PRIMEIRO E ÚLTIMO AMOR

’’Não tinha escolha, tive que fazê-lo. Não suportava a culpa que sentia desde o princípio de tudo até aquele instante... Era muito angustiante sentir aquilo e não ter reação. Meu primeiro amor era às escondidas. Tive que dar um jeito antes que as coisas piorassem para ambos os lados- Matei meu professor com quem tinha um romance secreto. Jamais imaginei me envolver com alguém quase vinte anos mais velho que eu... ’’Ninguém podia descobrir tal feito’’ pensei ’’O faria as escondidas, sem que ninguém jamais soubesse’’.

Naquela noite, como de costume, íamos nos encontrar na biblioteca. Ele jamais desconfiaria. Já tinha tudo em mente- o atrairia para a armadilha. Quando o vi chegar e estacionar o carro, veio-me um frio na espinha, pensei por um momento se era aquilo de fato que queria- não queria, mas devia. Quando estava vindo em direção à biblioteca, o chamei, ele estranhou, é claro, mas, naturalmente, veio até o refeitório- não estava lá, pelo menos não a sua vista. E com um taco de beisebol, que peguei na sala de educação física, não pensei duas vezes- por trás, o golpeei na nuca e ele desmaiou. Arrastei-o até a cozinha, localizada a mais ou menos uns quinze metros de distância. Pesava muito. Finalmente cheguei. Soltei o corpo ali mesmo, debaixo dos acendedores. Ainda estava respirando apesar da pancada. Precisava terminar o que comecei. Quando levantei o bastão para finalmente acabar com sua vida, ouvi passos -era o vigia- precisava sair dali antes que fosse descoberto. Havia impressões digitais por toda a parte. Não tinha escapatória. Precisava dar um jeito, logo! Quando, encurralado, virei para frente, avistei os seis acendedores do fogão, não hesitei, acionei-os rapidamente. A sorte estava do meu lado, se é que posso chamar de sorte. O cheiro do butano empesteou aquele ambiente minúsculo e fechado, rapidamente. Era certo de que ele morreria de qualquer forma. Ainda estava desmaiado.

Na manhã seguinte, como esperava, o lugar foi aos ares, explodiu. Todos os jornais noticiaram também a morte daquela pobre cozinheira-que rotineiramente ia cedo à escola preparar a cozinha, mas naquela manhã fria de terça-feira, mal sabia que ao acender as luzes tudo explodiria. Claro, qualquer pessoa com conhecimento mínimo em acidentes domésticos sabe que a simples faísca de uma lâmpada quando acesa pode levar aos ares qualquer ambiente repleto de qualquer produto que seja inflamável em milésimos de segundos. Pobre infeliz, mas era o preço que teria que pagar: a morte de uma inocente. Não tive escolha.

A perícia confirmou que o segundo cadáver carbonizado fora vítima de uma tentativa de homicídio e morreu asfixiado pelo butano propositalmente. A explosão pôs fim a qualquer prova que incriminasse o assassino. Apesar de todas as investigações, nenhuma pista, nada sobrou. Como toda a história tem seu lado ruim, a investigação policial descobriu nosso romance e todos souberam da história. Não posso viver sendo o motivo da morte de alguém que amava. Eu era o pivô de tudo. De qualquer forma eu era o culpado.

Então escrevo essa carta assumindo finalmente a culpa pelo assassinato de meu professor, meu amante, se assim preferirem. Peço desculpas, primeiramente, a sua mulher por todo sofrimento que causei. Meu ato levou-a a ser a principal suspeita do crime. Eu era o único que sabia de sua inocência e claro- a senhora. Sei que seu filho vai ser abençoado com a criação que dará para ele daqui em diante. Robson me falava muito dele. Devo desculpas também aos meus pais pelo transtorno, também os tornei suspeitos de um crime que, particularmente, sei com absoluta certeza de que não o fariam, mas é natural nessa situação vocês serem considerados suspeitos. Desculpo-me de antemão pelo sofrimento que irão enfrentar daqui em diante.

Minha vida foi tão pífia e infeliz... mas não posso dizer que não vivi aventuras, seria mentira, minha vida foi uma completa aventura, mas uma aventura fantasmagórica. Olhando para trás, posso concluir que a única coisa que realmente saiu como eu planejei fora este maldito assassinato. É impressionante como tudo conspirou ao meu favor, bom agora não mais, pois estou confessando tudo mas isso também faz parte dos meus planos.

Já disse o suficiente. Espero que aceitem meu pedido de perdão. Adeus.

"Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: 'Estou arrependido', perdoe-lhe"

Isac Ventura.’’

Artur Sanfournt
Enviado por Artur Sanfournt em 17/01/2016
Reeditado em 19/01/2016
Código do texto: T5513629
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