IMAGENS GOOGLE: RACHEL WEISZ - ATRIZ  
e o bichinho propriamente dito
 


 

 
A LOUVA-A-DEUS
 

 
Cíntia sacudiu o cabelo castanho-escuro, levantou-se da cama e olhando para o seu parceiro que repousava de bruços, exausto, dirigiu-se à casa de banho para tomar um duche. Passados minutos regressou com uma seringa na mão e sentando-se na cama, junto do corpo do amante, acariciou-lhe o dorso... Ele mexeu-se um pouco e retomou o sono profundo. Então Cíntia destapou-o e rapidamente, dando-lhe uma palmada amigável na coxa, espetou-lhe a agulha fina na nádega esquerda e injetou o conteúdo, dando-lhe depois outra palmada na mesma zona. Ele mexeu-se e continuou a dormir. «Pobre diabo, não vais acordar mais...» pensou ela enquanto se vestia.
Depois de ter rebuscado a carteira dele e retirado todo o dinheiro em notas, pegou nas chaves do carro e saiu do quarto.

Um mês depois, Cíntia estava deitada numa espreguiçadeira na areia branca da praia, sorvendo aos poucos um tequila sunrise que o empregado do hotel lhe havia preparado. Sorriu para o homem grisalho que se encontrava a curta distância, também deitado e bebendo um refresco. Ele olhava-a demoradamente, admirando as formas voluptuosas da loura que retribuía os seus olhares lânguidos. Convencido dos seus dotes de conquistador, achou ali mais uma presa fácil. Por seu turno Cíntia abençoou a ideia que tivera em pintar o cabelo. Depois do incidente com o engenheiro, que deixara morto mas feliz na cama, entregara a um campanga a tarefa de se desfazer do carro e apanhara o avião para o Rio de Janeiro, rumando depois a uma estância balnear algures no Caribe.

Passadas duas semanas, em Lisboa, dois inspetores da Polícia Judiciária conversavam sobre um caso que lhes dava a volta à cabeça pela sua complexidade. No espaço de seis messes, três empresários de sucesso e um afamado engenheiro tinham sido encontrados envenenados em quartos de hotel de luxo, nus, com sinais de companhia sexual. Em todos os casos era constante a presença de uma morena voluptuosa, trintona, sempre vestida com roupas e joias caras, a fazer fé nos depoimentos dos empregados dos hotéis onde haviam surgido os corpos. E não havendo provas da existência da misteriosa envenenadora, impressões digitais, recibos assinados ou quaisquer outros indícios, tudo se afigurava um grande mistério. A única pista e mesmo assim muito fraca, fora constante a todas as vítimas, tinham sido atraídas por anúncios de acompanhantes de luxo, pelo menos os números de telemóvel, descartável, constavam nos seus telefones portáteis.
Mais tarde, conseguiram descobrir, pelas câmaras de segurança interna e depois pelo cruzamento de outras informações, nomeadamente pela confidência de uma acompanhante que havia privado com a misteriosa morena, que esta havia embarcado para o Brasil. E aí se perdeu toda a esperança de prender a criminosa pois Portugal não tem acordo de extradição com aquele país.

Decorreram mais alguns meses e o processo foi arquivado. A menos que ela voltasse a Portugal, ficaria para sempre impune.
















 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 28/06/2015
Reeditado em 30/06/2015
Código do texto: T5292658
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