O ASSALTO PERFEITO

Parecia um plano perfeito.

Parecia não. Era um plano perfeito

Assim pensavam os três reunidos em volta da mesa enquanto fumavam e traçavam a estratégia daquele plano mirabolante.

Bolão foi quem teve a idéia.

De tanto ver filmes policiais na TV. Bolão teve a idéia de realizar o assalto perfeito.

Um assalto que ninguém poderia descobrir quem o realizou.

O alvo escolhido foi a agência do banco da pequena cidade onde ele morava.

Bolão, Paulo e Braz estavam discutindo os detalhes do assalto. A sala onde eles estavam era pouco iluminada, o ar estava carregado de fumaça dos cigarros fumados por eles, por todo lado se viam tocos de cigarros ainda acesos espalhados pelo chão de cimento. Em cima da velha mesa, forrada com uma imunda toalha de flores que quase não se viam mais, tinha uma garrafa de cana quase vazia.

A casa, ou melhor, o barraco estava caindo aos pedaços.

Depois de algumas horas, todos os detalhes do plano já estavam discutidos, aprovados ou reprovados.

Ficou decidido que Bolão, já que era o autor intelectual do plano, iria conseguir as armas. Paulo, que era motorista de ônibus, ficaria encarregado de dirigir o carro na hora da fuga, carro esse que seria trocado por outro fora da cidade. Braz ficou com a responsabilidade de conseguir as máscaras. Iria comprar toucas para a fabricação das máscaras e luvas para não deixar impressões digitais.

- E o dinheiro, onde nós iremos escondê-lo?

- Depois da troca de carro, agente deixa o Paulo, que é o único que mora fora da cidade, com o dinheiro. Ele vai esperar alguns dias, então fará várias viagens a outras cidades onde abrirá pequenas contas em cada banco, assim, aos poucos, ele depositará todo o dinheiro. Quando a coisa esfriar e já tiver quase no esquecimento, ele vai tirar o dinheiro e então agente divide conforme o combinado.

- Certo. Quarenta por cento pra você, trina pra mim e trinta pro Paulo.

- É isso aí, afinal a idéia foi minha.

- Tudo bem.

Combinaram que o assalto seria realizado dali a quinze dias, ou seja, numa quarta-feira, dia do início do pagamento dos aposentados, e que seria feito na parte da manhã, assim que o banco abrisse suas portas, pois haveria menos gente dentro do banco.

No outro dia Bolão viajou para comprar as armas. Encontrou-se com Zeca, ladrão velho já aposentado, que lhe conseguiu três revólveres em troca de cinco por cento da parte de Bolão.

Braz foi à cidade vizinha onde comprou toucas e luvas pretas.

Paulo conseguiu um velho Gol para ser usado como segundo carro de fuga.

Ficaram os restantes dos dias repassando algumas partes do plano. Decidiram que no dia do assalto eles não deveriam ser em vistos juntos, e que depois do assalto cada um voltaria para suas casas, já que não haveria suspeitas sobre eles.

O dia do assalto chegou.

O carro, roubado por Paulo de um estacionamento próximo a garagem de ônibus que ele trabalhava, era um Fiat vermelho.

Paulo parou o carro em frente ao velho barraco, e de dentro dele saíram Bolão e Braz. Eles tinham combinado de última hora que sairiam juntos do velho barraco.

No trajeto para o banco Braz parecia ser o mais nervoso, fumava um cigarro atrás do outro.

Quando se aproximaram do banco as máscaras foram colocadas. A de Bolão era muito apertada e teve de ser cortado o fundo, o que deixou o topo da cabeça dele aparecendo.

O carro parou em frente ao banco e os três mascarados desceram com os revólveres apontados para o único guarda do banco, que foi obrigado a se deitar de bruços no chão, já sem a arma que trazia no coldre.

Os funcionários do banco ergueram logo os braços para evitarem serem atingidos por algum disparo. Nenhum estava disposto a levar um tiro defendendo o dinheiro dos outros. Os poucos clientes que se encontravam no banco, em sua maioria idosos que tinham vindo receber as suas aposentadorias, foram colocados de joelhos e com as mãos na cabeça. Os caixas não tentaram esboçar nenhuma resistência e entregaram todo o dinheiro a Paulo, que ia colocando tudo dentro de um saco plástico preto, desses usados para colocar lixo. O gerente, acossado por Bolão que havia encostado a arma na sua cabeça, abriu o caixa-forte e entregou todo o dinheiro graúdo. Tudo isso enquanto Braz mantinha tos quietos sob a mira do seu revólver.

Dois minutos e meio depois todos entraram no carro, que havia ficado ligado em frente ao banco, e sumiram.

Quase uma hora depois, já fora da cidade, o carro usado no assalto foi trocado pelo Gol, como tinha sido combinado.

Á noite Bolão foi preso quando voltava de táxi pra casa.

Menos de doze horas depois do assalto perfeito, Bolão foi levado algemado para a delegacia onde foi interrogado pelo delegado.

- Muito bem, já sabemos que você participou do assalto ao banco. Queremos saber agora onde está escondido o dinheiro e que eram os seu comparsas.

Bolão estava totalmente desconcertado. Onde estava o erro? Tudo tinha corrido exatamente como fora planejado. Tudo igualzinho aos filmes na televisão. Por mais que se esforçasse não descobria onde eles tinham errado.

- Vamos Bolão, você já está numa fria mesmo, diga onde está o dinheiro e que eram

os seus companheiros.

Bolão contou tudo para não se complicar mais.

Braz foi preso quando bebia com uns amigos em um bar.

Paulo recebeu voz de prisão quando deixava o ônibus que dirigia na garagem.

Ante de serem levados para a penitenciária, Bolão quis saber como a policia tinha descoberto tudo tão rápido.

- Simples - disse o delegado, - o gerente do banco contou que um dos assaltantes era muito gordo, e que, além disso, era careca e tinha dois dentes de ouro.

Ouvindo isso, Bolão baixou a cabeça e começou a chorar.

Não era à toa que o seu apelido era Bolão. O homem mais gordo da cidade, que também era careca e tinha dois dentes de ouro na boca.

João Pessoa, 25/06/2007