~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XLV

Perplexa estava de pé a Sra. Eloise, com os olhos fitos na figura do detetive em sua frente. Era certo que ela não o esperava ali de nenhum modo.

- O que significa isso, Thalia? - indagou ela num timbre de revolta, ao jogar o olhar para a neta - Eu te pedi para não trazer ninguém aqui e você me aparece com o detetive? Como pôde...

- Não a culpe, senhora Eloise - disse rapidamente Ruan, tomando a frente para defender Thalia antes que ela mesma pudesse o fazer -, fui eu quem pediu para Thalia me trazer aqui, pois descobri que a senhora está viva.

- Então já deve saber o que aconteceu, pois suponho que minha neta o tenha contado - ela não mudou o timbre da voz.

- Sim, contou, mas eu não acreditei. Digo, acho que a senhora não foi num todo sincera, que não contou a versão verdadeira da história.

- Claro que contei!

- Senhora Eloise - Ruan deu um passo à frente para chegar mais perto dela, ao passo que essa o lançava um olhar ácido -, peço que seja verdadeira comigo, pois não estamos aqui tratando de uma simples época de sua vida, mas de um acontecimento que, se foi como tenho em desconfiança, é muito sério e merece atenção! Thalia não queria me contar nada sobre a senhora, mas reconheceu que continuar escondendo isso talvez não fosse a melhor opção, porquanto era um segredo que envolvia sua família! A senhora está viva aqui, mas todos acreditam que morreu naquele acidente de bote... Crer que isso seja algo bom para os seus carregar por toda a vida? Uma mentira? Um engano?

- Sei que não é - disse a Sra. Eloise, cabisbaixa.

- Agora me diga: tem algo que a senhora ainda não revelou ou que inventou sobre aquele acidente?

A Sra. Eloise levantou a cabeça, olhou para Thalia que a observava atentamente e depois para Ruan; soprou um ar de entrega antes de responder.

- Sim, tem - ela respondeu, no que Thalia estendeu os olhos, abismada - Não contei a verdade, ela é muito diferente do que disse à Thalia.

- E qual é essa verdade?

- Contarei! E se preparem para o que vão ouvir, pois serei bem sincera dessa vez.

~*~

O xofer já tinha tirado um cochilo dentro do automóvel estacionado e despertado inquieto, achando que havia dormido demais, contudo ainda esperou encostado no carro o detetive e Thalia saírem da casa da Sra. Eloise, mas nenhum sinal deles e viu que já passava das 17:30 em seu relógio de pulso. Foi quando finalmente a porta da casa se abriu e quem saiu primeiro foi Thalia, com um semblante tão pálido que parecia ter visto uma assombração e seus passos eram compridos; logo atrás estava Ruan, tentando acompanhá-la.

- Senhorita Thalia? Aconteceu alguma coisa? - perguntou preocupado o xofer, notando que os olhos de Thalia estavam cheios de água.

Ora Thalia nada disse, somente fitou o xofer, com as mãos trêmulas na porta aberta do carro e entrou, sentando-se no banco ao lado da janela. Ruan se aproximou do carro, mas antes de entrar, o xofer o abordou.

- O que aconteceu, detetive? O que foi? - perguntava o xofer.

- Não tem como explicar agora, Hudson - disse Ruan, à medida que sentava no banco ao lado de Thalia - Por favor, nos leve de volta para a mansão.

- Por que não posso ficar com minha avó? Por que tenho que voltar para aquela casa? - dizia Thalia, com a voz muito abalada e olhando para Ruan; depois jogou o olhar para o xofer no lado de fora - Hudson, me leve para um lugar bem longe onde não haja mais ninguém!

- Thalia, não podemos fugir da realidade - Ruan dizia, colocando sua mão esquerda sobre a mão direita de Thalia que estava repousada na coxa -, mas precisamos saber que os dias maus não durarão para sempre.

O xofer fechou a porta para Ruan e fez a volta no carro para entrar e sentar-se no banco do motorista. Mas antes de ligar o carro, ouviu Thalia começar a chorar e virou-se para fitá-la.

