Trauma Insuperável: Confissão

Trauma insuperável: confissão

Por que o mundo é injusto? Por que a vida das pessoas que tiram tudo de nós vale algo? Por que ninguém mais lembra do que as pessoas fizeram? Por quê? Não consigo entender.

Talvez seja, exatamente, por lembrar demais que estou aqui escrevendo e falando a um júri. Sei que querem uma explicação para o que fiz. Sei também que merecem isso. Mas o que falar a vocês para compreenderem o que fiz? Confesso, não vou conseguir isso. Mas vou expor a vocês a minha vida desde o maldito incidente, o que senti quando o assassino de minha filha foi solto e porque eu assassinei.

Primeiramente, vou contar-vos do pior dia de minha vida. Há 30 anos atrás, um maníaco estava assassinando algumas moças que vagavam pelas ruas da cidade. Como era padeiro e minha filha aprendia a profissão, ela seguiu por volta das 4 da manhã para a minha padaria foi quando o maníaco a matou a marteladas e escondeu o corpo em um dos prédios da rua. A partir daquele dia vivi para prendê-lo. Consegui meu êxito. Ele foi condenado, mas eu não consegui exercer minha profissão, sempre ouvia os gritos da minha filha em algum lugar.

Eu deixei de viver. Vendi minha padaria. Comprei uma chácara no interior e vivi lá durante muitos anos. E sempre que eu via uma moça jovem, eu via minha filha que não pode chegar a essa idade. Toda vez que alguém falava de seus filhos, eu lembrava o que não pude passar a minha, por não mais existir. A cada conversa com as pessoas eu falando de futuro, eu lembrava que minha filha não teve futuro. Eu nunca pude esquecer minha filha.

Mas o tempo passou, e o homem que destruiu minha vida foi liberto. Ele conseguiu trabalho, em um local próximo a minha chácara. O mundo tinha esquecido o que ele fez. Inclusive ele, pois ao conversar comigo não sabia nem quem eu era. Decidi fazê-los lembrar.

Fui até a cidade. Encontrei uma agência de emprego, fiz uma entrevista, mostrei que era padeiro, dei o CNPJ da minha antiga padaria. Tudo foi premeditado. Ninguém desconfiou, pedi para que meninas, na idade entre 14 e 18 anos, que buscassem aprender uma nova profissão. Fiz uma entrevista simples, selecionei-as e marquei um dia para o primeiro dia de trabalho. Quando todas chegaram, o prédio estava abandonado, elas ficaram assustadas. Me aproximei acalmei-as e disse que o endereço era outro. Pedi para entrar no carro e segui até o trailer quando entraram o gás as asfixiou. Conclui o serviço quebrando os ossos dos corpos a marteladas e deixando-as nos prédios onde as moças foram mortas.

A única coisa que consegui foi me transformar em um monstro, pois ninguém se lembrou da minha filha.