~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XXVII

A entrevista com Thalia surtiu um efeito consequente em Ruan, o desejo maior de desvendar os segredos ocultados sob as sombras no rosto dela; as desconfianças passaram de algumas para muitas e ele já não conseguiu se manter relaxado em seu escritório. Saiu dali e era começo de noite, mais ou menos 19:00h; antes de subir a escada do salão principal, viu Thiago indo ao corredor direito, novamente de mãos vazias; nunca mais tinha visto ele com a mala. O rapaz só fez um movimento com a cabeça para saudar de longe o detetive e continuou seu trajeto. Ruan quis muito seguí-lo, teve uma vontade enorme de saber o que havia naquele porão, todavia uma força maior o levava para cima da escada, então acabou que ele ignorou o corredor e subiu.

Em vez de virar o corredor direito do andar superior para ir a seu quarto, Ruan foi pelo corredor esquerdo; passou por algumas portas trancadas e reteve os passos diante daquela que lhe convidava para entrar, era a porta do quarto de Thalia. Ruan só arriscou girar a maçaneta e por sorte a porta estava destrancada; com lentidão, ele abriu-a e uma vez encontrando o quarto vazio, adentrou. Não sabia por que estava fazendo aquilo, antes já fôra repreendido por Thalia por uma atitude similar, mas suas desconfianças o impulsionavam a o fazer. Observou os móveis. Depois remexeu nos desenhos empilhados encima da mesinha, com o cuidado de deixá-los da mesma maneira que os encontrou. Girou em direção da janela ao lado da cama e algo ao seu lado lhe chamou a atenção, no que baixou a vista e notou que havia um recado pendente na secretária eletrônica do telefone no criado-mudo. Ruan fez os dedos caminharem sobre o móvel, como quem nada queria e, feito um menino atrevido, aproximou o dedo indicativo do botão Play, brincando de apertar ou não apertar o botão. Não quis saber, apertou, e levantou o rosto para o teto, como se estivesse disfarçando o que acabara de fazer. A mensagem tocou, era uma voz feminina que dizia: "Alô, Thalia querida? É sua tia Madalena... Sinto saudades de você, meu amor! O que aconteceu que nunca mais veio me visitar? Estou com uns tecidos lindos aqui que sei que vai amar. Venha quando puder! Um abraço!" assim que a mensagem terminou, Ruan estava a fitar a máquina com a testa franzida e os lábios a ponto de despejarem alguma palavra, mas estava tão confuso que não soube o que dizer para si mesmo. Meneou lentamente a cabeça da esquerda para a direita, enquanto uma única pergunta martelava seu pensamento: "se faz tempo que Thalia não visita a tia, então onde ela tem ido em todos aqueles dias que saía da mansão?"

~*~

A segunda-feira chegou com um sol meio tímido, mas que compensou o dia anterior de chuva. Quando Ruan saiu do quarto, logo às 6:00h da manhã, avistou no corredor inverso o Sr. Arantes de frente à porta de seu quarto e parecia conversar com alguém; ele estava vestido com um terno e Ruan deduziu que estava prestes a sair.

Como sempre foi muito curioso, desde que era só um menino, Ruan se aproximou discretamente do quarto, sem que o Sr. Arantes o pudesse perceber, pôsto que estava quase dentro do quarto. Escondido atrás de uma planta alta e com galhas longas, a pouquíssimos metros de distância, Ruan conseguiu ouvir um pouco da conversa...

- Hoje é o dia do pagamento? - perguntava o Sr. Arantes para quem estava do lado de dentro do quarto, ao passo que colocava o relógio no pulso.

- Sim - respondeu a outra pessoa e de imediato Ruan reconheceu a voz, era da Sra. Beatriz.

- Bom, já estou indo... Volto antes do almoço - o Sr. Arantes entrou no quarto e logo após alguns segundos saiu.

Ruan saiu de detrás da planta e sem tempo para descer a escada antes, esperou o Sr. Arantes passar e não pôde deixar de ser visto, a não ser que antes fosse um fantasma.

- Bom dia, detetive Gaspar! - o Sr. Arantes parou para saudá-lo.

- Bom dia, senhor Arantes - Ruan também o saudou, dissimulando o que fazia minutos atrás, de um modo desajeitado.

- Em menos de um minuto, me diga: já conseguiu descobrir alguma coisa?

- Em menos de um minutos só posso te dizer: ainda...

- Vamos, pode falar - ele riu, relaxando mais o corpo.

- Ainda não, era o que eu ia dizer - Ruan mostrou graça em suas palavras.

- Hhm... - o Sr. Arantes olhou para o relógio em seu braço e viu que ainda tinha cinco minutos sobrando antes de sair para resolver as questões políticas, então não demonstrou preocupação ao retroceder o olhar para Ruan - Está difícil?

- Difícil? De maneira alguma. É só uma questão de tempo e...

- Tempo, é, eu não tenho muito tempo - mostrou um sorriso fantasioso e tocou nos ombros do detetive para acrescentar alguma coisa mais, quando seu corpo tinha pressa em se mover - Mas qualquer coisa que conseguir, por favor, me avise.

Ruan não teve tempo de responder, o Sr. Arantes logo se despediu e desceu a escada. Ruan não queria ter dito nada mesmo. Então andou até a porta do quarto dos senhores Arantes e escondido, espionou a Sra. Arantes pondo dinheiro dentro de um envelope branco, supostamente era o pagamento aos empregados da mansão; depois ela pegou outro envelope, porém, nesse acrescentou mais algumas notas de dinheiro, ato que Ruan não entendeu.

- E esse aqui é daquela mulamba da Tayná - disse a Sra. Arantes, fechando o envelope e o deixando separado dos demais - Até quando precisarei fazer isso?

Ela pegou os envelopes nas mãos, só não o de Tayná, aquele permaneceu encima da penteadeira. Ao perceber que ela ia deixar o quarto, Ruan se escondeu rapidamente por trás de uma pilasta com um jarro de flores do outro lado do quarto e esperou a Sra. Arantes descer a escada para assim segui-la. Ela parou no primeiro salão e Ruan ficou escondido no corredor direito; ela trocou poucas palavras com o mordomo e ele foi até o salão de janta e depois cruzou novamente o primeiro salão e saiu até os jardins. Instantes depois, surgiram todos os empregados para receberem seus salários daquele mês, exceto Tayná, ela não apareceu.

Depois de ter pago a todos ali, a Sra. Arantes subiu a escada e voltou para o quarto, até lá Ruan a seguiu e ficou no mesmo esconderijo, porquanto Tayná subia a escada e também entrava no quarto. Uma vez que as duas estavam lá dentro e a porta foi fechada de chave, Ruan se aproximou e encostou o ouvido para conseguir escutar o que diriam.

- Veja, eu estou te pagando o certo - a voz era da Sra. Arantes -, então vê se não abre esse bico!

- Já não dei minha palavra? - dessa vez quem falou foi Tayná.

- Eu não quero sua palavra, quero seu silêncio. E se aquele detetive demente te perguntar alguma coisa a mais... Ai de você se contar a ele!

- Sim, senhora.

- Agora vá.

Ruan se afastou da porta e pulou para trás da pilasta, então Tayná saiu do quarto e desceu a escada.

- Então as senhoritas me escondem um segredo? - dizia Ruan, com um sorriso marrento no lado da boca - Isso está sendo mais divertido do que eu pensei que seria.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 21/09/2016
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