- Como podem existir pessoas com o coração tão sujo, tão... Tão cheio de ódio? - as lágrimas deslizavam pelas maçãs do rosto de Thalia e caíam em seu colo, como pulavam para um abismo; ela pôs as mãos contra a face enquanto chorava e Ruan a fez deitar a cabeça em seu peito para confortá-la e fez um movimento com a cabeça para dizer ao xofer que já podia levá-los para a mansão.

Chegando lá, ao descer e contemplar o exterior da mansão, Thalia hesitou em dar mais um passo, no quando Ruan se colocou de frente para ela e tocou com as mãos seus braços, olhando fundo em seus olhos.

- Você precisa ser forte - disse Ruan.

- Não sei se vou conseguir nem olhar para ela - falou Thalia, com a respiração profunda.

- Finja que nada aconteceu, que você não soube de nada! Sei que é difícil, mas é preciso ser firme.

- Está bem.

Então os dois caminharam até a porta de entrada da mansão e tocaram a campainha e o mordomo abriu a porta para eles. Logo ao vê-los chegar, o Sr. Arantes levantou-se do sofá onde estava conversando com a Sra. Arantes e fixou os olhos em Thalia.

- Filha, onde você estava até essa hora? - perguntou o Sr. Arantes - Eu e sua mãe estávamos preocupados!

Entretanto, Thalia não o respondeu, parecia paralisada e com a voz engasgada na garganta. Vendo pois que ela nada diria, Ruan tomou a frente para falar por ela.

- Nós fizemos um passeio pela cidade - disse Ruan, em farsa, olhando uma vez para Thalia.

- Com licença, vou subir para meu quarto, estou um pouco cansada - falou Thalia, com frieza nas palavras, lançando um olhar à mãe sentada no sofá e a Ruan; subiu então as escadas para ir para o quarto.

- Eu também subirei - Ruan olhou para o Sr. e para a Sra. Arantes antes de subir a escada.

Ao chegar no andar superior, Ruan deveria ter ido para seu quarto, mas ele reteu os passos no início do corredor, pois viu que Thalia parara de frente à porta de seu quarto, que agora era o segundo do corredor, um pouco antes do de Ruan; ela tinha a mão firme na maçaneta da porta e o rosto cabisbaixo. Ruan se aproximou com passos mansos de Thalia, ela percebeu sua aproximação e se virou devagar para ele.

- Ainda não consigo acreditar no que ouvi de minha avó - ela disse, menosprezando o rosto de Ruan e deixando o olhar cair até o chão.

- Eu sinto muito por tudo isso - Ruan falou, pondo as mãos nos bolsos e demonstrando no cenho lamentar deveras - Se quiser, eu posso deixar para revelar tudo aos demais da mansão outro dia. Se bem que não sei em que isso ajudará, mas...

- Não - ela ergueu o rosto para fitá-lo -, a verdade já ficou oculta por muito tempo. Faça o que deve ser feito o quanto antes. Agora... Eu gostaria de ficar sozinha.

- Claro - Ruan se afastou um pouco da porta, à medida que Thalia a abria - Mas caso precise de algo... Não sei, qualquer coisa, eu estarei no meu... Bom, você já sabe.

- Em seu escritório - Thalia mostrou um frágil sorriso nos lábios.

- Sim - Ruan confirmou sorrindo.

- Obrigada.

- Por nada...

Thalia fechou devagar a porta e Ruan deu de ombros, mas apareceu a menina Celina com uma boneca nas mãos e ia bater na porta do quarto de Thalia, só não o fez porque Ruan a impediu.

- Princesa, sua irmã está com dor de cabeça - disse Ruan, segurando os ombros da menina -, melhor deixarmos ela descansar.

- Mas então, quem vai brincar de boneca comigo? - a menina perguntou, mirando na altura do rosto de Ruan.

- Bem - ele olhou para os dois lados e esfregou a nuca -, eu não posso brincar de boneca com você, mas podemos fazer outra coisa.

- O quê?

- Gosta de xadrez? - Ruan perguntou e pegou na mão de Celina, foi caminhando com ela para fora do corredor, enquanto conversavam.

- Xadrez? - Celina indagou, franzindo a testa.

- É! Sabe, aquele jogo de tabuleiro com cavalos, rei, rainha...

- E tem princesas também?

- Anh... Não. Mas podemos dar um jeito.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 17/10/2016
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