ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

Diante de mim tem esse sujeito , barba por fazer , olhos injetados e lacrimejantes . O cheiro que vem dele me persegue . Ajeito o cabelo na vitrine de uma loja de roupa intíma feminina as duas da manha . Não ajuda muito . O dia ? Me sentiria melhor se fosse sexta , mas tem cara de terça feira . Quando penso em começar uma discussão com o tal sujeito que não para de me encarar piedosamente , com olhos de cachorro sem dono , olhos de fome e um pingo de esperança nos homens , quando abro a boca para dizer o primeiro : vai te foder ! Noto que sou eu ali parado arrumando a cinta para segurar a calça . Paula esta do meu lado , me acha um cara incrível . Ela é incrível , toda insegura e cheia planos . Um dos seus planos sou eu . É um plano tão bom quanto plantar bananeira na beirada de um prédio de 50 andares . Ela acha isso libertador . Libertador é a palavra que ela usa . E deus sabe , eu morreria por essa mulher . Porem sou do tipo desajeitado com armas . Me assusto com o barulho delas , não gosto de sangue . E no amor você mata ou morre . Não tem muito pra onde correr , tem o perfume natural das coisas que te faz lembrar de um abraço quentinho no inverno em meio aos acordes que estouram das caixas acústicas de uma banda nem tão boa assim . Mas que , naquele momento e em muitos outros que você vira a se lembrar sera a melhor música do mundo para a ocasião .

- Você está muito magro – Paula me diz . E puxa minhas calças com mais força que pensei que ela tinha .

EU me viro, e admiro seu olhos. Admiro suas sardas sob a luz do poste , a pele macia dos braços, sua timidez venenosa que poluiu meu coração com a dor insuportável de um dia eu ter de viver sem ela .

Continuamos seguindo em frente , subindo o centro da cidade deserto , meu carro logo ali , um bom carro ainda sendo pago , carro no qual tentei ensinar Paula a dirigir , mas ela é tão desprovida de reflexos que suspeito que quando criança tenha batido a cabeça contra a parede algumas vezes .

- Amor – Paula me diz baixinho ao ouvido , se sinto o cheiro da bala de cereja em sua boca – tem um sujeito atrás de nos .

Eu me viro , tem um sujeito de cabeça baixa , caminha de cabeça baixa fumando um cigarro .

- E dai ? - Eu pergunto a Paula .

- Estou com medo – Ela diz .

- Te prometo , ele não te fara mal algum .

- Mas …

- Mas o que ?

- Tem algo nele .

Me viro mais uma vez , o sujeito continua caminhando . Veste preto . Um terno esporte e calça jeans preta . Camisa de botões , os dois próximos do pescoço abertos . Seus cabelos lhe caem sobre o rosto , a fumaça escapa de sua boca .

Meu coração . Posso senti lo . Bate forte . Parece que vai arrebentar minhas costelas .

- Amor – Digo a Paula , continuamos andando , ela coloca a mão no meu peito , como ela sempre sabe o que estou sentindo ? - Eu te amo ..

Digo , ela sorri , os dentes meio tortos na boca , eu amo seus dentes tortos .

- O que ? - Diz ela .

- Eu disse que te amo .

- Eu também te amo , amor . Mas o que .. você parece nervoso .

Me viro mais uma vez . O homem continua caminhando , segura o cigarro nos dedos da mãos esquerda .Não consigo ver seus olhos . Dizem que carregam a dor , o inesperado , a surpresa .

Paula e eu paramos . Eu Paro , seguro seu braço , lhe dou um beijo , a luz sobre nos pisca . Paula retribui o beijo, mas busca se desvencilhar dele enquanto quero mais, um último do qual possa me lembrar .

- Paula .. espero que entenda isso …mas preciso saber … preciso ter certeza .

Esta assustada . O homem para a quatro metros de nos dois . É ele . Chegou a hora . Com pode ser tão frio ? Você ouve as histórias , escuta sobre nas vielas , mas é muito pior do que dizem . É um homem sem sombra , Paula pressente o perigo , quer me puxar , tenta correr mas peço para esperar mais um pouco .

- Paula .. eu te amo . Te amo mais que tudo , mas .. mas preciso saber se você sente o mesmo .

- Do que está falando ?! - Diz Paula , puxando suas mãos das minhas .

- Espero que você sinta dor , espero do fundo do meu coração que você sinta dor , que se lembre desse momento para sempre …

O homem caminha , vem em nossa direção , solto os braço de Paula , ela se distancia alguns passos enquanto fico parado , encarando o sujeito de preto antes das minhas pernas amolecerem , algo morno vasa de mim , a camiseta que visto gruda no meu corpo como se eu estivesse debaixo do chuveiro de roupa . Paula .. posso ouvi la chorando. Quando meu corpo cai de lado , sinto suas mãos no meu rosto , o homem parado em pé ao nosso lado , Paula coloca minha cabeça sobre seu colo , grita , chora como nunca a vi chorar antes .

E fico tão feliz . Sua voz começa se distanciar como se meus ouvidos estivessem cheios de algodão molhado . Não vi aquela luz , em nenhum momento vi aquela luz que todos falam . Só vi o homem caminhando de volta da direção que veio , sendo engolido pela escuridão enquanto meus olhos fechavam, minhas palpebradas pesavam... o anjo de preto sem asas .

El M…

05/10/2016

16:32m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 10/10/2016
Código do texto: T5787186
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