterna conseguiu chegar aonde queria. O interruptor. Olhou para os lados e tomando coragem desligou o aparelho que distribuía energia para todo o prédio. Thomas recuou rapidamente e deu continuidade ao seu plano.

Na escuridão do orfanato a grande balbúrdia acontecia. As portas de todos os quartos foram abertas violentamente e todas as crianças saíram desesperadas demonstrando aquele comumente medo que só elas tinham. O medo do escuro.

- Fiquem tranqüilas crianças!- disse Minerva tentando conter o alvoroço em meio aos gritos e choros. – Eu vou buscar ajuda. Fiquem calmas!

Na cozinha era possível ouvir barulhos de talheres e panelas caindo no chão. A porta foi aberta e o cozinheiro deixou o local ás pressas.

Marta, a lavadeira, deixou de lado o seu trabalho e saiu do quarto à procura de uma vela.

Thomas Hens encontrava-se escondido por detrás de uma estátua de bronze que ficava no fim do corredor. Ouviu passos vindos da escada. Era Barbara, a arrumadeira, segurando uma vela.

Todas as portas de todos os quartos foram abertas, entretanto apenas uma encontrava-se trancada. Dentro da escuridão do quarto uma pobre criança indefesa clamava por ajuda para salvá-la dos monstros que viviam nas penumbras.

- Socorro! Socorro! Eu tenho medo de escuro! Socorro! – as lágrimas escorriam de seus olhos enquanto ela apertava com força o seu cobertor com estampas de flores.

E para o espanto maior da pobre criança que tremia de medo, a porta do quarto foi aberta. E lentamente ela encostou à batente. Como uma armadilha tinha a função de atrair, ela atraiu a pessoa certa. O assassino. O quarto ficou em silencia. A voz da garotinha soou pelo ar.

- Socorro. – desta vez baixa. – Você pode me ajudar? Eu tenho medo de escuro.

Com a falta de luz o ambiente estava perfeito para a camuflagem do assassino. Porém, ao dar um único passo, o passo que o levaria para muito mais perto da menina, ouviu-se a sola de seu sapato raspar no chão do quarto, seguido de uma colisão violenta e barulho de objetos caindo. As luzes foram acessas no mesmo momento e Eliott Scoch encontrava-se ao lado da cama segurando um revolver.

- O seu plano falhou.

Tereza Darler saiu detrás da cortina do quarto, um tanto assustada.

- Conseguiram?

Eliott caminhou até o corpo caído no chão e virou-o.

- Ela desta vez não está fingindo como antes. Não é mesmo... Minerva Montana? Ótima armadilha. Eu nunca imaginei que passar manteiga no chão seria eficaz na caça ao assassino.

- Se foi infalível na época de Jack Manilla, por que não agora com a pobre Minerva.

Disse Tereza com um ar triunfante e radiante.

Dois dias depois do ocorrido, tudo se esclarecera. Minerva Montana confessou ter matado as três crianças do orfanato e disse que se não fosse impedida cometeria novos crimes, pelo simples fato de se sentir bem ao ver as crianças morrerem. Claro, assim como Jack Manilla ela foi diagnosticada com sérios problemas psiquiátricos e presa.

Eliott repousava em sua cama e aquele dia seria inesquecível em sua vida. Não pelo fato de ter sido a zeladora Minerva a assassina e muito menos pelas mortes meticulosas, mas, pelo simples fato de uma simples manteiga espalhada no chão ter sido a famosa armadilha para capturar um criminoso. Aquilo foi impressionante. Agora ele poderia dormir tranquilamente.

Fim

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Rogério Varanis
Enviado por Rogério Varanis em 14/11/2014
Código do texto: T5035134
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