~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XXXV

Foi uma surpresa em tanto para o jovem Thiago o detetive ter descoberto seu segredo de forma tão engenhosa e experiente! Tanto que não teve nem como negar que era realmente verdade.

- Então pode me contar isso melhor? - perguntou o detetive a Thiago.

- Bem, a verdade é que eu encontrei o violino na casa em que vivia minha avó, quando fui com meu pai buscar algumas coisas dela lá - contava Thiago - Eu fiquei tão maravilhado com o violino que quis trazê-lo para cá, então o coloquei dentro de uma mala e o trouxe sem ninguém saber que era um violino. E como meu avô Wagner havia me ensinado a tocar o instrumento nas vezes em que esteve aqui, eu passei a ensaiar escondido no porão. E toda Quarta-feira eu tirava a mala com o violino de lá e levava para o quarto, sendo que depois de Tayná fazer a faxina na Quinta, eu voltava com a mala para o porão.

- Certo... E a quem você acha que pertencia o violino?

- Suponho que pudesse ser de meu avô Wagner - Thiago deixou o olhar se perder na estante de livros - Ele deve ter deixado com minha avó, ou... Não sei.

- Ok - Ruan rascunhou algo no caderno e sublinhou algumas palavras.

- Você não vai contar a meu pai sobre o violino, vai? - indagou ele, com um semblante aflito, fitando o detetive - Ele iria odiar saber o que escondo.

- Se eu achar que é necessário... - disse Ruan, sacudindo uma vez os ombros e olhando de lado, ao passo que Thiago o contemplava com temor - Mas não se preocupe, ainda tenho muitas coisas mais a desvendar por aqui. Acredite, você não é o único que esconde um segredo nessa mansão.

~*~

Ruan estava diante do espelho de seu quarto, terminando de se trocar, havia acabado de tomar uma ducha; já tinha vestido a calça, então pôs a camisa, uma de cor branca; abotuou-a, escolheu uma gravata verde com detalhes brancos, depois buscou no armário um colete, selecionou dois, na mão direita um preto e na esquerda um cinza; encostou um e depois o outro na camisa olhando para o espelho, indeciso de qual dos dois usar. Sempre optava pelo preto, então talvez fosse hora de experimentar o cinza... Mas ele gostava tanto do preto!

- Cinza, preto, cinza, preto... - ele brincava com os coletes, até se decidir de vez - Preto. Não! Cinza.

Então pôs o colete cinza e viu como tinha lhe caído bem e combinado com a gravata que escolheu. Passou o pente nos cabelos loiros, penteando-os para trás, se perfumou e sentiu que finalmente estava pronto para abrir aquela porta, descer aquela escada e... Voltar para o escritório. Só de pensar que iria se enfiar naquela pequena sala abafada e desprezada outra vez, seu espírito repentinamente desanimava e os ombros caíam, após um sopro enfatigado.

Fechando a porta de chave ao abandonar o quarto, Ruan andou até a escada e quando estava próximo às grades, ele viu Thalia no meio da escada a falar com sua irmã Celina.

- Celina, me diga a verdade - dizia Thalia -, você mexeu na minha bolsa?

- Garanto que não, Lia! - exclamou Celina, tentando se mostrar verdadeira - Nem sei que bolsa é essa!

- Aquela que levei para a casa da tia Madalena. Eu tinha guardado nela a fotografia que você me trouxe e quando olhei outra vez, ela já não estava lá!

Thalia resolveu não dizer mais nada quando ergueu o rosto e viu Ruan descer os degraus;

- Senhorita Thalia - saudou-a cordialmente.

- Detetive Gaspar - ela respondeu com um cauteloso meneio da cabeça para assentir.

- Poderia se dirigir ao meu escritório? Eu tenho algo muito urgente a tratar com a senhorita.

- Comigo? - ela franziu o cenho.

- Sim - disse à medida que descia o resto da escada e vacilou no penúltimo degrau para olhar para trás - Estarei te esperando lá.

Ele terminou os degraus e dobrou o corredor, ao passo que Thalia não continha a apreensão por ouví-lo citar a palavra "urgente" e quando percebeu, Celina já havia evaporado dali. Ela até pensou em buscar pela irmã e lhe refazer as mesmas perguntas até conseguir saber a verdade ou ser convencida de que a pobre menina deveras não tinha pegado a fotografia de sua bolsa, mas o receio do que o detetive poderia ter a tratar de tão urgente com ela lhe conduziu direto para o escritório dele.

- Aqui estou - ela disse, aparecendo na porta da pequena sala e chamando a atenção do detetive.

- Que bom - falou Ruan, mirando nela - Se aproxime!

Thalia puxou profundamente o ar e soprou-o, para entrar e se aproximar da escrivaninha.

- O que tem de tão urgente para me contar?

- Nada de urgente... Só disse aquilo para que você não deixasse de vir - Ruan deu uma risada brincalhona, mergulhando na profundidade dos olhos de Thalia, para ver como ela receberia aquelas palavras.

- Então o que deseja? - Thalia perguntou seriamente, sem demonstrar ter encontrado graça no que disse Ruan.

- Sente-se, por favor - apontou para a cadeira vaga, contudo Thalia ignorou o objeto ao seu lado e persistiu em não mover-se. Portanto, Ruan resolveu sair de seu lugar para puxar a outra cadeira e pedir novamente que Thalia se sentasse e assim então ela fez - Por favor, seja rápido e diga por que me chamou aqui.

- Pois bem, direi: te vi muito agitada a perguntar à sua irmã se ela havia mexido em sua bolsa e logo mais a senhorita explicou que certa coisa tinha sumido dela. Então eu quis saber... - Ruan baixou a cabeça e esticou o braço, puxou a gaveta da escrivaninha e retirou a fotografia recuperada, mostrando-a para Thalia - Era isso que procurava?

Ao se deparar com a foto na mão de Ruan, Thalia esticou os olhos com demasiado espanto; sentiu um vento gelado passar pelo peito e o corpo adormecer. Fez como ia dizer algo, mas não soube o que diria.

- Entendo a sua situação - falou Ruan, com um dissimulado sorriso -, deve ser realmente difícil estar procurando por algo e não poder dizer a ninguém. Também imagino o que possa estar se passando em sua cabeça agora... Deve estar pensando no que falar e se deve.

Ele levantou o corpo e inclinou-o para frente, pressionou as mãos contra a madeira do móvel, enquanto encarava Thalia com severidade.

- Thalia, chega de mistérios, vamos abrir o jogo - dizia ele - É hora de tirar as cartas da manga e ponhá-las na mesa.

- Me desculpe, mas, não sei o que está querendo dizer - a voz de Thalia saiu tão abalada que as palavras se repartiam tal como um quebra-cabeça.

- O que estou dizendo é que, algo me diz que certas coisas estranhas que têm acontecido nessa mansão, são obras suas.

- O quê? Como pode me acusar assim? E sem nem ao menos ter provas? - ela também se colocou agilmente de pé e lançou um olhar impetuoso para Ruan.

- E quem disse que eu não tenho provas?

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 03/10/2016
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